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A final da Copa, afinal: literatura nacional é para ler?

11/01/2010

Antes de ler “Flores azuis” e “Galiléia”, eu me perguntava por que as livrarias reservam uma parte toda especial, geralmente escondidinha e acanhada, para a literatura nacional. Confesso, envergonhado, que eu via isso com alguma revolta. Um resquício de patriotismo que não saiu no banho, talvez.

“Flores azuis” e “Galiléia” me deram uma explicação para este fenômeno que não é só comercial. Na verdade, tudo é muito simples: literatura brasileira, em geral, não é livro que se queira ler. É livro que se pretende estudar, analisar, discutir. Aquilo que parece um romance é, na verdade, um objeto de estudo — um livro praticamente didático.

Logo, convém mesmo deixar a literatura brasileira bem separadinha daqueles livros que a gente compra porque quer lê-los à noite, antes de dormir, ou na praia. Minha sugestão é que o mercado editorial comece a lançar promoções do tipo “Compre este livro e ganhe uma tese”. Pode dar certo.

Paulo Polzonoff chuta o pau do ombrellone na partida final da Copa de Literatura 2009, em que “Flores azuis”, de Carola Saavedra, derrotou “Galiléia”, de Ronaldo Correia de Brito. Disputada por livros lançados em 2008, a competição termina em 2010, mas não creio que essa morosidade crítica explique inteiramente a frieza com que transcorreu a terceira edição da mais promissora brincadeira literária da internet brasileira. Daí ser bem-vindo o espalha-brasa final, destacado acima. Como toda boa provocação, tem muito de generalização indevida e injustiça, mas o caroço de verdade lá dentro me parece sólido.

57 Comentários

  • Milton Ribeiro 11/01/2010em13:23

    Ele tem razão, hein?

  • Will 11/01/2010em13:30

    Claro que o comentário é pertinente, mas existe uma literatura que não está nas grandes editoras e livrarias (também bancas de jornais). Essa escrita das margens, independente, encontrada, as vezes, nas mãos do autor, ou bares e espaços não convencionais, tem sido minha surpresa e prazer. É, de longe, a melhor literatura hoje no Brasil. Em todas as áreas.

  • gilvas 11/01/2010em13:34

    fico pensando se isso não é complexo de inferioridade dos brasileiros. o que mais poderia explicar esta lacuna imensa na seara dos livros que conciliam diversão e relevância em doses equilibradas?

  • Rosângela 11/01/2010em13:53

    Se corremos o risco de ser obsessivo que sejamos pela exatidão……………………………………………………………………………..

    Buscar a exatidão nos leva ao equilibrio, pois no caminho sempre damos de cara com nossas inexatidões…

    ( Parece que não tem nada a ver… mas “quem tem ouvidos ouça…)

  • Lucas 11/01/2010em13:57

    Cara… A literatura Brasileira é uma droga !!!

    é sempre a mesma coisa:

    o casal que não podia ficar junto, morre no final ou
    apenas um dos dois morrem
    ou alguem que queria o mal do casal morre no fim…
    quando o personagem principal é apenas um também é sempre a mesma coisa… ou o cara fica pobre e mendigo ou ele morre no final !!!

    Escritores daquela época eram tão depressivos e desanimados que quando voce lê a obra deles voce suga os sentimentos depressivos que escreveram aquela história…

    é sempre muito dedusivel ! horrivel !
    da sono ! são otimos soniferos…

    • Luiz 11/01/2010em15:34

      Tá, só o “dedusivel” já denuncia sua autoridade literária que embasa seu comentário.

  • Rafael 11/01/2010em14:05

    Já estou antecipado as gargalhadas que darei ao ler as teses com que os comentaristas procurarão explicar a obsessão dos autores nacionais por teses.

  • Carlos 11/01/2010em14:13

    Ok, a provocação é válida. Mas quem era o público dos romances nacionais até um tempo atrás? professores, grande parte universitários. Como escrever para grande público se não há grande público?

  • Rosângela 11/01/2010em14:25

    Uma dica de leitura universal e imperdível: Eita livro bom!!!!

