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As lições da senhora Ros, a ‘pior escritora do mundo’
Pelo mundo , Vida literária / 30/01/2013

É possível que a romancista e poeta Amanda McKittrick Ros (foto), uma professora nascida em 1860 na Irlanda do Norte, não tenha sido a pior escritora do mundo. Com certeza foi a escritora ruim que mais sucesso fez justamente pela ruindade de sua literatura. Esbarro em sua história fascinante no ebook Epic fail (Fracasso épico), de Mark O’Connell, que teve um trecho (em inglês) reproduzido há poucos dias na revista eletrônica Slate. O surrealismo involuntário da prosa absurdamente artificiosa de Ros já foi apontado por sua legião de admiradores-detratores – com hífen porque são as mesmas pessoas, a admiração sendo no caso uma forma de gozação. A novidade do enfoque de O’Connell é lançar a hipótese de que Ros também tenha inventado sem querer o pós-modernismo ou pelo menos um de seus traços mais marcantes, a elevação irônica da ruindade galopante a uma forma de arte. Não se trata de fenômeno isolado. Ros está para as letras como Ed Wood está para o cinema e Pedro Carolino, autor do hilariante “Novo guia da conversação em portuguez e inglez” (Casa da Palavra), para os estudos linguísticos. Mestre insuperável da purple prose, como os anglófonos chamam o estilo empolado típico da subliteratura,…

Sylvia Plath como ‘chick lit’ e outros links

“A redoma de vidro” (The bell jar), o único romance da poeta americana Sylvia Plath, foi lançado sob o pseudônimo de Victoria Lucas em 1963, poucos dias antes de sua morte. Está completando meio século, portanto, e para comemorar a data o editor teve a ideia de relançá-lo embalado na inacreditável capa chick lit aí ao lado. Como se Sylvia Plath e Sophie Kinsella não fossem antípodas, mas irmãs literárias. Tempos realmente estranhos: um dia vamos rir disso tudo? * Em compensação, como os tempos estranhos são os mesmos em que a informação flui com liberdade inédita, o áudio do famoso discurso de paraninfo feito por David Foster Wallace em 2005, chamado “Isto é água” (e lançado recentemente no Brasil na coletânea de ensaios “Ficando longe do fato de já estar meio que longe de tudo”), pode ser ouvido na íntegra, em duas partes, aqui. * Para mim, a oficina foi essencial para, digamos, começar a escrever. Porque, na Oficina, uma das maiores revelações foi a de que o apelo sensorial é um dos maiores méritos que um texto pode ter. Dito assim – e de repente eu me leio –, parece uma platitude, uma banalidade, uma ociosidade. Mas, dentro…

Google e o Cérebro
Pop de sexta / 25/01/2013

httpv://www.youtube.com/watch?v=1vxIveocxjM Hoje o Pop de Sexta abre mão da leveza para falar de um documentário sério que estreou esta semana no Festival de Sundance e vem ganhando críticas positivas. Google and the World Brain, de Ben Lewis, narra com uma multiplicidade de pontos de vista a complicada história do projeto de escanear todos os livros do mundo, lançado pelo Google em 2002, e da resistência que ele vem enfrentando. O trailer acima começa com H.G. Wells discursando para a câmera: “Não há hoje nenhum obstáculo prático de qualquer tipo à criação de um índice oficial de todo o conhecimento, ideias e realizações humanas, ou seja, à criação de uma memória completa e planetária para toda a humanidade”. No caso, hoje era 1937, quando o famoso escritor inglês de ficção científica lançou seu ensaio World brain, que explica o título do documentário. Wells acertou quanto à ausência de obstáculos tecnológicos, mas o fato é que eles se multiplicam no campo jurídico – para não mencionar o ideológico. O historiador Robert Darnton, nome de maior peso intelectual na frente de oposição à ambição do Google, aparece no documentário dizendo mais ou menos o que disse em Paraty na Flip 2010: “Estão criando…

Os blurbs e os blurbs de John Updike
Pelo mundo / 23/01/2013

Blurb não tem, que eu saiba, uma tradução concisa em português. É aquele texto curtinho elogioso ao autor, em geral composto de uma ou duas frases e às vezes de uma única palavra, que aparece na capa ou na contracapa de um livro. Usado com alguma parcimônia no Brasil, é praticamente obrigatório no mercado americano. Quase sempre é extraído de uma resenha publicada, mas também existem os de encomenda. Blurb que se preza traz uma assinatura prestigiosa de escritor ou crítico colada na traseira, embora o elogio também possa ser referendado só pelo nome da publicação nos casos – não muito raros – em que este dê mais peso à louvação que o do crítico meio obscuro. Como se vê, trata-se de um gênero que tem mais a ver com promoção e marketing do que com literatura ou crítica literária. O próprio nome é pejorativo desde a origem e consta que foi popularizado nos primeiros anos do século 20 por um humorista, Frank Gelett Burgess. Sua credibilidade é baixa por uma razão simples: é possível recortar um blurb bastante decente de praticamente qualquer resenha. Mesmo que seja negativa, e ressalvados casos extremos de demolição da obra, uma apreciação crítica séria…

