A reedição de “Como aprendi o português e outras aventuras” (Casa da Palavra e Fundação Biblioteca Nacional, 264 páginas, R$ 34,00), coletânea de artigos, crônicas e breves ensaios escritos nos anos 1940-50 por Paulo Rónai (1907-1992), é uma excelente notícia. A edição em formato de bolso traz de volta à circulação um livro tão espirituoso quanto comovente. Vamos direto ao ponto: a paixão pelo português salvou a vida de Rónai. Literalmente. Judeu húngaro, o erudito naturalizou-se brasileiro em 1945 e, em décadas de atividade incessante como professor de línguas, tradutor e crítico literário, retribuiu o favor tornando nosso país mais inteligente e sintonizado com a melhor tradição humanista europeia que ele representava tão bem. Dito assim, o resumo da ópera pode sugerir um livro de tom épico, mas parte de sua graça é ser o oposto disso – bem-humorado, despretensioso e autoirônico como o próprio autor. Grandiloquente é apenas o pano de fundo histórico em que se deu a aventura linguística que mudou a vida de Rónai: quando, aos 32 anos, já poliglota, ele começou a estudar português em Budapeste como um dos desdobramentos naturais de seu interesse por latim, corria o ano de 1939 e a Segunda Guerra Mundial…