Surge na China o primeiro leitor eletrônico com tela de e-ink colorida, que até aqui era considerada uma tecnologia comercialmente inviável. Começa a ser aterrado o fosso separa o Kindle e similares, excelentes para a leitura de livros, do iPad, genial para ver imagens.
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E quando já davam o paciente como desenganado, o baixo custo do meio digital está provocando uma explosão de novas revistas literárias. Na Inglaterra.
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Por fim, reproduzo uma carta de Adolfo Pinho Rosa, o crítico recluso, com um ponto de vista original sobre os prêmios literários que chovem sobre Chico Buarque:
Caro Sérgio,
Como você não ignora, os códigos de comunicação do mundo literário são frequentemente sutis. Parece-me que, em meio ao burburinho de satisfação, desagrado ou tédio provocado pelos prêmios concedidos recentemente ao autor de “O que será”, vem passando despercebido o cerne da questão. Vejamos: o homem lançou quatro romances e ganhou o Jabuti por três deles. Isso não lhe parece significativo? Pois garanto que o é. Ocorre que a conta não fecha. “Benjamin” não ganhou o Jabuti – com ênfase no “não”. E agora com exclamação, por favor: “Benjamin” não ganhou o Jabuti! Mera casualidade? Ora, não é preciso ser um sujeito extraordinariamente perspicaz para vislumbrar a potência do insulto, a ardência da subtração, a violência da crítica que se esconde por trás desse simples gesto de recusa. A verdade é que Chico Buarque lançou um romance que não foi premiado com o Jabuti, eis a ferida que se recusa a cicatrizar e que ficará na história, qualquer que seja o futuro do conservado artista ou do combalido quelônio, a desafiar os intérpretes de nossa besta comunidade literária. Pense nisso.
13 Comentários
Sérgio,
Coincide que vosso blog trate de dois temas em especial, nos últimos dois posts: um fala da morte do leitor e o outro da proliferação do leitor eletrônico. Pois que se conseguíssemos um escritor eletrônico, o problema estava de todo resolvido. Essa questão da literatura ficava para as máquinas e a gente ia cuidar da nossa vida.
Seria um alívio para a humanidade, a solução para uma angústia que dura milênios, mas acho que não seríamos mais humanidade, de certa forma. Estamos caminhando nessa direção ?
Sérgio,
Sobre o Jabuti, algo que não faz o menor sentido. Leite Derramado, do Chico Buarque, ficou em segundo lugar na categoria romance, atrás de Se Eu Fechar os Olhos Agora, de Edney Silvestre, mas foi o Livro do Ano de Ficção. Você consegue imaginar alguma explicação para tal “feito”?
Abraço,
Tito
Ele teria que ganhar todos os prêmios? Benjamim mais perece um filme no livro. É todo filme. O personagem Benjamim,mimado, não se contenta em perder. Não sabe ele que é perdendo que se ganha.
Gostei muito do romance Leite Derramado, até escrevi uma resenha afirmando que Chico é um grande escritor. Porém, pegou muito mal a declaração do Jô Soares, como está no Estadão: “Sou meio responsável por este prêmio. Falei: Se o Chico não ganhar eu não vou, emendou Jô após o anúncio. Ansioso para chamar o músico ao cenário montado no formato de seu programa de TV, o apresentador nem citou os outros seis finalistas.”
Bravas palavras, Adolfo Pinho Rosa. A agudeza da sua observação merece encômios pelo contraste que apresenta em relação às obviedades que têm sido alardeadas urbi et orbi. Poucos atinaram com o gesto de rebeldia do “combalido quelônio”, infelizmente sufocado pelos mais recentes lances de subserviência ao “conservado artista”.
Valete.
Ô Sérgio, é impressão equivocada, ou o senhor é mesmo um “militante” na luta contra o papel impresso? Sustentabilidade?
Novamente parabens por esse blog. Estou q nem adolescente com a primeira nomorada gostosa e safada. Acho q vou ler tudo com o tempo.
Um grande abraço do observador. http://www.esconderijo-do-observador.blogspot.com/
J.Paulo: é impressão equivocadíssima.
Thiago: valeu, espero que continue gostando do blog.
Foguete: descupe, é que esqueci o ponto de ironia.
Tito: esquisito é, e muito, mas não é a primeira vez que o Jabuti faz isso.
Pedro David: acho que o escritor eletrônico é questão de tempo. Tempo demais para que eu presencie o lançamento, espero.
Abraços a todos.
Infelizmente não gosto do Chico Buarque com escritor. Entendo que “..o escritor escreve à eternidade e o jornalista escreve ao esquecimento” (Borges). Nenhum texto do Chico é voltado à eternidade, todos me parecem contrangedoramente ao “Enquanto agonizo” de Faulkner. Me desculpem, mas Jabuti, decididamente não sobe em árvores.
Upgrade e perdas de arquivos levam-me a um questionamento quanto aos livros eletrônicos: será possível tê-los na pequena biblioteca de casa daqui a 100 anos? Tenho alguns livros antigos (mais de 100 anos) que me dão essa “portabilidade”. Ok, um incêndio poderia acabar com tudo. Mas… será que os arquivos atuais poderão ser lidos nas próximas gerações de Ipad & Kindle & similares? Ou terei perdido meu investimento?
Ah! Esqueci! A escolha de um premiado ser meramente política é degradante para qualquer prêmio! Pelo que temos visto, o Jabuti não possui qualquer credibilidade!
Cansei!
Devido a coisas que vão além da nossa compreensão, o Jabuti é um bem imanente do Chico. Há de haver sempre um Jabuti novinho, empalhado, banhado a ouro e lustrado (são esses jabutis da espécime literária de ouro?, nunca ganhei um) para ele. Até na Nova Zelândia ou no oeste da América do Sul conseguiriam intrepidamente um Jabuti para dar-lho; e nem obstaria isso, o fato de não se encontar, nessas regiões, representantes dessa mirabolante classe que são os quelônios.
Sérgio: já esperava a resposta sensata.
Abraços.
Sérgio, também acho intrigante essa endeusação do Chico buarque. Só que existem outros fatores, digamos assim, extra-literários, nessa história toda. Você tem muitas condições para comentá-los. Ou nem tantas pelas atuais circunstâncias do seu blog… Como você foi cuidadoso com esse assunto, não? Você era bem mais incisivo e corajoso quando estava em No Mínimo ou n o todo prosa independente. A Veja faz mal a qualquer um, de fato. É por isso que entro aqui raríssimas vezes, quando entrava diariamente nos bons tempos. Um abraço e cuide-se, você pode muito mais.