O movimento BookCrossing lançou há seis anos nos Estados Unidos a idéia de abandonar livros em lugares públicos para que outros os leiam e depois, por sua vez, também os “esqueçam” por aí. Agora o metrô de Londres criou um programa semelhante, o London Book Project, com a diferença básica de que os livros são fornecidos pela empresa e não por leitores voluntários. Exemplares de segunda mão foram espalhados nos assentos dos trens para que os passageiros comecem a lê-los na viagem. Se for fisgado pelo autor, qualquer um pode levar os volumes para casa à vontade, mas sempre tendo o cuidado de, ao fim da leitura, deixá-los de volta no metrô. Dos dois lados do Atlântico, cada exemplar é numerado para permitir que seus leitores relatem – e acompanhem – a trajetória do livro na internet.
Idéias muito, muito simpáticas. E inviáveis no Brasil, infelizmente. Ou não?
71 Comentários
Se é viável no Brasil eu não sei, mas aposto que, se por acaso a moda pegasse por aqui, o que apareceria de livro evangélico e espírita pelos bancos não seria brincadeira…
Leitura não me parece um problema de disponibilidade, nem de recursos financeiros, e sim de hábito. Ninguém, em nenhum município brasileiro, precisa gastar um real sequer para ter alguns livros à disposição. Qualquer lugar tem pelo menos uma estante com um ou outro livro meio desgastado mas disponível. Há vários livros muito baratos em bancas; enfim, quem não lê é porque teve uma educação de má qualidade.
Essa iniciativa de Londres é bacana, mas o londrino não precisa disso: é um povo de uma cultura impressionante, e para isso basta ver os comentários e cartas até em jornais mais populares (Daily Mail etc). O cidadão médio no Reino Unido é fruto de um sistema educacional muito competitivo, e a literatura inglesa me parece a mais universal de todas, abre as perspectivas do leitor para o mundo e a civilização. E historicamente a distribuição da literatura no Reino Unido é democrática, vide a Penguin, p. ex., ou os compêndios populares de Oxford e Cambridge etc. Ou seja, essas sementes literárias furtificarão porque o solo, o público leitor, é receptivo. Agora isso pode criar questões de insegurança, há uma paranóia forte em relação a objetos deixados em espaços públicos tipo trens, aeroportos etc.
Lembro que, no Japão, ao que parece existe o hábito de se deixar os mangás já lidos em espaços à vista nos trens e metrôs p/ que outras pessoas peguem e possam ler tb.
Livros espalhados estrategicamente em metrôs, ônibus e lugares públicos seriam a “farra do boi gordo” para os catadores de papel. Fariam filas nesses lugares, contando com mais essa fonte de rendimentos, na vendagem do papel para a reciclagem. Muitos rasgariam o papel para assoar o nariz. Outros olhariam de esguelha, torceriam o nariz e fariam de conta que não viram nada. Para muitos não há nada pior que o risco de serem contaminados pelo vírus do conhecimento. Esse, sim, perigosíssimo.
Não precisa espalhar nada, na estação Central do Brasil, no Rio de Janeiro há uma biblioteca gratuita , além da Municipal que fica em frente, que está fazendo sucesso com os passageiros.
Ana, de biblioteca pública os londrinos entendem bem mais que nós. Mas existe uma grande diferença entre ser “encontrado” por um livro fortuito no assento e ir deliberadamente atrás de um. É essa diferença que faz a graça da iniciativa, eu acho.
Estou com o Tibor Moricz. Isso sem contar com a pressão ferrada de nossas modernas editoras, que fariam de tudo pra iniciativa não emplacar.
Mas, se não me engano, há uma tímida mobilização pra fazer isso no 11 de setembro, não?
Eu mal consigo levantar um braço no metrô, que se dirá ler um livro.
Outro dia fiz uma matéria sobre um DVD encontrado num assento do Estação, no Rio. Estava escrito na capa algo como “Você foi encontrado por este DVD”. Era de uma produtora paulista-gaúcha, com um documentário sobre a cerveja (Antarctica) Original e uns curtas de animação. Espalharam 500 (acho que era isso, não lembro bem) por Rio e São Paulo. Boa estratégia.
