Em 1975, ano especialmente feliz para a literatura brasileira, um paulista do interior, descendente de libaneses nascido em Pindorama, lançou seu livro de estreia. O nome do autor, então com 39 anos, era Raduan Nassar. O romance curto e denso com que se apresentava, “Lavoura arcaica”, ganhou reconhecimento da crítica – imediato – e de um público exigente – aos poucos – como um clássico moderno. O que sem dúvida é. Nove anos depois, quando anunciou que estava abandonando a literatura para cuidar de sua fazenda, Raduan tinha publicado só mais uma novelinha, “Um copo de cólera”. Intitulado “Menina a caminho”, o volume também breve que reúne cinco contos, quatro escritos antes de “Lavoura” e apenas um recente, sairia em 1997, pela mesma Companhia das Letras que edita toda a sua obra. Acredito estar dizendo o óbvio ao apontar “Lavoura arcaica”, do qual extraí a cena abaixo, como a obra-prima de Raduan. E também ao alertar quem ainda não conhece o livro (nem viu o filme nele baseado, dirigido por Luiz Fernando Carvalho) para o risco de descobrir nesta seção a revelação de um mistério que preferiria desvendar no tempo certo da leitura. O anseio não é apenas justo, mas…