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‘A ferida de Kafka’, ensaio digital de Will Self: não perca
Pelo mundo / 19/11/2012

E assim como o casamento entre Kafka e os pós-graduados parece ter certo grau de necessidade, o casamento entre Kafka e a internet tem o ar disfuncional e pesadelar de uma união arranjada entre duas partes que se ignoram. O próprio Kafka sentia uma repulsa visceral à vida doméstica a dois, desviando o olhar dos trajes de dormir de seus pais dobrados sobre a cama; mas quão pior do que isso será o que temos aqui, o aburguesamento do nada? Acabamos por ser os conselheiros matrimoniais, sentados do outro lado do vidro que nos permite ver sem sermos vistos, observando a replicação incessante e assexuada de blog após ensaio após atualização, uma ordem simbólica dando lugar à seguinte enquanto a longa sombra de Kafka filtra-se sinistramente pelo vidro da tela que você está encarando no momento. Em sua “Carta ao meu pai”, Kafka escreveu: “Casar, começar uma família, aceitar todas as crianças que vierem e ajudá-las nesse mundo inseguro é o melhor que um homem pode fazer”. E assim descobre-se que esses temas espúrios são seus únicos temas. E se os precursores de Kafka são Zenão, Lewis Carroll, Lord Dunsany, então seus sucessores são estes: os cookies não comestíveis que…