Os vapores embriagantes da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), que hoje chega ao clímax, são ótimos, mas não negam: o Brasil é um país que despreza a leitura. Entre obrigações escolares, bobagens de autoajuda, cordilheiras de livros para colorir e milhões de exemplares de uma bomba subliterária chamada “Cinquenta tons de cinza”, o brasileiro médio anda lendo 1,7 livro por ano – mais ou menos. Os números costumam variar um pouco, mas foi este que o ministro da Cultura, Juca Ferreira, em entrevista na última terça-feira, chamou de “uma vergonha”. Concordo inteiramente. Mais do que uma vergonha, um motivo de desalento quanto ao futuro do país. Ocorre que a proposta de Ferreira para atacar o problema – uma ampla campanha semelhante “à do Fome Zero e à da paralisia infantil” – não chega a empolgar quem conhece um pouco dessa história. Campanhas de incentivo à leitura são feitas regularmente pelo ministério da Cultura: a de 2012, com o bordão “Leia mais, seja mais”, foi lançada com previsão de investimentos de R$ 373 milhões (mais sobre isso aqui). Iniciativas desse tipo são tão bem intencionadas quanto limitadas. Em parte porque o imperativo costuma soar antipático: “Faça isso!”, diz o iluminado,…