A proximidade da Copa do Mundo e o fato de que publiquei um romance chamado “O drible” conspiram para tornar a pergunta acima a que mais ouço há meses. Tenho dado respostas múltiplas, como acredito ser uma exigência da questão, que não é simples. Este texto é uma tentativa – provavelmente condenada ao fracasso, mas fracassos também podem ser interessantes – de chegar a uma síntese que o bate-pronto das entrevistas não favorece. Em primeiro lugar é preciso descartar uma tese que encontra razoável apoio e que já vi formulada pelo antropólogo Roberto DaMatta: nossos escritores são elitistas e não admitem se rebaixar a tratar de um tema tão identificado com o povo. O raciocínio me parece furado. Há décadas convivo com um monte de escritores e jornalistas apaixonados por futebol, loucos pelo tema, e se essa fixação não se converteu em um punhado de obras memoráveis acho mais lúcido procurar a razão no oposto do esnobismo – um certo sentimento de intimidação, talvez, diante da gigantesca dimensão popular daquilo que velhos narradores de rádio chamavam de “violento esporte bretão”. Restam outras explicações. Acredito que uma das mais consistentes seja o fato de que o futebol e qualquer outro esporte…