Saber ler é tão difícil como saber escrever.
Ainda que o tradutor tenha génio, uma tradução é sempre uma foto a preto e branco de um quadro.
Custa-me conceber um poeta que nunca tenha feito amor. E às vezes quando leio certos prosadores portugueses, não têm esperma nenhum lá dentro, são tudo coisas que se passam dentro da cabeça. Pensam muito. E a literatura faz-se com palavras.
Hoje, os escritores jovens querem ser lidos na segunda-feira, ser publicados na terça, ter um êxito extraordinário na quarta e na quinta ser traduzidos em todo o mundo.
O grande prosador António Lobo Antunes ganhou hoje o Camões, o maior prêmio literário da língua portuguesa. Já mereceria o “galardão”, como se diz em seu país, mesmo que fosse só pelo talento de frasista.
24 Comentários
Estou muitíssimo feliz por ele. O Lobo Antunes é um dos escritores portugueses preferidos! Quem não deve estar feliz é o Saramago, hihihi…
Um dos MEUS escritores portugueses preferidos.
Ele é um escritor seminal. Nos ensina a ler.
Dará trabalho aos críticos e leitores pelos próximos quinhentos anos, como ele pretendia.
Finalmente!
Não é dos prediletos, mas é melhor que 90% do que se produz em portugês hoje em dia.
Grande.
Essa frase é uma pérola da hipocrisia. Reparem:
“Hoje, os escritores jovens querem ser lidos na segunda-feira, ser publicados na terça, ter um êxito extraordinário na quarta e na quinta ser traduzidos em todo o mundo.”
É confortável o Bobo Antunes dizer isso hoje quando ele já é um escritor consagrado. Só que eu duvido que ele, quando estava começando a carreira dele lá atrás não quisesse também a mesma coisa. Bobo Antunes é um hipócrita arrogante, que se acha o melhor escritor da face da Terra. E fica um bando de bobões por aí babando o ovo dele.
“Hoje, os escritores jovens querem ser lidos na segunda-feira, ser publicados na terça, ter um êxito extraordinário na quarta e na quinta ser traduzidos em todo o mundo.”
Realmente, um ótimo frasista…
Na verdade excelente…
Vai ter muito escritorzinho odiando o cara pelos próximos 1000 anos…
E odiando você, Mr. Ghost(WRITER), por chamá-los pelo diminutivo. Só acho que não por uns 1000 anos…
Como diria um freudiano pernóstico, a crítica é ao desejo, ao objeto do desejo ou à impossibilidade de adiamento do prazer?
Concordo com o Silviano. O cara é muito chato. Vivo muitíssimo bem sem ele. É o tipo de escritor para leitor com complexo de inferioridade. Li, não-entendi, mas achei o máximo. Tá cheio de gente assim.
Não vejo isso tudo nele, não…
Mas o prêmio deve ser merecido.
Sugiro que na sexta, os “escritores jovens”, ganhem um “Camões”, no sábado “o Nobel” e no domingo, como Pink e Cérebro, tentem conquistar o mundo (não necessariamente nessa mesma ordem).
A propósito, aquela frase “um bom livro é o que foi escrito só para mim”, está incompleta.
“Saber ler é tão difícil como saber escrever.”, eu diria que “saber ler é saber reescrever”, logo, me parece bem mais complicado do que escrever. Se o escritor fosse obrigado, por lei, a se explicar sobre o que escreveu, aí sim eu concordaria com o AntÓnio…
Tá certo, gente. Então o Lobo Antunes é uma besta. Bom mesmo é o Nelson de Oliveira.
Parece-me um grande escritor.
Voltando…
Acho o L.A deslumbrante: uma técnica dificílima, mas em que ele é mestre, um escritor de uma força incrível. O engraçado é que todos os meus amigos portugueses têm uma certa “resistência” à obra dele: uns não gostam, outros gostam mas não conseguem lê-la. A melhor explicação foi de uma amiga: “Não dá pra ler mais do que um livro do Lobo Antunes por ano. Ele é muito ‘pesado'”. E, realmente, para as almas menos acostumadas ao negror, ele é muito pesado. Quanto a mim, acho deslumbrante. Acho que ele tem uma visão de mundo que se aproxima muito da minha, me sinto sempre muito à vontade lendo os (terríveis) livros seus.
