Entre os temas sobre os quais os escritores são chamados a responder com frequência, o da “rotina de trabalho” deve estar no topo da lista ou bem perto dele. São muitas as perguntas que cabem nessa categoria. Você escreve todos os dias? Tem uma meta de produção? Um número fixo de horas? Manhã, tarde ou noite? Observa algum ritual, alguma superstição? Desconecta-se da internet para escrever? Desliga o celular? Sim, o interesse por tal tipo de informação sobre os bastidores da escrita é em grande parte fetichista, uma forma de atribuir à criação literária uma aura mágica (“Como você consegue?”), recusando a ideia de que escrever é nada mais que um trabalho – com suas peculiaridades, claro, mas um trabalho. Como ocorre em todo ofício, cada trabalhador deve encontrar os métodos e rotinas que mais lhe convenham. O risco do fetichismo é levar os incautos a se fixar no acessório e descuidar do principal. Dizem que Ernest Hemingway gostava de descascar um certo número de laranjas antes de começar a escrever, mas pode-se afirmar com absoluta certeza que nenhuma atividade envolvendo frutas cítricas jamais levou ninguém a desenvolver um estilo tão cortante e conciso quanto o do autor de “Por…