    E seo leitor for um acadêmico, melhor ainda:

    Fica a diga:

    “Mais Que um Carpinteiro” ( Quem começa a ler não quer parar…)

    De Josh McDowell

  • otavio 11/01/2010em14:54

    Acho que tem uma bela ponta de verdade nisso… lembro-me de uma defesa que o Cony fez, há uns anos atrás, do Paulo Coelho. É um lixo, mas tem gente comprando e lendo. Gente entrando em livraria! Com isso, acho que perde validade o comentário do Carlos, aí de baixo, em que ele diz que o público sempre foi mesmo acadêmico e que não havia grande público no Brasil.

    Será que não havia? Sidney Sheldon e romances água com açucar de banca de jornal não vendiam que nem água? Será que nossa “verdadeira literatura” não foi sempre muito pretensiosa, muito high brow, ainda que muitas vezes sem poder ser? Por que, então, o preconceito tão grande contra o entretenimento? Por que a necessidade de ser de vanguarda, mesmo quando nem se sabe muito bem o que é vanguarda?

  • Eduardo Sabino 11/01/2010em14:54

    Com algumas excessões, a literatura brasileira contemporânea está bem acima do lixo cultural que importamos. Está escondida porque não vende. Não vende porque o entretenimento barato lidera o ranking. Se o público da literatura brasileira são professores produtores de tese, o dos best-sellers estrangeiros (a maior parte deles) são pseudointelectuais produtores de intrigas e fofocas. Entre um livro com o qual posso me ocupar 2 ou 3 horas antes de morrer e outro que me levará a profundas reflexões e questionamentos, fico com o segundo, obrigado.

  • otavio 11/01/2010em14:58

    Mas como assim, Eduardo, e o grande público, não merece nada? Temos que respeitar apenas o sujeito que escreve pra poucos iniciados e que desconsiderar tudo o que tenha entretenimento? Só vale ego trip filosófica?

    Como lidaríamos, aqui, com um Kingsley Amis, com um Evelyn Waugh? Pensei muito mais com a trilogia sword of honor do que com aquele negócio do Flávio Braga sobre a década de 60, com um pastiche de John dos Passos no estilo…

  • Jorge 11/01/2010em15:00

    Talvez ele tenha razão, com os formulas pré-prontas de literatura que as grandes editoras nos impõe. Mas procure ler a literatura que pequenos autores estão colocando no mercad

  • lucia 11/01/2010em15:01

    Sérgio,
    não concordo com as palavras que li. A literatura brasileira tem um dos maiores escritores do mundo (não falo de Paulo Coelho), mas sim de Machado. A sagacidade com que ele compunha o texto é inédito.
    Outros autores que não devem ser esquecidos são José de Alencar e o querido Guimarães Rosa. Este último, inclusive, quase ganhou o Nobel, contudo saberíamos apenas se ele não tivesse morrido antes da premiação.
    Ora, para quem lê a série vampiresca e o bruxinho realmente a literatura brasileira é um lixo. O conteúdo de uma nada tem a ver com a outra. São incoparáveis.
    O que acontece é que atualmente a literatura brasileira perdeu espaço para os best selles. Ou esquecemos que quando Paulo Coelho (agora sim falando dele) lança um livro ele figura constamente na lista de mais vendidos?
    Há qualidade de sobra, mas o problema é que o mercado editorial prefere investir em um material que tem certeza que dará um bom retorno financeiro a lançar um autor desconhecido do públicom cujo material provavelmente ficará nas prateleiras.
    Concluindo, há ótimos autores que tentam publicar um livro, mas que não encontram as oportunidades. Por isso, acho um tanto injusto falarmos que a literatura brasileira é chata e sem graça. Será que não são as editoras que estão sem graça?
    Obrigada.

  • Jose 11/01/2010em15:05

    Talvez ele tenha razão, com as formulas pré-prontas de literatura que as grandes editoras nos impõe. Mas procurem ler a literatura que novos autores estão colocando no mercado e encontrará novas propostas, que nos faz acreditar que qualidade nós temos, o que falta é abrir o mercado para o novo. Procurem ler “Escutei na Feira”de Jorge Davim, da ed. Sebo Vermelho. Um romance regional fantástico. Vale apena!

