A vida não está em ordem alfabética como há quem julgue. Surge… ora aqui, ora ali, como muito bem entende, são migalhas, o problema depois é juntá-las, é esse montinho de areia, e este grão que grão sustém? Por vezes, aquele que está mesmo no cume e parece sustentado por todo o montinho, é precisamente esse que mantém unidos todos os outros, porque esse montinho não obedece às leis da física, retira o grão que aparentemente não sustentava nada e esboroa-se tudo, a areia desliza, achata-se e resta-lhe apenas traçar uns rabiscos com o dedo, contradanças, caminhos que não levam a lado nenhum, e você continua insistentemente no vaivém, que é feito daquele abençoado grão que mantinha tudo ligado… até que um dia o dedo resolve parar, farto de tanta garatuja, você deixou na areia um traçado estranho, um desenho sem jeito nem lógica, e começa a desconfiar de que o sentido de tudo aquilo eram as garatujas. E que belas garatujas! O trecho acima é de “Tristano morre” (Rocco, tradução de Gaetan Martins de Oliveira), romance em forma de monólogo de um moribundo que o escritor italiano Antonio Tabucchi (foto) lançou em 2004. Tabucchi morreu ontem, aos 68 anos,…