O segredo que Mark McGurl revela em ‘The Program Era: Postwar Fiction and the Rise of Creative Writing’ é o quanto a riqueza da cultura americana do pós-guerra (e aqui me atenho ao romance, por motivos que serão explicados) é produto de um sistema universitário e, o que é pior, do programa de escrita criativa como parte institucional e institucionalizada desse sistema. Não se trata apenas de uma questão de documentação e pesquisa histórica, abundantes no livro, mas de uma questão de vergonha: os escritores americanos modernos sempre gostaram de se imaginar livres do suplemento artificial à vida real que é a universidade e, sobretudo, dos cursos de escrita criativa. Quem sabe faz, quem não sabe ensina. Basta pensar no elogio que intelectuais europeus como Sartre e Simone de Beauvoir fizeram aos grandes escritores americanos que não deram aulas nem frequentaram a universidade, mas trabalharam como motoristas de caminhão, garçons, vigias, estivadores, enfim, em tudo menos como intelectuais, registrando “o fluxo constante de homens por todo o continente, o êxodo de toda uma cidade para os campos da Califórnia” – e por aí vai. Denso e recheado de provocações, o ensaio “O segredinho inconfessável da América”, do crítico marxista Fredric…