  • Wonder 11/01/2010em15:25

    Nossa, José, só pelo nome do livro não lerei mesmo! “Escutei na feira”.
    Credo!

    Literatura música e cinema brasileiros são lixo porquê só falam de pobre, de s e x o e bandido.

    Ninguém tem capacidade pra bolar uma ficção científica, ou fantasia, ou policial.

    Por isso que só leio, ouço e assisto coisas estrangeiras.
    Óbvio, melhoro meu inglês, também, fugindo das traduções mal-feitas das editoras daqui.

    • Amâncio Siqueira 30/03/2010em17:52

      Bem que você poderia melhorar o Brasil, indo morar nos Estados Unidos.

  • Wonder 11/01/2010em15:27

    Romance regional… affeeee

  • cely 11/01/2010em15:48

    Sabe o que me deixou realmente espantada e desiludida?
    Depois de ler crítica por crítica,voto por voto,não li um só que tecesse elogios a qualquer um dos livros…Ficou parecendo assim;ruim por ruim eu fico com tal livro.Tem mais, se levar mos conta as críticas,vamos precisar da ajuda dos universitários para ler qualquer um deles.Desse jeito não tem jeito…

  • Rafael 11/01/2010em15:54

    Na minha modesta opinião, a culpa é do mordomo.

  • cely 11/01/2010em15:59

    Em tempo: Tem jeito sim,vou entrar na livraria e nem vou olhar pra prateleirinha escondida ou melhor ainda,não vou mais ler críticas.Vou confiar no meu próprio julgamento…

  • ricardo 11/01/2010em16:15

    Nosso merccado editorial precisa de livros de entreterimento escritos por autores nacionais. Livros de qualidade, bem escritos, fluentes, instigantes. Precisamos de nossos Elmore Leonards, Bernard Cornwells e Jim Butchers. Os autores que se dedicam a essa fatia de mercado estão cada vez mais maduros. Mas o caminho ainda é longo.

  • Leonardo Reis 11/01/2010em16:24

    Hmmm… Pesquisei aqui o nome dos livros da Copa. Não, nenhum deles aparece nas listas de mais vendidos, o que mostra que existem pouquíssimas pessoas que os lêem. E digo pouquíssimas mesmo: sabemos que livros vendem bem pouco no Brasil, mesmo os best-sellers.
    Não vejo problema nenhum nisso, desde que seja este o objetivo dos escritores: escrever para o público ou para o próprio deleite? Transmitir as idéias ou rebuscá-las?
    Eu, particularmente, prefiro o compartilhamento dos pensamentos: uma idéia em uma cuca só (ou, voltando aos livros nacionais, em 3 ou 4 cucas) morre prematura, pouco importando o tamanho do peito ou o esforço da mãe ao aleitar o menino.
    Em resumo: pensar difícil não é escrever difícil. Para quem prefere rebuscar a escrita, que fique sabendo que vai vender 100 livros. No máximo. E um vai ser para a mãe.

  • Fabiano 11/01/2010em16:32

    Detalhe importante: será que ninguém que escreveu se lembrou de mencionar Cristovão Tezza ou Miguel Sanches Neto como modelos de escritores nacionais que merecem respeito e que não devem nada a nenhum bom escritor estrangeiro? Acho que não descobrimos nossos bons autores, porque vários fatores contribuem, como, entre outros: as editoras não ajudam, apenas publicando aquilo que têm certeza que venderá, e que normalmente não corresponde à boa literatura; nós, brasileiros, continuamos com o velho complexo de inferioridade, e assim julgamos os escritores compatriotas com desdém e excesso de crítica; ao invés da conhecida xenofobia de alguns europeus e norte-americanos, endeusamos os estrangeiros, que acabam por conquistar em nosso território um espaço que muitas vezes não têm em seu próprio país de origem.
    Que bons ventos soprem e nos façam reconhecer os bons autores com que contamos!

  • Rosângela 11/01/2010em16:46

    Fui lá.
    Cada um acha o que quer, imagina o que pode e deduz o que consegue dos escritos de terceiros.
    Só fico pensando naqueles tempos em que perdíamos no vestibular porque não interpretávamos “direito” o que o autor “quis dizer”… Muitos perderam a oportunidade de estarem nas “Cadeiras” de Literatura justamente por isso.

