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A era dos superlivros

16/05/2006

O mundo vai ser cada vez mais de Paulo Coelho e cada vez menos de Paulo Mendes Campos. Sempre foi assim, mas o abismo entre o livro como objeto comercial e o livro como objeto cultural está se alargando.

Em edição recente do ótimo caderno literário do jornal espanhol “El Pais”, o “Babelia”, um artigo de Esther Tusquets analisa a participação cada vez maior que os títulos de altíssima vendagem, apoiados em esquemas caros de propaganda, têm no bolo do mercado editorial. O que vale para a Espanha, no caso, vale para o mundo inteiro – e mais ainda para países como o Brasil, onde é mais baixo o nível médio de educação.

O artigo (acesso livre, em espanhol) não vai muito além de apontar o dedo para problemas que todos conhecemos bem, mas o faz com bom poder de síntese. Abaixo, os argumentos principais:

No plano individual e no nível de um país, a moda é inversamente proporcional à cultura: quanto maior é a base cultural, menor é a força da moda, que se torna avassaladora se a referida base for ínfima.

O que ocorre no âmbito da leitura? Creio que aí as conseqüências do predomínio desmesurado da moda são funestas. Me informam amigos editores que as vendas dos títulos de sucesso, dos best sellers, duplicaram, enquanto as vendas dos outros títulos estão perto de cair à metade.

Uns poucos títulos (alguns excelentes, outros regulares, a maior parte “midiáticos”) se convertem em objetos obrigatórios de consumo: todo mundo os deve possuir, todo mundo precisa tê-los lido.

Não, os inimigos reais dos bons livros não são o cinema, nem a televisão, nem os novos meios de contar histórias: são os best sellers de pouca ou nula qualidade, apoiados por prêmios literários e promoções milionárias (ou, o que me parece alentador e positivo, às vezes eleitos espontaneamente pelo público), são esse horror dos livros que chamamos “midiáticos”. É, definitivamente, o predomínio absoluto da moda sobre a cultura.

21 Comentários

  • Leticia Braun 16/05/2006em20:39

    Quem mexeu no meu queijo…

  • Cintia Pereira 16/05/2006em21:53

    O que significa que o melhor lançamento do ano na literatura brasileira, “Não Feche Seus Olhos Esta Noite”, de Maira Parula, pela Rocco, está fadado a cair no vácuo. Lamentável.

  • mirtha dandara 16/05/2006em22:04

    fica evidente o poder da moda, que esta cada vez mais enraizada em nossa cultura do consumismo, quando se analiza livros medíocres baseados em “achismos” de um bom argumentador que espõe sua opnião como verdade absoluta sem grandes bases, como o sucesso de vendas do livro “código da vinci” muito bem divulgado.

  • Daniel 16/05/2006em22:16

    Não é nenhuma novidade o assunto. O mesmo acontece com o cinema, com o teatro, com a televisão e principalmente com a música. Para quem torce o nariz quando alguém fala em capitalismo, ou acha que o atual sistema econômico não tem culpa de nada, a cada dia surgem novas evidências de que muitos estragos ainda estão por vir e que o lixo lido pelas pessoas no metrô – é incrível como são sempre os mesmos livros – é uma parte ínfima dos problemas que transbordam por aí…

  • Francci 16/05/2006em23:51

    Os cronistas Antnio de Araujo, Lívia Santana, Conrad Rose, Edejás e Francci Lunguinho atualizaram suas crônicas hoje no http://www.cronicascariocas.com.br.
    Acessem!!!!!

  • Leo 17/05/2006em05:23

    O autor nao conhece a historia do mercado editorial. Livros ruins sempre venderam mais do que bons. Veja as listas de mais vendidos do passado.

    Alem disso, Paulo Coelho e Brown não fazem mal a ninguém do mercado editorial. Quem os lê, não leria coisa de melhor qualidade. Ninguém comprador ficou com “O Alquimista” em uma mão, e “Em busca do tempo perdido'” noutra, em dúvida sobre qual levar.

