Não é fácil dar conta da sensação – que é sobretudo de um certo vazio, mas eu não estaria exagerando se acrescentasse à mistura notas de luto e desamparo – provocada pela morte de Ariano Suassuna (1927-2014). Não que minha impressão tenha algo de original: é a mesma externada por muita gente em todo o país neste funesto mês de julho que já havia levado João Ubaldo, e principalmente por quem teve algum contato pessoal com o homem. Amigos confiáveis me dizem que Ariano era uma dessas criaturas iluminadas que despejam sabedoria e bondade sobre tudo e todos à sua volta. Acredito. No entanto, como o máximo de proximidade que tive com ele foi estar na plateia de uma de suas famosas “aulas-espetáculo”, a principal impressão que o autor de “Auto da Compadecida” sempre me causou foi a de um adversário no campo das ideias sobre arte e cultura. Seu agudo senso de humor suavizava, mas não chegava a desfazer o antagonismo. Afirmar que ele era um nacionalista e um conservador diz pouco. O sujeito era ultranacionalista e ultraconservador, uma espécie de versão nordestina do crítico e pesquisador musical José Ramos Tinhorão, inimigo do internacionalismo da bossa-nova. Como Tinhorão, Ariano…