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A volta da Copa de Literatura Brasileira

05/01/2011

A Copa de Literatura Brasileira, o mais divertido, democrático e desencanado dos prêmios literários nacionais, está de volta. Abertamente inspirada na competição americana Tournament of Books, a brincadeira foi lançada em 2007 com regras de torneio esportivo: os livros se enfrentam aos pares em esquema de mata-mata, cada partida decidida por um único juiz, até a final em que todos os árbitros votam. Houve três edições consecutivas, vencidas respectivamente por Assis Brasil, Cristovão Tezza e Carola Saavedra. Ano passado, porém, silêncio – a Copa parecia ter se tornado mais uma vítima do ambiente efêmero da internet.

Felizmente, foi apenas um hiato que a tabela deste ano, recém-divulgada, dá um jeito de compensar: os 16 títulos concorrentes foram eleitos entre os lançamentos de 2009 e 2010. Liderados pelo economista e preparador editorial Lucas Murtinho, os organizadores prometem que o resultado da primeira partida sairá no dia 28 de fevereiro. Nessa data, juntamente com o anúncio do vencedor, será publicada a resenha de justificativa do voto e estará aberta a temporada de comentários dos leitores, que em certos momentos dos anos anteriores atingiram níveis polêmicos de virulência. De modo geral, é quando começa para valer a diversão – ou o estresse, ou tudo junto.

A ideia é que até o fim do próximo mês o público tenha tempo de ler o maior número possível de concorrentes e esteja pronto para dar seus pitacos com conhecimento de causa. O que, por incrível que pareça, realmente ocorre em muitos casos, embora um certo irracionalismo de torcida organizada também faça parte do espetáculo.

Como qualquer concurso artístico, a CLB está cheia de decisões duvidosas ou mesmo francamente injustas. Sua insuperável vantagem é a de obrigar o tomador da decisão a mostrar a cara e expor suas razões, que em seguida podem ser questionadas pelo mais importante e mais negligenciado personagem do debate literário: o tal “leitor comum”. Como estímulo às conversas sobre ficção nacional contemporânea, um tema habitualmente espremido entre o descaso da universidade e a anemia resenhística da imprensa, não existe nada melhor no mercado.

Em nome da transparência do lado de cá, registre-se que já participei da CLB como concorrente (em 2007, com “As sementes de Flowerville, que chegou à semifinal) e juiz (em 2008, quando dei a vitória a “O dia Mastroianni”, de João Paulo Cuenca, sobre “Cão de cabelo”, de Mauro Sta. Cecilia). Este ano, concorro novamente com o romance “Elza, a garota”, que enfrentará “Sinuca embaixo d’água”, da jovem escritora gaúcha Carol Bensimon.

Em nome da transparência do lado de lá, gostaria de entender os critérios que levaram os organizadores a excluir “Pornopopéia”, indiscutivelmente um dos mais importantes romances brasileiros dos últimos dois anos, e, de modo menos espantoso, também o notório “Leite derramado”, o mais premiado do período – premiado por motivos errados, pode-se argumentar, mas ainda assim uma ausência de peso.

O bacana é que, como se vê, o debate já começa antes do apito inicial.

20 Comentários

  • Vinícius Antunes 05/01/2011em15:25

    Serjão, excelente. Ainda não consegui acompanhar seriamente nenhuma das copas, mas quero acompanhar esta. Onde consigo informações mais precisas e a lista dos livros selecionados? Fiquei carente de links. Pode mandar alguns? Abração.

    • sergiorodrigues 05/01/2011em15:32

      Não entendi, Vinicius: o post traz os links! Um abraço.

  • Vinícius Antunes 05/01/2011em16:02

    Desculpe, Sérgio. Tinha aberto aqui num navegador que não exibiu. Agora já está ok. Valeu mesmo. Obrigado e desculpe o furo.

    • sergiorodrigues 05/01/2011em16:33

      Imagina, meu caro. Abração.

  • Arthur 05/01/2011em17:01

    Ontem passei o dia dando uma olhada em algumas partidas, em especial nas de 2008. Principalmente nas polêmicas (como os comentários não estão por lá, consegui preencher algumas lacunas vindo ao teu blog). Já estou com alguns livros daquela disputa na minha lista de leituras seguintes, como o do Cuenca e da Saavedra.

    “Queria fazer uma provocação”, como já dizem os loucos de palestra. Meu favorito entre os que li da lista (que foram bem poucos) vai bater de frente com o papa-prêmios estreante do ano passado. Pelo que vi em algumas partidas, houve casos de dar-se uma espécie de desconto a autores iniciantes.

    Enfim, eu deveria ficar nervoso pelo Bernardo Carvalho enfrentar Edney Silvestre?

