Uma vez que este blog vem reincidindo nos últimos tempos – de forma não planejada e até meio misteriosa para mim, mas indiscutível – na discussão de aspectos técnicos do ofício de escrever, como se fosse uma espécie de oficina online, talvez não seja descabido supor que um texto se encaixe no outro para formar algum tipo de conjunto coerente. Ainda que possa ser cedo para dizer que tipo de conjunto e coerência. Para deixar isso claro puxo um fio do artigo da semana passada: o trecho em que, citando de memória um ensaio da escritora canadense Margaret Atwood, falo da capacidade que tem a literatura de “pintar cenários grandiosos com base em quase nada, a chaminha trêmula de um palito de fósforo passando por grande incêndio”. Quem enfatiza esse mesmo ponto com uma boa tirada é um escritor mineiro que estaria fazendo 88 anos hoje, se não tivesse morrido em 2012: em seu livro “Uma poética de romance” (Rocco), Autran Dourado afirma ser o romancista aquele que “com um tiquinho de pólvora faz uma girândola, com um gritinho apronta um escarcéu”. A ideia que Autran defende nesse trecho – e em todo o livro, uma reflexão sobre os bastidores…