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‘A voz do escritor’: vida não é obra

22/05/2006

A voz do escritorChega esta semana às livrarias um lançamento útil para escritores, especialmente iniciantes, e críticos, além de divertido para os leitores mais cascudos de literatura: “A voz do escritor” (Civilização Brasileira, tradução de Luiz Antonio Aguiar, 160 páginas, R$ 28,90), do poeta, crítico e ensaísta inglês A.Alvarez.

O lançamento tem algo de surpreendente. Trata-se de um livro menor de alguém que está longe de ser um nome vendedor no Brasil, embora tenha história. Ex-editor de poesia e antologista, amigo de Sylvia Plath e autor de um clássico sobre o suicídio (“Deus selvagem”, lançado aqui pela Companhia das Letras), A.Alvarez, de 76 anos, é também um ensaísta eclético que dedicou volumes inteiros a assuntos como pôquer e divórcio. Uma figura.

“A voz do escritor”, baseado numa série de palestras proferidas pelo autor na Biblioteca Pública de Nova York em 2002, mergulha de cabeça num assunto nebuloso que, embora posto de lado como esoterismo por críticos mais “científicos”, é para muita gente que escreve profissionalmente a questão entre todas do ofício: como cada escritor encontra – ou não encontra – sua voz própria, inconfundível.

Bem, para começar, que papo é esse de “voz”? Sinônimo de estilo? Para Alvarez, é mais profundo que isso. Tem a ver com o que chamam de ouvido, com a capacidade de dominar o ritmo, a cadência da linguagem? Estamos esquentando. Fugir da tentação dos maneirismos, cacoetes e lugares-comuns também é parte do aprendizado, segundo ele. Não menos importante é evitar que o culto contemporâneo às sociopatias dos autores os convença de que sua vida é a verdadeira obra e o texto, um subproduto – e a essa altura, para bom entendedor, começa a ficar claro por que “A voz do escritor” cai especialmente bem no ambiente literário brasileiro de hoje.

Não se trata de um manual prático de redação, mas talvez tenha até mais valor. O livro é uma conversa culta sobre atalhos e armadilhas, glórias e agruras do fazer literário. Uma conversa que – apesar do tom às vezes professoral de Alvarez, dotado de mais certezas do que o tema permitiria – é daquelas que deixam o interlocutor mais sabido no final.

5 Comentários

  • Leticia Braun 22/05/2006em18:20

    Taí, esse, sim, deve ser interessante. Procurarei e lerei com expectativa.

  • Shirlei Horta 23/05/2006em11:47

    A Letícia e eu.

  • Castro Nunes 23/05/2006em15:09

    Valeu, Rodrigues, dica muito legal. Escrever bem é um negócio mais difícil do que muita gente pensa. Com o advento do computador, ficou mais fácil aplicar o conselho de Drummond em sua definição de escrever: “Escrever é cortar palavras”. Se souber cortar direitinho, até que sai(ou fica) alguma coisa. Mas, antes de tudo, é preciso ter no que cortar.

  • Rafael Rodrigues 24/05/2006em00:37

    Procurarei também. E mando uma dica também: um livrinho do Autran Dourado chamado “Breve manual de estilo e romance”. O título diz tudo 😉 Abraços!

  • vilasboas 27/05/2006em18:15

    Muito bom, tb. vou ler. Fica o recado de Artur da Távola: “Escrever é desafiar palavras”