Mas acho que não precisamos ser tão pessimistas assim em relação ao nosso país. Apenas é preciso adaptar às nossas circunstâncias, que infelizmente têm limitações maiores do que o Reino Unido. Cito uma iniciativa realizada pelos alunos e professores de Letras da UFMG recentemente aqui em Belo Horizonte: uma folha tamanho A4 foi impressa com textos literários em ambos os lados e foram pinturados nas pontronas dos ônibus. O leitor se sentava, puxava o cardápio e durante 10 ou 15 minutos tinha o prazer de viajar com grandes nomes da literatura brasileira, através de contos, crônicas e poemas. O projeto se chamava “Leitura para Todos” e foi um sucesso.
Algo bem parecido também foi feito aqui no Recife, Leandro.
Pode até ser que desse certo, mas a única coisa “gratuita” que o poder público dá ao povo no Brasil é vacina e bala de borracha. Por enquanto.
Na minha opinião, qualquer tentativa que desperte e/ou facilite a possibilidade da leitura é bem vinda. Quem sabe não seja também uma nova forma de tentar dar um pouco mais de educação não só pela leitura mas também pelo compromisso de devolver o livro para que outro leitor possa dele desfrutar?
Frida
Nesse país de pilantras?…
SR, eu penso que não há incentivo algum, para a pessoa que não tem gosto por ler (e não uso ‘hábito de ler’ de propósito), por parte dessas ações. E acho que objetivamente não há incentivo possível para se criar esse gosto.
Tenho certeza de que essa pessoa não vai ler e pronto; e evidentemente não é por isso que há algo de errado com ela (aqui já estou indo para outro lado, sei que você não disse o contrário).
Um abração a todos.
Comopoeta penso que a idéia é fantástica, porém, no caso do Brasil, onde se lê muito pouco, os poetas publicam seus livros às suas expensas. Daí, o ideal é que houvesse um patrocínio de alguma empresa de grande porte, que viabilizasse o projeto e, por consequênia, faria seu marketing institucional.
Comopoeta penso que a idéia é fantástica, porém, no caso do Brasil, onde se lê muito pouco, os poetas publicam seus livros às suas expensas. Daí, o ideal é que houvesse um patrocínio de alguma empresa de grande porte, que viabilizasse o projeto e, por consequênia, faria seu marketing institucional.
Complementando meu comentário, tenho o hábito de deixar meus livros em algumas livrarias, misturados aos livros de autores já consagrados. Ainda não tive notícia de alguém que tenha apanhado o livro e questionado ao gerente da livraria. Porém, permanece a esperança de algum reconhecimento.
O brasileiro desonesto como é, com certeza levará o livro para casa só para engavetá-lo, nem proveito para se ele teria.Péssima idéia.
Eu já fiz isso, em 2002. Coloquei um recado de que deveriam devolver o livro às ruas novamente. Não sei se deu certo. Eu, nunca encontrei nenhum. Tramandaí-RS
Desde de 2003 se fala do Bookcrossing no Brasil (tlvz não tão enfaticamente). Existe um site com uma proposta semelhante em http://www.circulandoolivro.org.br.
Primeiro o Brasil deveria construir o metrô. Depois…..
Ps- não custa lembrar aos mais nacionalistas que as cidades de SP e Rio são apenas uma pequena parte do Brasil.
Agora, eu fiz uma coisa (diferente, creio) no romance que lancei ano passado. A trama se passa em algumas bibliotecas do Rio de Janeiro. Durante as minhas pesquisas nessas bibliotecas (Nacional, ABL, Municipal da Tijuca, etc…) eu encontrei diversos livros anotados. Em geral essas anotações eram interessantes, eram memórias deixadas pelos leitores anteriores desses livros. Então, tive a idéia de no meu livro apontar para um desses exemplares que consultei. Incluí (no meu romance) a referência desse exemplar específico que poderá ser encontrado em uma dessas bibliotecas do Rio.
Vamos fazer um mutirão pra encontrar esse livro. Ao vencedor, um exemplar de SD8 autografado.
Acho que é uma idéia legal. Penso que é uma maneira de fazer a biblioteca “sair” e ir até o leitor.
Considerando que nem sempre os leitores têm tempo, dinheiro para o acesso a biblioteca.
Acho que pode favorecer a solidariedade. Tem um site que apresenta a versao brazuca para isso. É o Literatura online. O
site
http://www.unifolha.com.br/Materia/?id=26896
traz uma matéria sobre isso e apresenta números impressionantes no mundo.
bah acho essa idéa magnifica adoraria achar livros espalhados pela cidade, porém, também creio que aqui no Brasil isso seria muito complicado… além de boa parte do pessoal não ter este hábito (o que não implicaria tanto na questão), ainda há os que de maneira alguma respeitariam este ato!