    Então…
    É isso…

    Galiléia ou Flores Azuis?
    Tanto um quanto o outro foram lidos, apreciados, julgados e literaturados por nomes importantes e um deles foi gol.

    Pelas falas, ficaria com os dois…
    Pelas filas com Flores Azuis

  • otavio 11/01/2010em16:58

    Gente, desculpem, mas parece que tem muito equívoco por aí… que estória é essa de as editoras apenas privilegiarem o que sabem que vai vender? Em que livrarias vocês andam entrando? Nos últimos dois ou três anos se começou a ver um número cada vez maior de autores brasileiros, não popularescos, publicados por grandes editoras e com grandes estruturas de distribuição. O que falar do Tezza, já citado, do Milton Hatoum, do Flávio Braga, do Reinaldo Moraes, sei lá de mais quem… é só dar uma olhada na livraria cultura ou em qualquer balcão da Saraiva pra ver autores que a gente nunca imaginou que existiam…

    O ponto, aqui, é outro. A questão que se coloca é porque nossos autores insistem no hermetismo. Porque achamos que literatura fácil, sem sangue, não é literatura. Um sujeito aí pra cima falou que prefere algo que o faça pensar ao entretenimento. Tudo bem, mas será essa a saída da nossa literatura? Essa coisa pretensiosa, de porta de Espaço Unibanco, de Vila Madalena dos anos 80, esse espírito FFLCH sem ser e de se achar marginal só por ser arte, não nos condena?

    • Rafael 11/01/2010em17:32

      Isso mesmo, Otávio. Os comentaristas aqui não entenderam o espírito do post e passaram a disparar para tudo quanto é lado: a culpa ora do público, que não valoriza o produto nacional; ora é dos editores malvados, que preferem o porcaria que vende à Arte; ora é dos críticos, que, vejam o horror, criticam. Por conseqüencia inefastável do silogismo, os únicos inocentes são os autores, essas criaturas de talento incompreendido, injustamente rejeitados pela futilidade do público, pela cupidez dos editores e pela hediondez da crítica.
      Nada mais salutar, portanto, que derrubar esses três mitos: embora em número proporcionalmente pequeno, o País tem leitores suficientes para manter uma indústria editorial razoável; as livrarias estão cheias de livros de autores nacionais que não vendem quase nada (como é que os editores não se deram conta disso?); e há críticos que buscam sinceramente uma boa história, escrita numa linguagem decente e sem afetações.

  • Demian 11/01/2010em18:03

    Com exceção do mainstream, são raros os autores brasileiros q tenho saco de ler. Acho boa parte uma porcaria. Autores europeus e (sobretudo) americanos dão de lavada na galera local, sem falar nos sulamericanos consagrados. Tem essa coisa do politicamente correto e de um pseudodidatismo imbecil, em boa parte dos brazucas. E os diálogos? É de uma pobreza… Pode-se constatar isso nas novelas, nos filmes (com roteiros bestas) mas nos livros tb. Esse pessoal tem algo de esquerdopauta mesmo (leio Azevedo peneirando a parte esquizóide dele), achando que há uma necessária “função social” do escritor, do artista, que submete a obra a cânones ultrapassados. Coitadinho do negro, do pobre. “Precisamos mostrar as coisas boas, os bons e edificantes exemplos”. Bem, é isso aí. Sou politicamente incorreto.

  • Maga Ideológica 11/01/2010em18:10

    Após a leitura do artigo desalentador, decidi adiar minha estreia literária para o ano 2050.Obras pós-mortem sempre despertam a curiosidade do público. Enquanto isso, guardarei meus escritos, na esperança de que o mercado literário brasileiro se aqueça com o aumento do nível cultural e da renda per capita do povo brasileiro, já que minha mãe já morreu e não terei quem compre, pelo menos, cem exemplares de minha singela obra .

