Faz poucos dias que finalmente botei as mãos no mais recente número da revista (à falta de um nome melhor) literária McSweeney’s, de São Francisco. Editada pelo escritor Dave Eggers, de “O que é o quê”, com a ajuda de um bando de malucos, a maioria em esquema de trabalho voluntário, a McSweeney’s é hoje a coisa mais lúdica, divertida, inquieta e (por que não?) cool existente no mundo da literatura: uma publicação trimestral que desde seu surgimento, em 1998, nunca repetiu um formato. Um dos números, ano passado, foi o jornal mais belo da história, o “Panorama”, comentado na época aqui. Este que eu tenho nas mãos agora, conhecido como “A Cabeça”, é uma caixa de papelão resistente cheia de livretos, revistinhas, postais e artigos mais difíceis de nomear.
Não se trata, como podem pensar os cínicos de plantão, de uma forma esfuziante para encobrir a falta de conteúdo: para desmentir essa impressão bastariam o conto de Colm Tóibín e os quatro primeiros capítulos de “Fountain City”, o famoso romance inacabado que quase acabou com a carreira de Michael Chabon, acompanhados de impiedosas notas críticas do próprio autor. Mas “A Cabeça” tem muito mais, e imagino que estarei mexendo em suas entranhas, feito um neurocirurgião desastrado, por semanas a fio – mais ou menos como esse sujeito faz no YouTube.
Mesmo após destrinchar seu conteúdo com volúpia infantil, é certo que um elemento de mistério continuará rondando “A Cabeça”, como de resto ronda a própria McSweeney’s, que em torno dessas publicações trimestrais cresceu até se tornar um centro de agitação literário-cultural que conta com editora, site, oficinas de literatura para crianças etc. O mistério é o seguinte: como é possível uma coisa dessas? Mesmo levando-se em conta o sentido de missão dos McSweeneyros e o sucesso que os faz conquistar com facilidade apoios públicos e privados, como é possível que a conta feche? Ganhei “A Cabeça” de presente de aniversário de uma moradora de São Francisco (obrigado, Aline!), mas não teria sido difícil comprá-la: por 26 dólares, essa orgia que leva a experiência editorial a territórios em que o e-book jamais poderá sonhar em segui-la custa menos que qualquer brochura xexelenta ali na livraria da esquina.
5 Comentários
Tenho um par de amigos que assina a McSweeney’s. É ridiculamente barato, se levarmos em conta a beleza das edições (e a comparação com o preço que sairia um troço desses made in brazil).
Diante de ” o crente”, “voz da fé” e “Timóteo”, me senti à vontade para registrar no acridoce ( que muitos pensam que é agri mas é acri, inspirada na “Cabeça”, Isaías 36. Isto porque acabei lendo Isaías 36 em vez de edição 36. E, como não gosto de perder oportunidades, corri em isaías 36 e me surpreendeu por se tratar de Senaqueribe pedindo a cabeça dos filhos de Deus. kkkkkkk
Ah… Sérgio, libera aí para eu levar pro meu blogue esta cabeça instigante para eu escrever sobre Senaqueribe- personagem que nos deixa inquietos. Tô pensando até em escrever em forma de poema…
Caixinha boinha essa que você ganhou, né? Adoro essas coisitas…
Fico pensando (e torcendo contra)aqueles que advogam o e.book como a última palavra em comunicação literária! Taí uns caras que vieram provar justamente o contrário! (santo papel!)
Tenho o volume 13. É um ensaio para a edição 36 pois o recheio com livretos e páginas alongadas além da capa quádrupla (!) já estão por lá. Um primor já que quem edita é o prolixo Chris Ware.
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