Atenção, letrados do Brasil: está lá fora um Coelho
Vida literária / 21/01/2013

Em artigo publicado no caderno Ilustríssima de ontem, Fernando Antonio Pinheiro, professor de sociologia da Universidade de São Paulo, retoma com convicção uma pauta de sucesso emergente entre certos acadêmicos: a tentativa de trazer Paulo Coelho (foto) para o “domínio culto da literatura”, do qual “o escritor mais lido no mundo” teria sido excluído numa operação em que “a desqualificação [é] ostentada como troféu pelas camadas letradas”. Pinheiro recorre a um famoso ensaio do poeta José Paulo Paes sobre a incipiência da literatura de entretenimento no Brasil para dizer que Coelho é vítima de uma visão estreita e arbitrária do que cabe no campo literário, uma “definição literária do literário, típica do sistema brasileiro, que nega assento ao artesão competente no âmbito do entretenimento”. O artigo começa com a aplicação de cascudos. Escritores que têm uma fração ínfima do sucesso comercial do autor de “O alquimista”, mas são considerados “sérios”, Milton Hatoum e Marçal Aquino teriam tratado Coelho como invisível ao falar da pouca repercussão internacional da literatura brasileira num debate de 2010. Isso, afirma o articulista, seria “bastante representativo dos contornos que ganharam aqui [no Brasil] as relações entre literatura e mercado”. Escreve Pinheiro que… …os debatedores [Hatoum e…

Rubem Braga e a borboleta
Vida literária / 18/01/2013

Rubem Braga faz cem anos e recebe as honras merecidas como o maior cronista da literatura brasileira. O título é informal, mas justo. Machado de Assis? Não lhe falta primazia em outros gêneros, acredito que não se incomodasse de olhar o mais carioca dos capixabas de baixo para cima nesse quesito do monumental desfile do Grupo A das letras auriverdes. Mas então estamos falando de um concurso, de uma competição? Talvez seja meio constrangedor admitir, mas é bem disso que estamos falando. O cronista que estaria completando um século se tivesse seguido os passos de Niemeyer – em vez de morrer como um de seus queridos passarinhos em 1990 – é posto como todo mundo sob o duro escrutínio da posteridade. Os jurados somos nós, leitores, críticos, acadêmicos, jornalistas. Seriíssimos, sobrancelhas franzidas, pesamos sua obra, ponderamos os efeitos da passagem do tempo e rabiscamos a nota num papelucho. Chega o dia da apuração e descobrimos, a maioria sem surpresa, que Rubem Braga leva dez, nota dez! A festa na quadra não tem hora para acabar. Machado, nove vírgula nove. Sabino, nove vírgula sete. Etc. É aí que está o problema, aliás insolúvel. A louvação do que deve ser louvado é…

150 preocupações da ciência sobre o futuro da humanidade
Mercado , Pelo mundo / 16/01/2013

Após duas semanas de férias em que não tive preocupação maior que a de renovar o protetor solar depois de cada mergulho na água morna de uma praia do Nordeste, dei um jeito de, em poucas horas, reabastecer até a boca o reservatório de ansiedade: caí de cara na edição 2013 da imperdível enquete (em inglês) que a mesa-redonda eletrônica Edge promove todo início de ano com nomes de destaque do universo científico, tecnológico, artístico, jornalístico e editorial. O tema desta vez parece ter sido talhado para me trazer de volta ao mundo interconectado e profundamente preocupado em que vivemos: “Com o que deveríamos estar preocupados?”. A lista de respostas possíveis para tal pergunta é bem longa, claro, mas isso não é problema para a Edge: mais de 150 intelectuais são convocados a dar sua opinião em ensaios mais ou menos sucintos. No mais curto deles, o cineasta Terry Gilliam gasta duas linhas para dizer que desistiu de se preocupar com qualquer coisa, mas a maioria leva a encomenda a sério e expõe suas angústias sobre o futuro da humanidade em meia dúzia de parágrafos densos. Há especulações preocupadas para todos os gostos. Do provável emburrecimento da espécie à opinião…

ATÉ BREVE
Posts / 02/01/2013

Deixando a todos meus votos de um 2013 feliz e cheio de bons livros, dou uma pequena folga aos leitores. O Todoprosa voltará a ser atualizado no dia 16 de janeiro. Até lá!