  • Mauro Siqueira 05/01/2011em17:31

    Como eu queria “assistir” “Se eu fechar os olhos agora” versus “Leite Derramado”!!!

  • Equipe Copa de Literatura 05/01/2011em17:48

    Oi Sérgio!

    Teu post sobre a Copa de Literatura carrega muito do espírito do próprio projeto: não buscamos a unanimidade literária, e sim o debate, as discussões e as diferentes opiniões sobre a produção ficcional brasileira contemporânea (e, claro, sobre a Copa também!).

    Sobre a escolha dos livros: a comissão organizadora fez uma lista prévia com um grande número de possíveis concorrentes. Essa primeira lista foi submetida à votação de todo o grupo de jurados da edição 2010/2011. Daí saíram os dezesseis romances que vão participar da CLB 2010/2011. “Leite derramado” e “Pornopopeia” entraram na lista prévia mas não ficaram entre os dezesseis mais votados, e cada jurado tem uma explicação diferente para ter votado a favor ou contra esses livros.

    Detalhe importante: esta é a primeira Copa em que a comissão se preocupou com o critério de diversidade de editoras. Quando vimos que uma editora estava com muitos livros da Copa, fizemos uma repescagem. A ideia é evitar uma “Copa de Literatura da Editora X”.

    Claro, uma ou outra exclusão pode ter sido injusta – assim como o resultado de um ou outro jogo será injusto. Na nossa opinião, faz parte da graça da Copa.

    Obrigado!

    Equipe Copa de Literatura Brasileira (Lucas Murtinho, Fernando Torres e Lu Thomé)

    • sergiorodrigues 05/01/2011em22:05

      Equipe da Copa, obrigado pelos esclarecimentos. Abraços.

  • Rafaela Gimenes 05/01/2011em20:30

    Verdade!

    “O bacana é que, como se vê, o debate já começa antes do apito inicial.”

  • Thiago Castilho 06/01/2011em00:12

    Excelente. Odeio injustiças infames! Leia e se possível critique minha redaçao para Drummond no nobre Assis Chateaubriad:

    http://esconderijo-do-observador.blogspot.com/2011/01/em-nome-do-pai.html

    Um abraço do Observador

  • Henrique Augusto 06/01/2011em10:33

    Caro Sérigio, já vi aqui postagens sobre objetos úteis pra leitura. Pensando nisso, queria te sugerir postagens com indicações de leitores (seja escritores, jornalistas, acadêmicos, etc..)sobre qual modelo e marca de poltronas e chaises mais confortáveis pra leitura. Se possível, com fotos. Estou numa dificuldade (pesquisando há meses)um móvel desses, mas, além de preços absurdos, há muitos móveis feitos sem a mínima preocupação com ergonomia e conforto. Muitos são feitos só com base em modismos e estética. Penso que tu prestaria um relevante serviço aos leitores deste blog.

  • Afonso 06/01/2011em11:13

    Já esperava por esse post… já rolava no twitter alguma informação: Literatura e fair-play http://j.mp/h0isli Boa sorte aos ‘competidores’.

  • Clelio T. Jr 06/01/2011em14:28

    Sérgio, grita também a ausência do ótimo “A minha alma é irmã de deus”, do Raimundo Carreiro.

  • Isabel Pinheiro 06/01/2011em23:27

    Sérgio, off topic, um post que achei bem interessante: http://wordswithoutborders.org/article/a-world-of-editing/

    Alguma ideia de como isso funciona aqui no Brasil? Bjs

  • J.Paulo 08/01/2011em20:45

    Só li o “Leite Derramado”, do Chico. Mas já é o suficiente para o meu veredicto: voto nele. Apesar de preferir muito mais o Chico das criações musicais inestimáveis como “Construção”, “Apesar de você”, “Sem fantasia”, “Pedaço de mim” etc. Mas realmente não gosto desses escritozinhos imaturos, sem cor ou estilo, aliás, aí mesmo reside o motivo principal da antipatia: parece que para essa “galera” a única aventura do escrever é fazer um texto “pop”. Mas na verdade, eu não tenho condições de julgar essas coisas; pois que, a mim, parece-me que a única literatura que presta é aquela que sangra. Sangrou-se a escrevê-la e sangra-se ao lê-la.

  • Valdeck Almeida de Jesus 14/07/2011em09:53

    Eu patrocino um concurso literário desde 2005 e já publiquei mais de 700 textos de brasileiros e estrangeiros, em língua portuguesa. Estes concursos, apesar de não serem suficientes para dar oportunidade a todos são sempre bem vindos. Mais detalhes no Galinha Pulando.