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A chegada do ‘Sabático’ desafia a maré

05/03/2010

A reforma gráfica e editorial que o jornal “O Estado de S. Paulo” estreará no próximo dia 14 inclui uma novidade de grande relevância para o meio ambiente literário, especialmente num clima global em que os suplementos de livros da grande imprensa só fazem encolher ou morrer: um caderno dedicado à literatura – aos sábados, naturalmente – chamado Sabático. Está certo que o nome soa pernóstico, mas, antes mesmo de ver o produto, vale dizer: boa, Estadão!

Será mais um sinal de que a imprensa que depende de celulose está menos moribunda do que tanta gente, principalmente gente que nunca arranjou emprego numa redação, anda apregoando alegremente nos últimos anos? É o que argumenta o escritor americano – e fundador da editora independente McSweeney’s – Dave Eggers, em defesa de seu recém-lançado jornal-de-um-número-só (mas a coisa mais linda do mundo) San Francisco Panorama.

“Há um monte de coisas que a imprensa de papel pode fazer como ninguém e que a internet não pode”, diz Eggers com a autoridade de quem praticamente nasceu no ambiente digital, na equipe da revista eletrônica Salon.com. “As duas formas deveriam coexistir, em vez dessa situação de soma zero em que parecemos empacados hoje.”

19 Comentários

  • Rafael 05/03/2010em15:57

    Oxalá venha dessa iniciativa algo qualitativamente bom. Se for para acrescentar mais porcaria à porcariada geral que é o jornalismo cultural, melhor fora que o Estadão lançasse um novo encarte sobre Moda. Um novo caderno Menas! é dispensável.

  • Cássia 05/03/2010em16:01

    Se for para a literatura o que o Paladar é para a gastronomia, tá valendo muito! 🙂

  • Harpia 05/03/2010em19:34

    “Há um monte de coisas que a imprensa de papel pode fazer como ninguém e que a internet não pode”

    Cite cinco. Estou sinceramente curioso.

  • Renan Henrique 05/03/2010em19:53

    eu cito as cincos coisas, Harpia (?!?!):
    1) sujar os dedos
    2) cobrir moradores de rua em noites de frio
    3) ser banheiro de cachorro em apartamentos
    4) embrulhar peixe na feira
    5) empregar o Ruy Castro

    • Harpia 06/03/2010em11:05

      Harpia é uma ave de rapina com uma correspondente figura mitólogica muito interessante.
      Mas o nick foi escolhido porque esta é a arma predileta do Dr. Hannibal Lecter, o meu 2o psicopata predileto.
      A idéia era transmitir uma imagem viril, soturna e algo assustadora, mas o resultado foi que todo mundo acha que eu sou uma mulher, ou seja, fracassei completamente.

  • Sérgio Rodrigues 05/03/2010em19:56

    Harpia, essa pergunta deveria ser feita ao Eggers, mas como tendo a concordar com ele (nunca esqueço que a idéia apocalíptica de que um meio tem sempre que acabar com o outro já foi muito desmentida na história das comunicações), vou improvisar uma resposta de bate-pronto. Seguem dez coisas:

    1. Publicar textos longos ou muito longos, daqueles que ninguém tem saco de ler numa tela (já imaginou uma Serrote online?).

    2. Sangrar aquelas superfotos em página dupla.

    3. Trabalhar o design em espaços amplos, com os elementos de uma página “conversando” com os da página ao lado e podendo ser apreendidos pelo leitor tanto em detalhes como no todo – ou os dois simultaneamente.

    4. Publicar pôsteres destacáveis de alta qualidade gráfica, seja de time campeão, seja de mulher pelada.

    5. Captar anunciantes cobrando caro.

    6. Manter uma relação profissional com quem produz seu conteúdo (coisa que a internet, com honrosas exceções, não faz – ainda?).

    7. Ser consumida de forma comunitária – por uma família inteira, por exemplo: pai, mãe e quatro filhos, cada caderno do jornal de domingo nas mãos de um deles.

    8. Ter uma capa propriamente dita.

    9. Funcionar sem tomada ou bateria.

    10. Embrulhar peixe, forrar gaiola de passarinho etc.

    • Raquel 05/03/2010em20:13

      Sérgio se me permite, acrescento a décima-primeira:

      – Recortar e emoldurar uma notícia que te encante, sem tomada e impressora (faltando tinta na hora que mais se precisa).