Por que gente mal educada tem aos montes…
Sérgio,
Não só daria certo como dá. Aproveitando uma mudança de casa e de estado separei uma porção de coisas (qualidade variada), cadastrei no BookCrossing (acho que foi você quem falou dele aqui, pelo menos tenho impressão), colei etiquetas informando a brincadeira e comecei a espalhar.
Alguns somem, a maioria não. Chico Buarque, como eu imaginava, some em poucos giros. Tietagem, acho eu. Livros do Dalai Lama (não pergunte!) giram para sempre, com as pessoas sempre postando no BookCrossing e agradecendo. Vai ver que é a “iluminação” dos leitores.
A “quebra” é parte do jogo. Mas é bem interessante. Estou agora juntando uma nova leva para soltar.
Livros do Dalai Lama não são aqueles que as pessoas sonham em ter na prateleira.
Eu acho muito interessante. Aliás, iniciativas para formação de leitores são sempre válidas, uma vez que o hábito de ler (ou gosto pela leitura, como alguém disse acima) da população ainda vai de mal a pior…
Sou estudante de Biblioteconomia e me assusto com o pessimismo de alguns comentaristas. Ninguém nasce “educado”! O ideal seria encontrar esse ambiente de leitura em sua família, depois continuar na escola…
Se falta o hábito de leitura, ótimo que exista o Bookcrossing. Se um catador levar o livro, que ao menos ele tenha vontade de ler antes de reciclar. Se o cara, numa atitude egoísta, levar o livro pra casa, que ao menos fique ao alcance de seus familiares. Se a pessoa sentir vontade de ler, já alcançou e muito o objetivo. Acho que isso é o que vale: despertar a vontade de ler. Aí, se encontrar outro livro, e tiver mais vontade de ler, melhor ainda. E se achar legal, deixar o livro no local onde encontrou, para que outra pessoa possa usufruir. E por aí vai.
Num país como o nosso, onde nas escolas (o “segundo” ambiente para formação de leitores) sequer têm professores, onde as crianças passam de série sem aprender a ler e escrever, acho louváveis iniciativas da própria sociedade. Não dá pra esperar que o governo faça, muito menos as grande$ editora$.
Muito boa a iniciativa do Metro Rio, que lançou o projeto Livros e Trilhos, mantendo uma biblioteca na Central do Brasil.
Talvez, Sérgio, a idéia importada tal como é na gringa não funcione tão bem aqui (pelo menos no começo – mas dai é ver se as empresas ou os voluntários bancariam o projeto até se tornar hábito), mas idéias parecidas existem (ainda tímidas), como essa aqui:
http://www.metro.sp.gov.br/cultura/embarque.shtml
Em estações estratégicas são montados quiosques para empréstimo de livros. Começou só na estação Paraíso (na linha mais nobre do metro daqui). hoje já tem mais duas unidades (no metro luz – q não aparece ai nesse link e na estação tatuapé). E a procura por livros lá é sem parar. Claro que a maior demanda é por livros de auto ajuda e religiosos, mas um Içami tiba convive perfeitamente com um Borges lá, sem problema algum.
Ah, esse lance de que os catadores de lixo é que “usariam” os livros, não podemos esquecer que uma das mais belas iniciativas culturais surgidas em são paulo foi a biblioteca (montada por um catador) na ocupação do prédio da Prestes Maia. Lá virou um dos mais importantes centros de convivência cultural da população desassistida. Uma Casa das rosas do povo. Intelectuais do calibre de Alfredo Bosi, Aziz Ab’saber e Antonio Candido já deram palestras lá.
Menos preconceito, gente.
Esse projeto do metrô de SP é fantástico. Em vez de abandonar livros por aí – a idéia é legal, mas pouco prática, ainda mais no Brasil – , sugiro doar exemplares para o “Embarque na leitura”. Já comecei a juntar os meus.
O interessante com o BookCrossing é que os exemplares acabam ganhando uma história registrada de onde estiveram, de quem os leu. Claro, há sempre o risco de eles não serem mais reportados, o site diz o indíce de retorno é de cerca de 23%.
Se um livro cai na mão de alguém talvez ele o leia, talvez não… faz parte do jogo. Mas a iniciativa é boa. E como fazer para inventivar o hábito da leitura? Eu leio muito, e comecei com revistas em quadrinhos. Antes, os textos longos me assustavam, coisa de criança… mas que precisa ser vencido. Moro em uma cidade mineira, interiorana, e aqui os filmes das locadoras são preferencialmente dublados (agora o dvd mudou isso embora a maioria os assista dublados) porque o pessoal mal consegue ler as legendas.