# Off topic: Clarice, minha querida, cadê você???
O júri deste ano reuniu-se na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, no Brasil, e foi constituído por Francisco Noa (Moçambique), João Melo (Angola), Fernando J.B.Martinho (Portugal), Maria de Fátima Marinho (Portugal), Letícia Malard (Brasil) e o acadêmico Domício Proença Filho (Brasil). O júri também participou, nesta quinta-feira, 15/03, do tradicional chá dos imortais da Academia Brasileira de Letras.
Por volta de agosto e setembro de 2006, me peguei gritando a minha mulher, do banheiro:
– Querida! Aproveita que você tá na internet, e verifica pra mim quais foram os ganhadores do Prêmio Camões.
Como sempre fazemos nesses casos, ela consultou o ótimo site http://www.epdlp.com
Então leu a lista para mim e fiquei boquiaberto pela ausência do Lobo Antunes (aliás, o Todoprosa já está há cerca de um dia adiantado em relação ao EPDLP, que ainda não foi atualizado sobre o fato, provavelmente porque nesse ano o Camões saiu mais cedo. Normalmente o ganhador é divulgado em maio.)
Fico muito contente. Para mim, de todos os romances originalmente escritos em português que li, com primeira publicação posterior à de “Lavoura arcaica” (1975), “A ordem natural das coisas”, do Lobo Antunes, só tem comparação com “O ano da morte de Ricardo Reis” e “Todos os nomes”, do Saramago. É magistral, e tomo a liberdade de propor seu primeiro parágrafo ao SR como um Começo Inesquecível: a mim me lembra o Sul de Minas, tão português, de onde venho.
Dos que admiro a esse ponto, espero que vença proximamente a Zulmira Ribeiro Tavares. Satírica, refinada, na minha estante faz par com Eça de Queiroz.
O Lobo Antunes é chato pra cacete. Mas muito chato mesmo. Pedante, auto-referente e… chato.
Não é questão de ser mais ou menos acostumado ao “negror”. Há escritores difíceis que são saborosos. O Lobo Antunes é chato mesmo. É o chato que alcançou certa posição e sabe que, quanto mais chato ele for, mais alguns leitores em busca de diferenciação com objetivos de marketing irão dizer que o lêem. Um certo mundinho da literatura vive muito disso. Já leitura, prazer da leitura, identificação são outra coisa. Confunde-se escrever com clareza com superficialidade e facilitação. É preciso maturidade para saber diferenciar. Tem escritores que escrevem claro sobre situações ou temas complexos. E escritores que complicam para se darem ares de gênio. É o caso do Lobo Antunes. Não que não seja bom. Mas não é lá essas coca-colas…
livros são feitos de letras impressas no papel. os do lobo antunes são muito bons. não sei nada de lobo antunes fora de seus livros, se é chato, se é reto, se é louco. dos seus livros sei que se tira boa coisa.
Boa, Rafael Felipe. É isso aí: não importa a vida do escritor (a não ser, e muito raramente, num segundo momento). O que importa é a arte que ele produz, a obra, ou seja lá como se queira classificar. Nesse aspecto, conheço poucos que se igualem ao Lobo Antunes.
Exactamente como aqui referiram, Lobo Antunes apresenta uma complexidade que pretende passar por genialidade, construção elaborada, quando aquilo que ele faz, na construção dos seus livros, é precisamente deixar que as frases apareçam, que se misturem, que lhe venham á cabeça para que as aponte, e depois diz nas suas cronicas que é a mão que lhe foge. Experimentem escrver bastante e sem dizerem muito ou quase nada, enfiando lá para o meio algumas frases preceptiveis, e haverá sempre algum critico que vos consideres bons, pois, não compreendendo eles, como poderiam deixar de afirmar o estro do escritor sob pena de passarem também eles por ignorantes?. Dostoevski escreveu magistralmente sobre a alma humana, sobre as relações do homem consigo proprio, mas escreveu com simplicidade, somos capazes de destrinçar sentimentos e sensações, acto inconscientes que não precisam de todo este aparato de complexidade do Lobo Antunes.