  • Leandro Oliveira 17/05/2006em09:43

    Escrevi recentemente um post lá no Odisséia falando sobre o mercado de auto-ajuda e na minha opinião o sucesso do mercado reflete apenas um problema maior: a incapacidade que muitos leitores têm de utilizar e decodificar recursos mais avançados da linguagem. No caso dos livros de auto-ajuda o efeito é praticamente imediato, ao virar a última página, mesmo o leitor mais desinformado, se sentirá revestido de grande sabedoria. O texto pode ser lido aqui http://odisseia2005.blogspot.com/2006/05/auto-ajuda-e-leitores.html

  • Sérgio Rodrigues 17/05/2006em09:54

    Leo, a sua simplificação Coelho/Proust é engraçada, mas me parece que induz a um erro. A articulista do Babelia não situa a briga tanto no plano individual (cada um lê o que lhe está à altura do bico, claro, quando lê) quanto no ambiente social. Investimentos em divulgação, espaço na imprensa, nas rodinhas de conversas, é que estão – os números da indústria editorial confirmaam – cada vez mais concentrados em poucos supervendedores. Sempre houve essa concentração? Claro que sim, minha nota abre dizendo isso. Mas ela está se intensificando. A questão é: se os best sellers não estivessem expandindo sua hegemonia, o espaço seria ocupado por autores melhores ou, ao contrário, por ninguém, pela não-leitura? Nada simples de responder, e provavelmente está aí o calcanhar-de-Aquiles do artigo de Tusquets.

  • leo 17/05/2006em10:31

    Sérgio, concordo com você. O meu ponto ao afirmar que Proust/Coelho são dois mercados diferentes. E existem ainda dois benefícios dos blockbusters impressos:
    – Existe sempre a chance de, atraído por Dan Brown, o sujeito perder o medo dos livros e passar a ler de tudo, inclusive as coisas boas.
    – Fortalece a indústria do livro. Da mesma forma que muitos cinemas de interior foram salvos por Titanic, um Paulo Coelho da vida garante a sobrevivência de muitas livrarias.

  • geneton moraes neto 17/05/2006em11:46

    CARO SÉRGIO:
    PARABÉNS PELO NOVO ESPAÇO. VOU VIRAR FREGUÊS. FAZ BEM À SAÚDE DO JORNALISMO UM ESPAÇO QUE PRETENDE TRATAR DE LIVROS E DE AUTORES SEM CAIR NO ÔBA-ÔBA GENERALIZADO QUE DESDE SEMPRE CONTAMINA A COBERTURA CULTURAL EM NOSSA QUERIDA REPUBLIQUETA.
    BOLA PRA FRENTE!
    PIMENTA NOS OLHOS DOS OUTROS!

    ABS
    GENETON

  • Cintia Pereira 17/05/2006em11:59

    Vou dar um pitaco na discussão do Leo, se me permite.

    – Ainda não vi nin-guém migrar de um Paulo Coelho a um Proust, ou “perder medo de livro”. Quem começa com Paulo Coelho em geral morre lendo Paulo Coelho. Acostuma-se com a leitura fácil, é o que os neurônios permitem, e assim fica.

    – Quanto ao fortalecimento da indústria do livro, tenho que concordar. Não fortalece apenas as livrarias, mas tb as editoras; é notório que muitas usam a renda dos bestsellers para sustentar edições que não têm uma vendagem expressiva (ou pelo menos esta é a desculpa que dão).

    De qualquer modo, me parece que a questão aqui é o investimento em marketing mesmo, como ressaltou o Sergio. Se as editoras fizessem o mesmo investimento na divulgação de um Proust (para ficar no exemplo do Leo), não tenho dúvida de que seria um Dan Brown em vendas. Lembro-me da coqueluche que foi “O Nome da Rosa”, um livro que quase todo mundo comprou e quase ninguém leu.

  • Zé Bush 17/05/2006em12:43

    well…A Cíntia tem sua razão ao afirmar que leitores de livros”da moda” nunca irão evoluir para algo mais rico e interessante.
    Tem propaganda em todo lugar, o autor está vivo e pode contratar empresa de promoção para vender sua imagem,pode aparecer no programa do Jô e por aí vai.
    Isso vai aumentar, não tenham dúvida.Talvez seja uma nova forma de “literatice”, essa coisa pré-fabricada e mastigável, mais voltada para “experiencias” do que para relatos ou observações, mais previsível e…com menos páginas….
    A coisa vai virar pop mesmo, na pior acepção do termo, se é que ainda possa existir pior que isso.

  • Zé Bush 17/05/2006em12:47

    well…”Se é cultura, não é popular. E se é popular, não é cultura’.

    Franz Schubert…lá por 1870,80..sei lá..
    Faz tempo.

  • Asdrubal 17/05/2006em14:24

    As pessoas começam a ler Paulo Coelho quando percebem que a leitura é importante – mas sem noção do porque se prega que a leitura é importante.