Eu fiz um projeto cultural e fui atrás de realizá-lo… e conto pra vocês um pouco dessa história. O projeto se chama “Caminhos da Leitura” e tem como objetivo distribuir revistas em quadrinhos dos principais romances brasileiros e de língua portuguesa. Faremos quadrinhos dos romances de José de Alencar, Machado de Assis, Lima Barreto, Monteiro Lobato, Alcantara Machado, entre outros… e o principal, os distribuiremos gratuitamente nos postos de pedágio das principais rodovias do país. Por que postos de pedágio? Porque é um sistema de distribuição sem custos, já que procuramos uma grande permissionária de estradas estaduais privatizadas e os caras gostaram da ideía e se prontificaram a fazer as distribuições. No entanto, eu tentei convencê-los de bancar os custos totais do projeto uma vez que os pedágios são um alvo frequente da indignação popular pelos valores elevados que cobram (sem entrar no mérito aqui). Ainda assim não tive êxito… mantiveram-se irredutíveis. Uma pena, tanto pra gente quanto pra eles, que parecem não perceber o valor de um projeto desta natureza. Revistas assim não são novidade. Até nas bancas são encontráveis… só que tem um custo e por isso são vendidas. Nos anos 40, 50 e 60 a EBAL lançava por aqui as Edições Maravilhosas. Um projeto privado e visando o lucro, mas fantástico. Eu mesmo tenhos vários números. O que queremos é distribui-las gratuitamente. Imaginamos que a revista irá parar nas mãos de várias pessoas da família agraciada (as tiragens tem número limitado, embora aos milhares) e, por isso, de um alcance maior e ilimitado. Então nos restou procurar por empresas interessadas em patrocinar o projeto… e até agora nada conseguimos de substancial. É o Brasil! Quase não há sensibilidade empresarial para projetos culturais e quando os há, existe um vício, só nomes famosos e conhecidos tem acesso aos patrocínios… basta ver as páginas de publicidade dos grandes jornais e revistas, sem contar as emissoras de tv. Sem este nome – que poderia abrir portas – fica praticamente impossível continuar. A gente fica triste, mas é a vida… pelo menos a que temos em terras tupiniquins. Seria bom ouvir de vocês opiniões a respeito. Abraços.
só sei que tentei já “bookcrossear” uns 6 livros espalhando por São Paulo, nos lugares mais diversos (de ônibus a centros culturais) e até agora nenhum foi registrado no site como encontrado. Frustrante, no mínimo.
Acho que o relevante nesse assunto não é o hábito da leitura, isso já é sabido que o brasileiro não tem, mas cultura é adquirido de maneira mais fácil do que caráter. Infelizmente o Brasil está muito longe de ser um país de primeiro mundo, eu sou capaz de apostar que esses livros não seriam devolvido de forma nenhuma quer por apreço ao livro, reciclagem ou simplismente por “lucrar” por algo que não se pagou. Porém quando um brasileiro vai a algum desses países se comporta de maneira bem civilizada, como um verdadeiro cidadão, coisa que se perde pelo caminho.
tem esse site aqui com uma proposta semelhante:
http://biliv.blogspot.com/
não acho que catadores de papel vão destruir os livros, acho se caírem na mão deles eles vão pegar e ler.
abz
Vocês podem mandar seus livros aqui pra casa, estou precisando. Não aceito: André Vianco, José Sarney e Paulo Coelho (abro uma exceção para este se o livro for em francês).
Livros de Ficção Científica e Fantasia têm prioridade, mas alerto: se forem da soi-disant “editora” Novo Século, a chance é grande de eu recusar o presente.
“Tudo (nos livros) que é literatura procura comunicar poder; tudo que não é literatura procura comunicar saber.” THOMAS DE QUINCEY
Juro que não entendi o que o Thommy quis dizer. Alguma alma literária caridosa pode desenhar pra mim? Quando é que, nos livros de literatura, alguma coisa deixa de ser literatura? Je ne sais pas. Será que o Quincey escreveu isso depois de bater um pratão de ópio? Parece algo do mesmo nível do “O Haiti é aqui, o Haiti não é aqui”…
Mira, isso deve ser realmente chato. Curiosidade: quais livros você soltou no mundo?
