“Ouviram dizer que a concisão é uma virtude e consideram conciso quem se demora em dez frases breves e não quem domina uma longa”, escreveu o argentino Jorge Luis Borges (foto), ele mesmo um mestre da concisão, cultor privilegiado da brevidade do conto. Leio isso e imagino um romance de 800 páginas em que se descreve à exaustão, por exemplo, uma única noite na vida de um personagem. As frases são todas curtas, soluçadas, mas ninguém seria louco de chamar o livro de conciso. Digamos que esse personagem principal não seja desinteressante, pelo contrário: é um médico, um plantonista de pronto-socorro numa grande metrópole latino-americana, de cujas decisões instantâneas – tomadas em meio à mais desoladora precariedade de condições de trabalho – depende muitas vezes a vida das pessoas estropiadas que lhe entram pela porta ao longo da comprida, interminável noite em que o vemos exercer seu desesperado ofício. Nosso romance não se contenta em descrever em detalhes – sempre com frases breves – o estado dos pacientes e o que faz o médico para tentar salvá-los ou aliviar sua dor. O homem sangrava copiosamente. Tinha perdido um olho, que pendia sobre a bochecha. O que houve?, perguntou o médico….