Sabe aquela tirada do sujeito do Nobel de que os escritores americanos não têm chance de ganhar o prêmio porque são “isolados demais” e “não participam do grande diálogo da literatura”? Ia comentar isso aqui, depois desisti. O que dizer? Certas afirmações são tão estúpidas que têm a capacidade de contaminar com sua burrice qualquer resposta, seja contra ou a favor.
Em silêncio eu ficaria se não tivesse esbarrado há pouco num boato que, embora tenha um certo jeito de maluquice, ou talvez por isso mesmo, é a única coisa aproveitável que li em reação às declarações do síndico da Academia Sueca: todo esse antiamericanismo literário não passaria de um plano extremamente bem elaborado para desviar as atenções do fato de que J.D. Salinger é um dos favoritos ao prêmio este ano.
Hein? Alguém mencionou “escritor isolado”?
5 Comentários
Salinger é um Genio . Merece
Sinceramente? Se for premiar um autor de apenas três livros, que premiem Raduan Nassar. E não é patriotada minha, mas eu lí toda fortuna do Salinger (fortuna que parece minha conta bancária de tão exígua), e embora eu goste muito dos contos, e por mais que eu admita que o “Apanhador…” inventou o que chamamos de adolescência e por mais que eu assuma todos os méritos que o Salinger teve como escritor (que ele deixou de ser até onde se sabe), a obra dele não passa de livros adolescentes empoeirados desde a década de 60.
O sujeitinho disse: “Em todas as grandes culturas, existe uma literatura poderosa, mas não podemos desprezar o fato de que a Europa é ainda o centro literário do mundo… não os Estados Unidos. Os Estados Unidos estão muito isolados, muito insulados. Eles não traduzem suficientemente e verdadeiramente não participam do grande diálogo da literatura.”
Para um europeu, o “grande diálogo da literatura” não é senão o grande diálogo da literatura européia. Sempre foi assim: a literatura mundial, para os europeus, é a literatura produzida na França, na Alemanha, na Inglaterra, na Itália, na Espanha e, honrosa exceção, na Rússia e na Grécia antiga (a atual, é óbvio, não conta).
Quando é que os europeus reconhecem a universalidade de um não-europeu? Quando esse não-europeu (por exemplo, Borges) segue fielmente a tradição literária da Europa. Nada a ver com a idéia de Weltliteratur pensada por Goethe, pois esse eminente poeta, que nesse ponto não parece ser um alemão, tinha um sincero interesse por escritores árabes e persas, cuja influência foi decisiva nos poemas do West-östlicher Diwan.
A literatura européia é tão insulada quanto a americana e o fato de os europeus não se darem conta disso é que faz deles um povo provinciano.
Salinger Nobel?
Uau… isso seria do balacobaco..agitação, rebu… Será que ele discursaria? Será que daria entrevistas? Nossa!
O sueco só teve a coragem de falar o que 70% do mundo pensa. Grandes nomes? John Hoyer Updike é o americano mais próximo de merecer a honraria (e aquela bufunfa toda, que vem junto com a medalha). A literatura americana estacionou nos anos 70 e desde então está mais preocupada em olhar o próprio umbigo.