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A boca grande do Lobo

14/03/2007

Saber ler é tão difícil como saber escrever.

Ainda que o tradutor tenha génio, uma tradução é sempre uma foto a preto e branco de um quadro.

Custa-me conceber um poeta que nunca tenha feito amor. E às vezes quando leio certos prosadores portugueses, não têm esperma nenhum lá dentro, são tudo coisas que se passam dentro da cabeça. Pensam muito. E a literatura faz-se com palavras.

Hoje, os escritores jovens querem ser lidos na segunda-feira, ser publicados na terça, ter um êxito extraordinário na quarta e na quinta ser traduzidos em todo o mundo.

O grande prosador António Lobo Antunes ganhou hoje o Camões, o maior prêmio literário da língua portuguesa. Já mereceria o “galardão”, como se diz em seu país, mesmo que fosse só pelo talento de frasista.

24 Comentários

  • Saint-Clair Stockler 14/03/2007em22:17

    Estou muitíssimo feliz por ele. O Lobo Antunes é um dos escritores portugueses preferidos! Quem não deve estar feliz é o Saramago, hihihi…

  • Saint-Clair Stockler 14/03/2007em22:17

    Um dos MEUS escritores portugueses preferidos.

  • Djabal 15/03/2007em08:07

    Ele é um escritor seminal. Nos ensina a ler.
    Dará trabalho aos críticos e leitores pelos próximos quinhentos anos, como ele pretendia.

  • Breno Kümmel 15/03/2007em08:57

    Finalmente!

  • JP 15/03/2007em10:16

    Não é dos prediletos, mas é melhor que 90% do que se produz em portugês hoje em dia.

  • Roberto R. 15/03/2007em11:39

    Grande.

  • Silviano Wilson Martins Tinhorâo Piza 15/03/2007em12:15

    Essa frase é uma pérola da hipocrisia. Reparem:

    “Hoje, os escritores jovens querem ser lidos na segunda-feira, ser publicados na terça, ter um êxito extraordinário na quarta e na quinta ser traduzidos em todo o mundo.”

    É confortável o Bobo Antunes dizer isso hoje quando ele já é um escritor consagrado. Só que eu duvido que ele, quando estava começando a carreira dele lá atrás não quisesse também a mesma coisa. Bobo Antunes é um hipócrita arrogante, que se acha o melhor escritor da face da Terra. E fica um bando de bobões por aí babando o ovo dele.

  • Mr. Ghost(WRITER) 15/03/2007em12:15

    “Hoje, os escritores jovens querem ser lidos na segunda-feira, ser publicados na terça, ter um êxito extraordinário na quarta e na quinta ser traduzidos em todo o mundo.”

    Realmente, um ótimo frasista…
    Na verdade excelente…
    Vai ter muito escritorzinho odiando o cara pelos próximos 1000 anos…

  • Tibor Moricz 15/03/2007em12:46

    E odiando você, Mr. Ghost(WRITER), por chamá-los pelo diminutivo. Só acho que não por uns 1000 anos…

  • João Marcos Cantarino 15/03/2007em13:27

    Como diria um freudiano pernóstico, a crítica é ao desejo, ao objeto do desejo ou à impossibilidade de adiamento do prazer?

  • Samir 15/03/2007em13:46

    Concordo com o Silviano. O cara é muito chato. Vivo muitíssimo bem sem ele. É o tipo de escritor para leitor com complexo de inferioridade. Li, não-entendi, mas achei o máximo. Tá cheio de gente assim.

  • Cezar Santos 15/03/2007em15:05

    Não vejo isso tudo nele, não…
    Mas o prêmio deve ser merecido.

  • Claudio Soares 15/03/2007em15:17

    Sugiro que na sexta, os “escritores jovens”, ganhem um “Camões”, no sábado “o Nobel” e no domingo, como Pink e Cérebro, tentem conquistar o mundo (não necessariamente nessa mesma ordem).

    A propósito, aquela frase “um bom livro é o que foi escrito só para mim”, está incompleta.

  • Claudio Soares 15/03/2007em15:30

    “Saber ler é tão difícil como saber escrever.”, eu diria que “saber ler é saber reescrever”, logo, me parece bem mais complicado do que escrever. Se o escritor fosse obrigado, por lei, a se explicar sobre o que escreveu, aí sim eu concordaria com o AntÓnio…

  • Roberto R. 15/03/2007em16:17

    Tá certo, gente. Então o Lobo Antunes é uma besta. Bom mesmo é o Nelson de Oliveira.

  • Bernardo Brayner 15/03/2007em16:18

    Parece-me um grande escritor.

