Ia entrar na garagem de seu edifício quando um PM fortão de cabeça raspada fez sinal para que encostasse o carro. Obedeceu, claro. Baixou o vidro da janela. – Boa noite, cidadão. Seu farol está queimado. – É mesmo? – ele fingiu que não sabia, lendo a identificação do homem no bolso do uniforme: sargento Hudson. – Prometo consertar amanhã cedo, sargento. – Mas isso é uma infração, cidadão. Como é que fica? Claro, que coisa mais previsível: o cara queria levar uma grana. Mas não ia levar. Ele não compactuava com corrupção. – Bom, se tiver que me multar… – O que é isso, cidadão, não tem escopo nem determinismo. O senhor é revisor, positivo? O primeiro efeito daquelas palavras foi deixá-lo confuso, depois com medo. Como o sargento Hudson sabia que ele era revisor? Será que os medíocres livros de auto-ajuda e elevação espiritual que garantiam seu sustento, e com os quais se relacionava com envergonhada discrição, tinham deixado alguma marca traiçoeira em sua testa? Confirmou: – Como sabe disso, sargento? O homem riu. – Não precisa se assustar, cidadão. Não vamos causar malefício a si. Provemos a segurança aqui da área, conhecemos todo mundo. Gostaríamos de fazer…