    • Harpia 06/03/2010em12:10

      Obrigado pela resposta. Acho que terminei te dando trabalho… Mas vamos às minhas considerações:

      1. Como assim ninguém tem saco de ler? Eu leio um texto longo na tela numa boa, desde que prenda a minha atenção, e conheço muitos que também o fazem. Mas são todos da minha geração. Acredito que a impaciência com textos longos seja mais uma questão cultural do que propriamente o “meio” aonde o texto está publicado. Num paralelo algo forçado (também estou respondendo de bate-pronto) não se “consome” mais a popularmente chamada “música clássica” porque é impossível, nos dias de hoje, dedicar três horas consecutivas a uma única atividade, ainda mais lúdica.

      2. Alcanço uma galeria de fotos com um clique.

      3. Boa. Irrespondível.

      4. O poster e outros “destacáveis” não são de modo algum a essência de um jornal impresso. É um brinde usado como recurso para aumentar tiragem e raramente vem com esta “alta qualidade gráfica”, especialmente quando o objeto é um time de futebol. Recortar e pendurar estes trecos me passa uma idéia de pobreza. Prefiro comprar na papelaria da esquina.

      5. O mercado de publicidade on line fatura muitos bilhões de dólares por ano.

      6. Você mesmo, ao desenvolver o raciocínio já terminou a frase ressaltando as execeções e colocando a questão do ainda. E esta ainda será bastante curto, pode acreditar.

      7. Esta imagem idílica da família consumindo o jornal juntos é, bem, algo nostalgica, não? Você já viu quatro adolescentes lendo alguma coisa? De uma mesma família? Está cada um com seu iPod no ouvido ou convesando no MSN, a mãe está vendo algum programa na TV e o pai, este sim, está se escondendo da família atrás de um jornal.

      8. Boa. Embora seja irrelevante, eu não perguntei sobre a relevância, então tenho de adminitr que esta é irrespondível também.

      9. Partindo deste princípio eu vou jogar fora as minhas lâmpadas e iluminar a minha casa com velas. Afinal, estas não precisam de eletricidade…

      10. Qualquer papel impresso faz isto também. E nem me refiro ao impresso por mim, aquelas insuportáveis malas diretas e propagandas de políticos servem tamebém.

      Mas apenas para não deixar qualquer dúvida, não acredito que o “encolhimento” da mídia impressa seja ocasionado pela popularização da internet.

      Concordo com você que vários meios podem conviver numa boa. A verdadeira ameaça aos jornais impressos é a percepção, que considero totalmente equivocada, que a mídia impressa jã não tem mais compromisso com a “verdade”, mas antes atende aos interesses dos anunciantes e aos interesses particulares dos donos dos grandes veículos de comunicação, ao passo que a Internet seria uma fonte isenta (ha ha) e independente (ha ha ha ha) para descobrir a “verdade” (infinitos ha ha ha).

      E para uma pessoa como eu, que começou a perceber o mundo através do velho JB (mas só depois que o meu pai o tivesse lido todo, lá em casa ninguém se atrevia a tocar no jornal antes dele, não tinha essa de jornal comunitário, não), esta diminuição da relevância da mídia impressa é muito, muito triste.

      Mas aí eu já saí totalmente do assunto literatura.

      Abraços,

    • Sérgio Rodrigues 06/03/2010em12:37

      Harpia, vamos aos pontos que você refuta:

      1. Ler no computador é sabidamente menos confortável. Numa tela de e-ink, como a do Kindle, a Serrote é possível. Num laptop ou desktop, infelizmente, temo que não funcione mesmo.

      2. Não disse que a internet não tem fotos. Disse que não tem como valorizá-las tão bem quanto a mídia impressa. Seu limite será sempre o da tela do usuário.

      4. E quem falou em essência?

      5. O bolo global é grande e, claro, crescente, mas vá ver o que sites e mesmo portais andam faturando de publicidade na vida real, e depois compare com jornais e revistas de audiência muito menor. A internet ainda apalpa no escuro em busca de modelos de sustentação financeira – e eles dificilmente serão semelhantes aos que foram herdados da imprensa tradicional.

      6. Estou falando de hoje, claro. O futuro é brumoso demais. Pessoalmente, tenho dúvidas de que o profissionalismo online chegará um dia ao que foi (e também já não é tanto assim) na imprensa de papel.