Bogotá começou a fazer isso nos pontos de ônibus há dois anos, é um sucesso por lá. o programa se chama Libros al Viento…
Saint-Clair, a frase do comedor de ópio é enigmática mesmo. Talvez ajude uma observação: ele se refere a livros em geral, não aos de literatura. Acredito que tente corrigir a dicotomia clássica – entre os livros que ensinam, isto é, os “sérios”, e os que “divertem”, ou seja, a literatura – dizendo que esta é mais séria ainda, pois vai mais fundo no estudo das relações interpessoais e ensina diretamente… poder. Algo assim. Isso se não for tudo barato de ópio mesmo, vai saber.
Tenho outra interpretação para a frase do Quincey. Quando ele diz que num livro “tudo o que é literatura procura comunicar poder”, está se referindo aos momentos em que o estilo do autor se sobrepõe ao texto. É quando a literatura se torna por demais “literária”, perdendo assim a conexão com a vida. É ao poder do “criador” que Quincey se refere, aos momentos em que a literatura serve apenas como demonstração de talento. Só quando consegue superar a retórica, ou seja, quando deixa de apontar apenas para si mesma, é que a literatura adquire grandeza verdadeira e, enfim, comunica “saber”.
É por aí ou viajei legal?
Ah, Sérgio, sim, agora a coisa se tornou mais clara: estava pensando que ele se referia só a livros de literatura. Se é a todo tipo de livro, acho que começo a perceber uma luzinha no fim do túnel…
Roberto R.: sua interpretação me lembra algumas coisas do Barthes no seu o prazer do texto. A tradução brasileira é meio ruim… Barthes faz uma diferenciação entre “texto de prazer” e “texto de gozo”, mas na tradução brasileira optou-se por transformar este último em “texto de fruição”, o que dá uma outra conotação à coisa. Discordo dessa opção, até porque as metáforas que o autor usa pra falar dos textos de gozo [“jouissance”] são todas sexuais, hahaha. Essa pudicícia não fez bem à tradução. Tenho o projeto de um dia traduzir esse livro – é pequeno, tem umas 100 páginas – mas só deus sabe quando…
Em várias estações do metrô de SP existem máquinas que vendem livros muito baratos, alguns por um preço menor que uma viagem ida-e-volta. É uma inciativa legal mas não sei como está indo pois só as máquinas já devem ser bem carinhas e as margens mínimas, o que geralmente é complicado de manter.
me mantenho cético quanto a idéia de que o bookcrossing possa “converter” um cidadao “nao leitor” em leitor. Acredito que esse tipo de ação tem resultado efetivo sobre leitores. Epecialmente sobre leitores “amortecidos”.
Humm..talvez pegassem para vender em sebos ou talvez fossem todos parar em “Achados e perdidos”.
abrs,
“Tudo vale a pena se a alma não é pequena…”
Para muitos “leitores” no Brasil, o dito seria outro: Ler talvez valha a pena se a obra for pequena.
Funcionaria, claro. É só se fazer uma campanha explicativa. Sumiriam alguns livros, claro, mas duvido que eles não sumam em Londres.
Abraços.
Seria perigosíssimo isso aqui! Imagina a guerra ideológica que poderia começar: vai que o MST resolve espalhar livros nos metrôs, tentando doutrinar e convocar a população para a “revolução”…Eu hein!
É isso aí, como eu disse lá em cima e a Lorena também comentou agora, acho que no Brasil isso tem tudo pra virar algum tipo “guerra ideológica”. O que vai ter de livros evangélicos, “comunistas”, espíritas, do universo racional et similia…
Faltou citar Tim Maia “Racional”:
“Mas lendo atingi o bom senso…”
Uma iniciativa semelhante benvinda aqui no Brasil seria “esquecer” leitura de qualidade e acessível nos consultórios de médicos e dentistas. Quem lê tanta Contigo, Caras … ?!
Menosprezamos demais nosso pais (falta o acento aqui… nao encontro todos os acentos neste teclado) e nosso povo. So vivendo fora (e nao precisa ser por muito tempo, nao) para saber. Na França encontrei pouquissimas pessoas interessadas em literatura, cultura ou arte. Muitos nunca leram ou, pior, nem sabem quem foram Beauvoir e Sartre, por exemplo. E como tem livro do Paulo Coelho! Ver um advertising de seu ultimo livro nos ônibus de Paris foi um tanto perturbador. Aqui entramos em outro ponto: na Inglaterra muitas pessoas têm o habito de ler, mas o que elas lêem? Livros do tipo “mulheres isso, homens aquilo”, ” como viver bem”, etc oferecem praticamente o mesmo que uma Contigo, Caras e outras tantas revistas que encontramos aos montes em qualquer lugar. Nao estou afirmando, nao sei o que os britânicos costuma ler, estou apenas ponderando.