  • Rosângela 11/01/2010em19:49

    Ah! Por falar nisso, vi uma entrevista do Lula na MTV e achei significativo quando ele disse, “meio que rindo” ( nem sei de quê) que estava lendo “O Leite Derramado” de Chico Buarque…rsrs
    No primeiro momento pensei que ele queria resgatar sua imagem, mas depois percebi que o”Título” o atraiu.

    O leite já está sendo derramado neste Brasil…
    Só não sei quem vai ficar para limpar o fogão…

  • Rosângela 11/01/2010em19:52

    Ah! Desculpa-me insistir neste assunto, mas o mesmo mudou de assunto quanto ao Filme dele. Sim O Filho do Brasil. Disse que não tinha assistido ainda, e, começou a falar de outros filmes. Seria melhor ele ter mergulhado logo, pois ficou ali tentando que as ondas não o molhasse, mas acabou num disfarce tão indisfarçado, que deixou claro mesmo que queria fazer de conta que nada tinha a ver com o filme…
    Acabou molhadíssimo, mesmo sem mergulhar.

    Estes Lulas…

  • Saint-Clair Stockler 11/01/2010em22:37

    Eu fico impressionado com a capacidade – aparentemente inesgotável – que o Polzonoff tem de falar merda. E o mais incrível: ele NUNCA se cansa!

  • joão sebastião bastos 11/01/2010em23:59

    A divulgação e a distribuição, são fatores muito importantes para o que consideremos como sucesso, em termos de literatura nacional. Já que falaram no Paulo Coelho, o seu maior suce$$o (O mago) passou em brancas nuvens antes de ser relançado por outra editora ( Graal ) com o mesmíssimo conteúdo (ou falta dele ).

  • Eduardo 12/01/2010em02:37

    Desde quando este pilantra do Polzonoff entende alguma coisa de literatura? Entende menos que você, que já é uma besta.

    • JH 15/01/2010em23:54

      Mas que tipo de animal de bruta raça é você, Eduardo? Keep it civil, man!

  • Silvio Barreto de Almeida Castro 12/01/2010em07:17

    O fato é que muitos dos livros mais vendidos são escritos para serem filmados, e vendidos na perspectiva ou em consequência do lançamento do filme. Quem sabe com o desenvolvimento do Cinema Nacional não ocorra um maior interesse pelos nosso livros. Há uma inversão de valores, quando na realidade os livros de sucesso é que deveriam ser filmados, explicada pela maciça influência de Hollywood nos meios de comunicação.

  • U-carbureto 12/01/2010em11:12

    Concordo com o Polzonoff (aliás, na minha opinião, a primeira resenha dele, na qual ignorou “O livro dos nomes”, foi muito mais polêmica que esta última), há muito hermetismo e pirotecnias na literatura brasileira atual, o que afasta, afasta mesmo, afasta enojando, os já poucos leitores. Este quadro gera situações esquisitas do tipo: o “Outra vida”, belíssimo e emocionante livro do Rodrigo Lacerda, traz, segundo muitas resenhas, a “grande novidade” de ser um livro escrito para o “leitor comum”, ou seja, a perplexidade é porque o livro é compreensível; ou: observe as entrevistas dos autores na faixa de 30 anos, eles não falam dos seus enredos, personagens, descrições, nem mesmo de suas linguagens, falam apenas de metaisso, meta-aquilo, e esquecem que pouca gente se interessa por isso, ninguém aguenta essa chatice.
    *
    Mas não dá para generalizar, dois exemplos: João Ubaldo Ribeiro e Rubem Fonseca (desconsiderar “O Seminarista”). Eles vendem bem, têm espaços privilegiados nas livrarias, suas obras são adaptadas para outros veículos, ganham prêmios internacionais (realmente) importantes. Por que será? Talvez por uma simples razão: são bons escritores.

  • Rodrigo 12/01/2010em11:22

    Ô Eduardo, já que você deve entender de literatura, que tal dar o endereço do seu blog, ou de algum lugar em que possamos conhecer as tuas opiniões?

    A menos que esteja com medo que os outros te achem uma besta, ou um pilantra.

    • Sérgio Rodrigues 12/01/2010em11:33

      Rodrigo: entendo seu impulso, mas é perda de tempo. A bravura intelectual desse tipo de comentarista evapora à luz do dia.

