A história do livro como tecnologia – o livro como uma tecnologia revolucionária, de ruptura – precisa ser contada honestamente, sem triunfalismo nem derrotismo, sem esperança nem desespero, como Isak Dinesen nos recomendava escrever. Um grande obstáculo à produção de um relato desse tipo, contudo, é a “heurística da disponibilidade”. Trata-se de um modelo de psicologia cognitiva proposto pela primeira vez em 1973 por Daniel Kahneman, ganhador do Nobel, e seu colega Amos Tversky, que descreve como os seres humanos tomam decisões baseadas em informações relativamente fáceis de lembrar. Como as coisas de que nos lembramos com facilidade são aquelas que ocorrem com frequência, tomar decisões baseadas em amostras que temos à mão parece fazer sentido. O sol nasce todo dia; inferimos daí que o sol nasce todo dia. Um peru é alimentado todo dia; inferimos daí que será alimentado todo dia – até que, de repente, não é. A heurística é ótima até deixar de ser. Lemos um grande número de notícias sobre gatos que pulam de árvores altas e sobrevivem, e desse modo acreditamos que os gatos devem ser resistentes a longas quedas. Notícias desse tipo predominam amplamente sobre aquelas em que um gato cai e morre, como…