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Escrever e coçar é só começar?
Vida literária / 25/01/2014

Durante muito tempo, mantive neste blog uma seção chamada Começos Inesquecíveis, dedicada a aberturas especialmente brilhantes – sobretudo de romances, embora um ou outro conto tenha comparecido também. (Um desses começos, aliás, faz coro com as palavras iniciais deste post: “Durante muito tempo, costumava deitar-me cedo”, escreveu Marcel Proust na primeira linha de “No caminho de Swann”.) A seção não tinha dia fixo, mas era atualizada com grande frequência por exigência dos próprios leitores, que a transformaram na mais visitada do Todoprosa. Nunca parei para contar, mas imagino que no fim das contas o número de começos contemplados se aproximasse da casa dos três dígitos. A popularidade dos grandes começos da literatura é um tema curioso. Parece existir em nós, leitores, e principalmente nos leitores que também escrevem ou gostariam de escrever, uma crença irracional no poder mágico das palavras de abertura de um livro. Como se elas já contivessem em miniatura tudo o que importa saber, um certo espírito geral da obra. Como se, acertando no começo, o resto viesse naturalmente ao autor. A realidade é mais complicada do que isso. Um bom início tem a responsabilidade de introduzir um certo tom, uma certa voz, e o desafio nada…