    Quando tinha 12 anos lia Paulo Coelho com um maravilhamento intelectual que é o máximo que a maioria das pessoas conseguem experimentar hoje. Mas eu padrão de leitura melhorou simplesmente porque eu conhecí pessoas interessantes que me indicaram livros interessantes.

    Porque o problema da má literatura é apenas uma questão de crítica e auto-crítica – enquanto o relativismo do cada um tem seu gosto existir, o mau gosto irá reinar sobre a terra.

  • Edilson Pantoja 17/05/2006em16:21

    Não se pode negar: a chamada indústria cultural impõe e torna o “gosto” homogêneo. Mas, cá pra nós, não se está subestimando em damasiado o poder da leitura, isto é, a capacidade de aperfeiçoamento que ela concede ao leitor? Não saio aqui em defesa da literatura venal, seja ela de auto-ajuda ou algo que o valha, mas penso que quem começa por esse tipo de leitura não tem, necessariamente, que parar por aí.

  • Delsio 17/05/2006em23:51

    Acho, perdoem-me por “achar”, que a Cíntia e Leo mais concordam do que discordam. Creio -mais distinto, falem a verdade- que ela e o Zé estão errados: Paulo Coelho ou Benitez podem dar o gosto pelo mistério e pela leitura a muita gente; que daí partiram para outras literaturas mais elaboradas e não tão rasas.
    Ler é bom, faz mal a saúde, mas é bom!

    :o)

  • Shirlei Horta 18/05/2006em21:17

    Quando Jô Soares e Chico Buarque lançam livros, já sei o que vou ganhar de aniversário. Já ganhei 3 Jôs no mesmo dia. As livrarias foram legais e trocaram pra mim.

  • Vinícius Trindade 19/05/2006em10:56

    Como diria Fausto Wolff, a cultura é arma de defesa pessoal. Tá muito fácil pro “pessoal” empurrar goela abaixo qq disco, qq livro, qq roupa. Vivemos numa época de “em se plantando tudo dá”. As pessoas estão totalmente desarmadas, sem senso crítico, repetindo chavões e se vendendo fácil e por muito pouco. A vida é muito curta pra perder tempo com livros-do-momento. Por trás dos modismos ainda existe o mundo, estamos combinados?

  • marco 19/05/2006em21:56

    ” Uns poucos títulos se convertem em objetos obrigatórios de consumo: todo mundo os deve possuir, todo mundo precisa tê-los lido. ”

    Certo, quanto aos best sellers.
    Mas, convém lembrar, também existe a praga da obrigação de ler o que meia dúzia de intelectuais iluminados julga ser o sal da terra. ( como o onipresente o filósofo da moda presente em todos os cadernos culturais brasileiros a intervalos de 5 anos, em média )

    Não pára por aí.
    Vale tudo, mas tudo mesmo : desde filme iraniano de 8 horas de duração, uma longa viagem pelo tédio, até assitir no Municipal ” As Mulheres Cantoras ” de algum país estranho da Europa Central, xodó de feministas com espaço na imprensa.

    Tudo isso elevado a condição de frutos imperdíveis recomendados ( impostos ? ) pelos doidos deuses do Olimpo Cool Cultural que aflige o Brasil.

    abs,

    ma

  • Sérgio Rodrigues 20/05/2006em12:08

    Marco, achei interessante essa ampliação expressionista que você faz da discussão. Tem alguma coisa a ver com a primeira parte (tremendo narigão de cera, na língua dos jornalistas) da minha resenha sobre o livro do Daniel Galera, ali em cima: distorções de um mundinho pequeno demais – não só numericamente – que acaba se tornando presa fácil e acrítica de modismos. Forte abraço.

  • Edejas Gon;alves de Oliveira 07/06/2006em17:53

    Acho que toda leitura è vàlida. Todos os gëneros. Sò assim poderemos dar nossa opiniáo com conhecimento de causa.
    Porèm, se jà sabemos que o autor náo è dos bons, jugiro náo comprar o livro. Pegue emprestado. Quà qua qua.( náo repare nos acentos, è que o meu teclado està com defeito.

  • Edejas Gon;alves de Oliveira 07/06/2006em17:53

    Acho que toda leitura è vàlida. Todos os gëneros. Sò assim poderemos dar nossa opiniáo com conhecimento de causa.
    Porèm, se jà sabemos que o autor náo è dos bons, jugiro náo comprar o livro. Pegue emprestado. Quà qua qua.( náo repare nos acentos, è que o meu teclado està com defeito.