Nao sei se esta iniciativa funcionaria ou nao no Brasil, mas so tentando para saber. Com uma boa campanha (para que as pessoas saibam que podem pegar os livros), talvez, porém, como alguém comentou, nao acredito que tal iniciativa seja capaz de converter nao-leitores em leitores. O mesmo ocorre com a internet: milhares de sites bons e interessantes com pouco frequentadores.
Rubia, meu testemunho é outro. A única coisa que você falou que corresponde a minhas experiências é que, de fato, na Europa Paulo Coelho é exposto na vitrine das livrarias, os livros ficam do lado do caixa etc etc.
O que existe, tanto na Inglaterra quanto na França, são mercados distintos: há o público de auto-ajuda mas também o leitor mais culto. O caso do “Les Bienveillantes”, vencedor do Prêmio Goncourt que mencionei em outro tópico, é um exemplo. Qual obra literária despertou no brasil qualquer tipo de discussão nos últimos anos?
Voltando ao tópico, essa dispersão de livros corresponde, de certa forma, à própria dispersão e fragmentação da cultura hoje em dia. As pessoas têm tantas alternativas que acabam sem escolher nada, ou optar pelo que encontram num banco de metrô. A biblioteca, o centro difusor de saber onde as pessoas iam buscar conhecimento, virou um depósito de estudantes decorando à noite o conetúdo da prova do dia seguinte. Essa iniciativa do Bookcrossing pode até ser boa, mas é tb sintomática da depreciação do ato da leitura.
A médeia de leitura da população brasileira é de dois livros anuais…
E não, não funcionaria… por diversos motivos:
-não devolveriam os livros,
-não chegariam nem e pegá-los,
-empurrariam para baixo dos bancos,
-jogariam para fora do metrô,
-iriam arranar as páginas para anotações, “higiene pessoal”, “torpedinhos”, etc,
-seriam coletados pelos catadores de papel como bem disse o Tibor,
-os livros ficariam anos e anos sem serem molestados pela falta de interesse,
-os livros demorariam muito para retornar ao metrô pela lentidão na leitura,
-os livros iriam se perder depois de lidos ou não haveria a preocupação em devolvê-los para circulação…
E por ai vai… poderia passar um dia todo enumerando situações que o povo brasileira iria criar para essa iniciativa não dar certo, inclusive o fato de se incomodar quando alguém está lendo algo por perto…
Digo, a média de…
Digo, iriam arrancar…
Sérgio? Tá meio sem assunto?
eu sugiro um “Primeira Mão” com “Síndrome de Cérbero” 🙂
E qual o problema em aproveitar um programa desse tipo para a divulgação de propostas políticas? Ora, os livros ficariam devidamente identificados nos bancos e os passageiros pegariam ou não.
Numa ala estariam brochuras do MST, na outra uma compilação de artigos de Olavo de Carvalho; pregações de Inri Cristo se somariam às diatribes de Edir Macêdo contra o candomblé, e preciosidades como “E a história começa …” ficariam abandonadas num canto, enquanto estudantes de Administrações de Empresas não largariam mão da revista Você S.A..
Seria pegar ou largar, meus caros.
Duvido que o Sérgio tenha lido o livro do Tibor.
Sérgio: leu ou não leu?
Não. Recebi o livro do Tibor, mas ainda não tive tempo de ler.
e o SD8, vc recebeu? Eu pedi para a editora enviar um exemplar para vc…
Não recebi, Claudio.
Vamos resolver isso. Rua do Russel 270, 5º andar, Rio de Janeiro RJ 22210-010?
É isso aí.
Quero agradecer publicamente à JR Editora, cujo primeiro livro ficcional publicado foi o Síndrome de Cérbero, por me enviar sem nenhum ônus, totalmente grátis, o romance de Tibor Moricz.
Espero que outras pessoas se animem a fazer o mesmo, não é Claudio?
Saint-Clair: recado recebido, processado e compreendido 🙂 veja o seu email, por favor. Abs.
Essa idéia é mais viável no Brasil do que na Inglaterra. Objetos abandonados no metrô, com o beneplácito das autoridades? É o sonho de qualquer terrorista! Eu, se visse um livro largado na Inglaterra, não chegava nem perto. Ou é bomba, ou é Antraz. Sinceramente, que idéia de jerico…
Alguém aí em cima disse que a hipótese que levantei é paranóia. Antes paranóico vivo que morto blasé…