  • Marcelo Moutinho 12/01/2010em11:42

    “Literatura brasileira, em geral, não é livro que se queira ler. É livro que se pretende estudar, analisar, discutir”. COncordo – e muito – com isso aí.

  • Tomás 12/01/2010em12:12

    Lendo todos esses comentários, sinto que a maioria passa ao largo da questão central. O fato é que literatura brasileira vende pouco, a não ser em casos pontuais. E há exceções além de Paulo Coelho. Temos aí Rubem Fonseca, Luis Fernando Veríssimo, e recentemente Cristóvão Tezza.
    E para mim, este último devia ser o fio condutor deste tipo de discussão. Primeiro porque é um bom escritor, que não deixa nada a desejar aos nomes internacionais e que faz literatura sem se preocupar em entreter.
    Apesar disso, quem o conhecia antes dele ganhar todos os prêmios literários do país? Quem já tinha visto algum livro dele exposto na entrada da livraria Cultura? Ele por acaso tinha uma coluna na Folha de S.Paulo? Não, era um ilustre desconhecido. Ou seja, a editora que o publica não estava dando a atenção necessária a um talento da casa. Até aí tudo bem. Injusto, mas compreensível.
    O que não é compreensível é ver que mesmo depois do sujeito se tornar o autor mais premiado da atualidade o investimento que a editora faz em Tezza é mínimo. Quando o Chico lançou Leite Derramado, a Cia das Letras pintou sua loja do conjuto nacional com a capa do livro. Quando Paulo Celho lança qualquer coisa que seja, temos pilhas e pilhas de livros dominando todas as livrarias da cidade. O Tezza, por sua vez, mereceu uma reedição que estampa os prêmios amealhados na capa.
    Então, o que realmente falta na literatura brasileira é investimento em propaganda e na publicação de novos autores. Claro que vai aparecer muita porcaria, mas não há outra forma. A maioria do que é publicado no mundo é composta por lixo. Mas com o aumento da quantidade, aumentam também as chances de se obter qualidade.

  • Silvio... Silva 12/01/2010em13:24

    Muito lúcido, otavio. Sem querer entrar na espinhosa questão do que seria “o gosto de cada um”, mas o que sinto falta, aqui no país, são grandes nomes que investissem nos gêneros populares, os sempre pichados como “descartáveis” (em oposição aos que fizessem “refletir”, tivessem hermetismos, etc), esses que apostam na construção de personagens e numa história bem contada: aventuras no estilo Louis Stevenson, terror & suspense, espionagem internacional, sci-fi, esportes (corrida, boxe), imitadores (no bom sentido) de fantasias tipo Tolkien e intrigas militares tipo Tom Clancy. Um exemplo do potencial desse nicho eu citaria aquele André Vianco, mesmo eu já tendo folheado algumas coisas dele e não gostado do que vi.

    • otavio 12/01/2010em14:35

      Obrigado! Na verdade, acho, realmente, que tínhamos que baixar um pouco o nariz pra literatura mais popularesca, de entretenimento. Se toda literatura brasileira tem que ser alta literatura, todo cinema tem que ser arte, depois perdemos o direito de nos perguntar porque ninguém compra (ou ninguém vai). E, sumindo o popular, o artístico perde espaço também.

  • Eduardo Sabino 12/01/2010em13:50

    Só para esclarecer possíveis mal entendidos, há mais de um Eduardo comentando o texto. Sou o “Eduardo Sabino” e longe de mim tecer comentários desrespeitosos sobre alguém. Abraços.

    • cely 12/01/2010em14:22

      mesmo porque……com este sobrenome,certamente voce deve ser inteligente o suficiente para saber repeitar quem tem CORAGEM DE USAR O PRÓPRIO NOME para escrever.

  • Rafael Rodrigues 13/01/2010em02:53

    Fiquei com uma curiosidade: o que será que aqueles que reclamam do “hermetismo” dos autores brasileiros acham de Joyce (não precisa ir muito longe, só até “Dublinenses”), Coetzee, Cormac McCarthy e afins? Seriam os três citados autores “fáceis”?

