O que é um personagem? Vamos aproveitar o espírito questionador para ir mais longe: o que é um romance? O leitor não precisa formular para si mesmo essas perguntas cabeçudas enquanto atravessa “Limonov”, do francês Emmanuel Carrère (Alfaguara, tradução de André Telles, 344 páginas, R$ 44,90). Dificilmente terá tempo para isso, aliás: o premiado livro que romanceia a biografia do escritor, aventureiro e político russo Eduard Limonov, lançado em 2011 por Carrère, um dos principais nomes da literatura francesa contemporânea, é daqueles em que as páginas parecem virar sozinhas, movidas pelo puro prazer da leitura. Mesmo assim, as perguntas ali de cima estarão à espreita por trás das palavras. Lançado no Brasil no fim do ano passado e recebido com frieza imperdoável, “Limonov” conta a história de um personagem que dificilmente caberia numa obra ficcional, um russo alucinado que é a melhor prova do acerto daquela tirada de Mark Twain: “Por que a verdade não seria mais estranha do que a ficção? A ficção, afinal, tem que fazer sentido”. Se um bom personagem fictício deve ser redondo, segundo uma imagem (do inglês E.M. Forster) que pegou, Limonov é um meteorito cambiante e cheio de arestas. Que machucam. Famoso em seu…