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A literatura jornalística de William Kennedy e Colum McCann

07/08/2010

O processo criativo da escrita foi o tema proeminente da mesa “Albany, Nova York e outras Aldeias”, que pôs cara a cara o americano William Kennedy e o irlandês Colum McCann, neste sábado, na Flip. Jornalistas de formação, ambos fazem da investigação – da reportagem – o caminho para criar personagens e histórias.

“Uma das minhas personagens era uma prostituta do Bronx, e minha mãe ficou curiosa para saber de onde eu a conhecia”, contou McCann. “Mas eu não a conhecia, claro, eu a criei a partir de meses de conversa com prostitutas reais, com policiais, com pessoas nas ruas. Eu pesquisei até ouvir a voz dela, até sentir que ela existia, que ganhava vida.” O irlandês disse que recomenda às pessoas que escrevam sobre o que não conhecem – o que as forçaria a investigar e encontrar surpresas.

“Para escrever sobre Albany, eu comecei a entrevistar o meu pai, a minha mãe. Comecei a perceber como a minha cidade era grande, maravilhosa”, disse Kennedy, famoso pelo chamado ciclo Albany, uma série de sete romances ambientados na cidade natal do escritor. Kennedy destacou, porém, diferenças entre o processo de feitura do jornalismo e da literatura. “Ainda sou repórter, e sempre fui. Mas, como romancista, eu preciso levar um projeto por um longo período, me aprofundando nele. Como jornalista, a gente lida com o novo todos os dias.”

Para Kennedy, o escritor tem de coletar informações sobre o que deseja escrever, e depois deixar que a imaginação elabore as informações. Esse processo de elaboração pode durar anos. Ironweed, livro com que ganhou o prêmio Pulitzer e que virou filme sob a direção de Hector Babenco, foi escrito em oito meses. Mas ele pode demorar até oito anos para terminar um romance, chegando a escrever apenas uma linha em um único mês. “O processo de escrever um romance é o de conviver por anos com os personagens. Se você não faz isso, não obtém a topografia deles, não entra por debaixo da pele. Passei noites tomando vinho barato com um personagem.” McCann disse algo parecido – “Sinto que poderia tomar um chope com meus personagens”.

Ironweed, aliás, também foi assunto da mesa. Kennedy lembrou como o livro mudou sua vida. “Eu trabalhava como jornalista e recebia um salário abaixo da linha da pobreza. O livro foi lançado em janeiro de 1983 e teve apenas uma crítica negativa. Foi uma enxurrada de elogios, que me proporcionou o convite para dar aulas na universidade de Albany, ganhando o dobro do que eu ganhava, e um telefonema de uma fundação americana, que me anunciou uma verba de 250.000 dólares, livres de impostos, pelos cinco anos seguintes. Lembro que a ligação aconteceu um dia antes do meu aniversário. Foi uma semana e tanto.”

Mais ou menos por essa época, Colum McCann deixava Dublin para viver pela primeira vez em Nova York, cidade que lhe renderia, no futuro, material para Deixa o Grande Mundo Girar, livro vencedor do National Book Award de 2009. McCann tinha 17 anos e passou seis meses em NY. Por lá, seus interesses se voltaram para o submundo. “Me atraio pelos personagens marginais.”

Maria Carolina Maia

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