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Da arte de procurar no lugar errado

Nas entrevistas que tenho dado sobre “O drible”, meu romance mais recente, é comum que me perguntem – em geral de modo positivo, com admiração – sobre como cheguei à tese de que o estilo brasileiro de jogar futebol só se tornou o que é devido à ajuda involuntária dos velhos narradores de rádio, que com sua mania de embelezar exageradamente os jogos, fazendo “qualquer pelada chinfrim disputada em câmera lenta por perebas com barriga d’água” parecer “cheia de som e fúria”, obrigaram os atletas a fazer “um esforço sobre-humano” em campo para ficar à altura de suas mentiras. Não é tão simples responder a essa pergunta. Em primeiro lugar a tese não é minha: quem a expõe com entusiasmo, “parecendo satisfeito consigo mesmo”, é Murilo Filho, um dos personagens principais de “O drible”. Murilo é um velho e famoso cronista esportivo que, à beira da morte, busca se reaproximar de seu único filho, Neto, com quem brigou há um quarto de século. Trata-se de um excêntrico que Neto suspeita estar gagá e, mais do que isso, um personagem de princípios morais duvidosos (digamos assim, para evitar spoilers). Duvido que algum autor se sentisse confortável de escalar tal figura como…