    • otavio 13/01/2010em13:36

      Não generalize, Rafael. Ninguém é contr autoers herméticos. Mas não dá pra ser hermético e comercial ao mesmo tempo. Optando-se por uma coisa, não há como espernear que não há público.

  • Eduardo Sabino 13/01/2010em10:07

    Rafael Rodrigues, agora você foi ao ponto. Os maiores autores estrangeiros – e tomo a liberdade de adicionar na sua lista o Saramago, o Lobo Antunes – também são dignos de estudo. Não são fáceis. Cito uma frase do Herberto Sales, que pode ser interessante para a discussão: “O bom escritor é aquele que nos leva a um reencontro com o que temos em nós de mais profundo e verdadeiro. O resto é conversa fiada”. Acho que essa literatura, que não se entrega tão fácil aos leitores e, por isso, traz o prazer da ironia, das metáforas e outros recursos literários, tende a ser menos valorizada do que o texto que apenas diverte os seus leitores. E, especialmente em países como o Brasil, os leitores não a buscam porque são educados para o pão-e-circo, o entretenimento vazio, desde que tevê é tevê. Não que não haja bons autores entre os bem vendidos. Acho que eles existem. Mas a maioria dos best-sellers são livros vendidos pela faculdade de serem vendidos. Fizeram sucesso lá fora, têm um comentário elogioso da revista Times na capa, e são consumidos quase como sanduíches do MC Donalds por uma classe média sedenta por status e superficialidade.

    • Rafael Rodrigues 13/01/2010em12:35

      Eduardo, obrigado pelo lembrete tanto de Saramago quanto de Lobo Antunes (recentemente tentei ler um dele e confesso que não consegui, deixei pra uma outra oportunidade, umas férias prolongadas, sei lá). Lembrei também de outro livro que não consegui ler, uns 5 anos atrás: “Cem anos de solidão”, do García Márquez. E acho que poderiamos citar um sem número de autores que cujos livros não são nada fáceis de ler mas, ainda assim, lemos. Por outro lado, há também um grande número de autores que escrevem “fácil”, têm obras de valor e são ignorados tanto pelos leitores quanto pela crítica. É muito curioso isso. Rende uma boa e longa conversa.

  • Cristiano Silva 13/01/2010em13:09

    Também gosto de livros de alto-ajuda e todos que contém figuras. Adoro best, os mais vendidos também. Todos os dias leio algo, logo após o jornal nacional. Isso sim me da sono. E pesadelos.

  • Daniel Brazil 14/01/2010em20:06

    Puxa, 50 comentários e ninguém falou de Jorge Amado. Ou de Ana Maria Machado. Ou de Ruth Rocha. Ou de Monteiro Lobato. Ou de Jô Soares. Ou de Zé Mauro de Vasconcelos.
    Tá bom, sei que nem tudo aí é literatura que se indique para pessoas de bom gosto, mas creio que quem comprou estes autores não foi “estudar, analisar, discutir”. A imensa maioria dos leitores – cada um em sua época – queria apenas bons momentos de leitura, me parece.
    Desconfio que mesmo ensaístas como Eduardo Bueno e o Laurentino (“1808”), vendem mais para “leitores” que para “estudiosos”, como quer fazer crer o Polzonoff.

  • clelio 26/01/2010em16:24

    Essa Carola Saavadra escreve como a Carola Scarpa. Deve é ter muitos amigos na “ceninha” cultural…

  • Roberval 27/01/2010em05:11

    Escrever para grande público é escrever para estas bestas que comentam no seu blog: gente que escreve “dedusível” etc. Vocês todos se merecem, foram feitos uns para os outros: como o lixo e o depósito de lixo…

  • Amâncio Siqueira 30/03/2010em18:34

    É complicado demais isso. Os críticos achincalham as produções para a massa pela falta de conteúdo e bla bla bla, depois lascam a lenha em quem escreve com conteúdo. Se os escritores começarem a escrever para o grande público, como muitos têm defendido, chegaremos na literatura ao mesmo nível da música: a cada tecnobrega com bunda vem um fanque com chana e mais e mais se aproxima do gosto do público.
    Aliás, o gosto do público ou das gravadoras, que preferem investir em artistas facilmente descartáveis?