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‘Asco’: receita para adorar a pátria pelo avesso
Resenha / 07/09/2013

Um homem que se mudou há quase duas décadas para o Canadá, mas acaba de voltar ao país natal para o enterro de sua mãe, reencontra um velho amigo dos tempos de estudante no bar de uma grande cidade terceiro-mundista. Bebem uísque e batem papo. Ou melhor, até onde nos é dado ouvir a conversa, apenas o recém-chegado fala, fala sem parar. O outro ouve com atenção (a julgar por sua capacidade de reproduzir depois, com riqueza de detalhes, o discurso do amigo, limitando-se a pontuá-lo aqui e ali com “disse fulano”), mas não emite opinião alguma. Não que se saiba. A questão de quem fala o quê – e quem reproduz o quê – é importante por mais de uma razão, como veremos. A primeira e mais evidente: o que aquele canadense adotivo despeja num bloco inteiriço do tamanho de uma novela curta é uma hiperbólica, obsessiva, ultrajante, engraçadíssima coleção de insultos ao país que deixou para trás. Como num catálogo turístico em negativo, nenhum aspecto da terra escapa de ser apresentado como asqueroso: povo, cultura, políticos de direita e esquerda, militares, grandes vultos históricos, clima, culinária, arquitetura, caráter, educação, inteligência, tudo ali representa, segundo ele, o ponto mais…