Em entrevista à seção de livros do “New York Times” (aqui, em inglês), o cantor e compositor Sting se sai com uma boa tirada quando lhe perguntam se é leitor de livros de autoajuda: “Livros de autoajuda? Isso não é um oxímoro?”. Gostei dessa ideia de que livros de autoajuda podem ser, mais que um gênero besta, um gênero cujo próprio nome exprime uma contradição em termos, proposição absurda em que um elemento nega o outro. Como, para citar o clássico exemplo sacado por Groucho Marx, “inteligência militar”. Ora, se é livro, não pode ser de autoajuda – e vice-versa. Na melhor das hipóteses será de autoatrapalhação. É claro que há nisso um tanto de exagero ditado pelo gosto: se alguém acredita que se autoajuda lendo autoajuda, é provável que se autoajude mesmo, e não há nada que Sting possa fazer para mudar isso. Nem eu. O que eu posso fazer é me lembrar vividamente, tendo a frase do ex-líder do Police como madeleine, de um tempo remoto em que o trio inglês ainda nem existia e Clarice Lispector era para mim o exato oposto da autoajuda. Caramba, como eu tinha medo daquela mulher. Estou falando da minha adolescência. Uma…