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Uma orelha para Diana Wurz

10/07/2008

Ela leu:

Diana Wurz escreve sustos, mastigando reticências como sucrilhos. Afaga tormentos, faz cócegas nos cânones, soluça anacolutos com uma graça súbita de bailarina imaginária. Humana, eis a palavra. Humanérrima. Em seus contos-relicários de sondar desvãos, de acender o sol, de entesourar momentos, atinge uma materialidade porosa e cheia de reentrâncias, ainda que cuidadosamente depilada, que denuncia sua filiação àquela irmandade de autores esguios que não escrevem com a cabeça, mas com o corpo. No caso de Diana, estreante de rara maturidade, nem mesmo com o corpo inteiro: com partes do corpo, uma unha aqui, ali o mamilo direito, apêndice espremido numa entrelinha, pâncreas fechando a frase com seu inconfundível – molhado, fofo – muxoxo pancreático. À medida que, lenta e viscosamente, escorre o texto, vai se despedaçando a jovem escritora com tal bravura, e com seus nacos pavimentando a auto-estrada do autoconhecimento, que não resta dúvida: Diana Wurz dói. Lateja. Feito uma estrela, se estrelas doessem.

Leu, releu, depois devolveu a folha em silêncio ao homem. Ele disse:

E aí, cumpri minha parte a contento?

Está bem legal. Você acha isso mesmo do livro?

Ué, não escrevi?

Ela sorriu: Está ótimo.

Posso mandar para o editor?

Pode, ela respondeu, desabotoando a blusa.

12 Comentários

  • Camila 11/07/2008em09:40

    E o Troféu Palavra Mais Bem Colocada No Texto vai para… MUXOXO, decerto!! Mas, se o conto fosse meu, a moça abotoaria a blusa no final… 😀

  • vera azevedo 11/07/2008em12:17

    Muito bonito mas muito triste também. Coloca em negrito as relações contemporâneas. Dói mesmo, vc disse tudo.

  • quemvem 11/07/2008em17:52

    Conto interessante, Sérgio (finalmente consegui te elogiar, hein?) Só acho que essa relação entre sexo e literatura não existe… Exceto na imaginação dos blogueros que vez em quando publicam alguma coisa, mas que não são, exactamente, escritores.

  • Rodrigo 11/07/2008em19:17

    Não posso, evidentemente, responder por Camila, mas a minha primeira impressão após a leitura do seu comentário, e considerando minhas próprias impressões sobre o conto, é de que a pompa do escritor é brochante ao ponto de arruinar uma transa bem encaminhada.

  • El Torero 11/07/2008em19:48

    Se eu fosse o escritor, o personagem não o Sergio, ela leria o escrito junto com um belo vinho, talvez durante ou depois de um jantar…se é pra fazer, façamos TUDO bem feito.

  • Camila 12/07/2008em01:49

    Sérgio, você esqueceu de levar em conta um dado muito importante do meu comentário: o smiley no final! Mas fico feliz que tê-lo levado a sério tenha lhe proporcionado alguma reflexão. Meu pensamento foi mesmo na linha do que o Rodrigo disse: haja coragem para apreciar muxoxos fofos! 😀 Por mim, você ia embora nessa série sobre má literatura e sexo: já tem esse, o dos 11 minutos e o Sonic, o da blogueira descolada e o escritor decadente… Esqueci algum?

  • Camila 12/07/2008em01:49

    Right… O smiley saiu mal colocado desta vez. Melhor desistir deles.

  • Camila 13/07/2008em13:06

    Ô Sérgio, você é muito complicado – a escritora não poderia simplesmente ter mudado de idéia?? 😀 (Volte aos smileys, é mais forte que eu.)

  • Mr. WRITER 14/07/2008em16:52

    Ei, e o livro Sobrescritos? Eu não esqueci disso ainda…