      7. Não quis idealizar nada. Falo da possibilidade, do potencial. Sim, já vi cenas parecidas com essas, lá em casa mesmo.

      8. Capas são irrelevantes? Tenho dúvidas. Ao individualizar o objeto, destacá-lo fisicamente do fluxo-geléia de informação, talvez a gente venha a descobrir que são relevantes pacas.

      9. Não faça isso (olha a armadilha do ou-isso-ou-aquilo de novo!). Mais uma vez, falo do potencial do meio – entendi ter sido essa a pergunta, pra começar. Velas são importantes na gaveta, pra emergências, mas seu desempenho deixa muito a desejar. Mas se você tivesse uma lâmpada de 100 watts movida a ar, provavelmente a usaria.

      10. Concordo, isso era só uma piada mesmo. Mas não é qualquer papel que serve, não. Mala direta de político, se for naquele papel glossy, dá um péssimo forro de gaiola.

    • C. S. Soares 06/03/2010em22:11

      Não temos dúvidas de que a leitura on-line é melhor.

      A ‘velha’ mídia insiste que o mundo analógico é melhor. A ‘nova’ acha que precisa copiar a solução analógica digitalmente e assim atrasamos o próximo salto tecnológico. Não existe revolução, mas evolução. Da tecnologia e de nós mesmos, como seres humanos pensantes.

      Marissa Meyer, do Google News, falando ao congresso americano, lembrou um aspecto fundamental dessa discussão: queremos consumir notícias e não jornais (assim como consumimos canções e não CDs).

      A mudança de paradigma é maior do que a simples troca de papel por telas. Isso é desimportante. Ambos conviverão por muito tempo, simplesmente por questões de mercado (o que no final sempre decide as coisas).

      Jornalistas no meio impresso ou no meio digital ainda são jornalistas. O mesmo vale para escritores. Porém, o velho ditado assegura que o bom profissional é também as ferramentas que usa.

      “Atenção enquanto dobramos essa esquina”, como na velha canção. Temos que manter a mente aberta (atenção para o refrão: “é preciso estar atento e forte…Não temos tempo de temer a morte”).

      Desafio maior de todos nós que vivemos esses atribulados (concordo) dias: não ter medo de se reinventar diariamente.

  • Teresa 05/03/2010em22:15

    Boa notícia mesmo! Quero ver o que vão dizer os profetas do apocalipse jornalístico.

    Acrescento mais uma vantagem que o papel ainda tem sobre a internet:
    Meio seguro e eficaz de preservar as publicações para as futuras gerações. Vide o caso da Paralelos.org, que um problema no servidor desapareceu com 6 anos de textos e se não fosse o Internet Archive teria se perdido mesmo. Na dúvida, muita gente faz cópias impressas de textos pra garantir a sua preservação.

  • Dina 06/03/2010em02:26

    Gostaria de saber por que o Prosa & Verso, do Globo, ainda tem este nome, considerando que a literatura me parece ter sido deixada de lado para dar lugar a matérias e ensaios que nada têm a ver com a identidade original do suplemento.

  • William Santana 06/03/2010em11:40

    A tela do monitor no computador é deprimente, “reduz” e conduz o homem ao excesso de informações fúteis e viciadas. A tela da televisão que exibe programas fúteis e viciados, até mesmo os ótimos, deprime. A única solução humana é a reinvenção do livro. O prazer de folhear é insubstituível. Temos é que criar criadores.

  • Ana Cristina Melo 09/03/2010em05:48

    Parabéns para o novo Suplemento. Que ele venha trazendo a divulgação de muitos livros, principalmente os nacionais. Alguém vai escrever lá? Poderia propor que eles fizessem a lista de mais vendidos exclusiva da literatura brasileira. Faço (ou tento fazer) isso no meu site que divulga lançamentos literários (www.sobrecapa.com.br). Mas criar meu ranking a partir da mesma lista que é distribuída à mídia, me dá uma lista pobrezinha de 4, no máximo, 6 livros. Não ficaria triste de alguém “roubar” a ideia. Tudo para ver nossos escritores mais valorizados.
    Bjs, Sérgio, e até amanhã, na Travessa.

  • WELLINGTON MACHADO 09/03/2010em10:44

    O debate sobre a internet e o fim do papel aqui neste site acabou ofuscando a boa notícia: o lançamento do caderno “Sabático”. Há muito a imprensa carece de um caderno de cultura consistente.