  • Saint-Clair Stockler 15/03/2007em16:24

    Voltando…

    Acho o L.A deslumbrante: uma técnica dificílima, mas em que ele é mestre, um escritor de uma força incrível. O engraçado é que todos os meus amigos portugueses têm uma certa “resistência” à obra dele: uns não gostam, outros gostam mas não conseguem lê-la. A melhor explicação foi de uma amiga: “Não dá pra ler mais do que um livro do Lobo Antunes por ano. Ele é muito ‘pesado'”. E, realmente, para as almas menos acostumadas ao negror, ele é muito pesado. Quanto a mim, acho deslumbrante. Acho que ele tem uma visão de mundo que se aproxima muito da minha, me sinto sempre muito à vontade lendo os (terríveis) livros seus.

    # Off topic: Clarice, minha querida, cadê você???

  • Cláudio Soares 15/03/2007em17:56

    O júri deste ano reuniu-se na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, no Brasil, e foi constituído por Francisco Noa (Moçambique), João Melo (Angola), Fernando J.B.Martinho (Portugal), Maria de Fátima Marinho (Portugal), Letícia Malard (Brasil) e o acadêmico Domício Proença Filho (Brasil). O júri também participou, nesta quinta-feira, 15/03, do tradicional chá dos imortais da Academia Brasileira de Letras.

  • Thiago Maia 15/03/2007em18:35

    Por volta de agosto e setembro de 2006, me peguei gritando a minha mulher, do banheiro:
    – Querida! Aproveita que você tá na internet, e verifica pra mim quais foram os ganhadores do Prêmio Camões.
    Como sempre fazemos nesses casos, ela consultou o ótimo site http://www.epdlp.com
    Então leu a lista para mim e fiquei boquiaberto pela ausência do Lobo Antunes (aliás, o Todoprosa já está há cerca de um dia adiantado em relação ao EPDLP, que ainda não foi atualizado sobre o fato, provavelmente porque nesse ano o Camões saiu mais cedo. Normalmente o ganhador é divulgado em maio.)
    Fico muito contente. Para mim, de todos os romances originalmente escritos em português que li, com primeira publicação posterior à de “Lavoura arcaica” (1975), “A ordem natural das coisas”, do Lobo Antunes, só tem comparação com “O ano da morte de Ricardo Reis” e “Todos os nomes”, do Saramago. É magistral, e tomo a liberdade de propor seu primeiro parágrafo ao SR como um Começo Inesquecível: a mim me lembra o Sul de Minas, tão português, de onde venho.
    Dos que admiro a esse ponto, espero que vença proximamente a Zulmira Ribeiro Tavares. Satírica, refinada, na minha estante faz par com Eça de Queiroz.

  • Fernando P'ssoa 16/03/2007em08:28

    O Lobo Antunes é chato pra cacete. Mas muito chato mesmo. Pedante, auto-referente e… chato.

  • Samir 16/03/2007em08:53

    Não é questão de ser mais ou menos acostumado ao “negror”. Há escritores difíceis que são saborosos. O Lobo Antunes é chato mesmo. É o chato que alcançou certa posição e sabe que, quanto mais chato ele for, mais alguns leitores em busca de diferenciação com objetivos de marketing irão dizer que o lêem. Um certo mundinho da literatura vive muito disso. Já leitura, prazer da leitura, identificação são outra coisa. Confunde-se escrever com clareza com superficialidade e facilitação. É preciso maturidade para saber diferenciar. Tem escritores que escrevem claro sobre situações ou temas complexos. E escritores que complicam para se darem ares de gênio. É o caso do Lobo Antunes. Não que não seja bom. Mas não é lá essas coca-colas…

  • rafaelfelipe 16/03/2007em15:03

    livros são feitos de letras impressas no papel. os do lobo antunes são muito bons. não sei nada de lobo antunes fora de seus livros, se é chato, se é reto, se é louco. dos seus livros sei que se tira boa coisa.

  • Saint-Clair Stockler 17/03/2007em17:43

    Boa, Rafael Felipe. É isso aí: não importa a vida do escritor (a não ser, e muito raramente, num segundo momento). O que importa é a arte que ele produz, a obra, ou seja lá como se queira classificar. Nesse aspecto, conheço poucos que se igualem ao Lobo Antunes.

  • Jorge 02/04/2007em10:07

    Exactamente como aqui referiram, Lobo Antunes apresenta uma complexidade que pretende passar por genialidade, construção elaborada, quando aquilo que ele faz, na construção dos seus livros, é precisamente deixar que as frases apareçam, que se misturem, que lhe venham á cabeça para que as aponte, e depois diz nas suas cronicas que é a mão que lhe foge. Experimentem escrver bastante e sem dizerem muito ou quase nada, enfiando lá para o meio algumas frases preceptiveis, e haverá sempre algum critico que vos consideres bons, pois, não compreendendo eles, como poderiam deixar de afirmar o estro do escritor sob pena de passarem também eles por ignorantes?. Dostoevski escreveu magistralmente sobre a alma humana, sobre as relações do homem consigo proprio, mas escreveu com simplicidade, somos capazes de destrinçar sentimentos e sensações, acto inconscientes que não precisam de todo este aparato de complexidade do Lobo Antunes.