Molecagem baiana. Capoeiragem pernambucana. Malandragem carioca. “Com esses resíduos”, escreveu o sociólogo Gilberto Freyre, autor de “Casa grande & senzala”, obra clássica sobre a formação da sociedade brasileira, “é que o futebol brasileiro afastou-se do bem ordenado original britânico para tornar-se a dança cheia de surpresas irracionais e de variações dionisíacas que é.” Atenção: o autor pernambucano não estava embriagado pelos vapores de uma grande vitória esportiva quando escreveu isso. O texto é de 1947. Além de ostentar como maior feito internacional um terceiro lugar na Copa do Mundo da França, em 1938, a seleção – algo que hoje parece mais grave – ainda envergava como uniforme uma camisa branca. Ou seja, o “país do futebol” ainda não o era. Hoje, depois de cinco títulos mundiais e da introdução da camisa amarela como um dos mais poderosos ícones da mitologia esportiva em todos os tempos, o problema é outro. Comenta-se pelas esquinas que o “país do futebol” já era. Será? A possibilidade não deve ser descartada. Dentro e fora do esporte, os destroços de potências decaídas entulham a história. Mas é curioso observar como a velha retórica otimista do sociólogo, com suas “surpresas irracionais” e “variações dionisíacas” (uma referência a…