Adultescente é um neologismo jocoso de sentido óbvio, cruzamento de adulto com adolescente. No entanto, ainda não abriu caminho até os dicionários brasileiros e, mais do que isso, não parece ter vingado de verdade em nosso dia-a-dia. Tudo indica que vingará. Nascido no inglês americano como adultescent, registrado pela primeira vez em 1996 e eleito pelo dicionário Webster’s a “palavra do ano” de 2004, o termo já tomou assento firme pelo menos em espanhol, na forma adultescente, de grafia igual à nossa. Seu trânsito internacional deve-se ao fato de o novo tipo humano que nomeia ser encontrável em muitos países. É só olhar em volta: adultescentes não faltam na paisagem contemporânea. Talvez você tenha um ou dois dentro de casa. Talvez, meu Deus, você seja um.
A palavra se difundiu como um daqueles rótulos que a cultura de massa adota para vender camisetas. Nesse sentido, é prima de expressões midiáticas como “geração X”, “metrossexual” etc. No entanto, “adultescente” tem consistência maior do que ajudar profissionais de marketing a bolar produtos destinados a esse novo nicho de mercado detectado no fim do século 20: o dos adultos “infantilizados”, consumidores de videogames e livros sobre magos mirins, que freqüentemente prolongam sua dependência do lar paterno muitos anos além da média histórica, mesmo que – e isso é o mais intrigante – ganhem dinheiro suficiente para ter sua própria casa.
O sucesso de uma palavra nunca se funda apenas na lógica interna da língua. Adultescente parece ter força para se firmar no vocabulário do mundo globalizado porque reflete uma mudança cultural mais ampla e significativa, ainda que por enquanto meio mal explicada pelos estudiosos: aquela que deu à casa do papai, até recentemente encarada pelos jovens adultos como prisão, ares de santuário.
Publicado na “Revista da Semana”.
15 Comentários
Saí de casa há mil anos, sou pai de família, nunca gostei de RPG e similares (etc, etc), mas continuo um adolescente. Agora que vestiram a palavra “adultescente” com um figurino específico, jamais eu poderia poderia usá-la no sentido simples e prático de dizer “sou meio adulto, meio adolescente”, sem que atribuam a isso aquele arquétipo do nerd tardio. Quando a palavra se prende assim, a uma única imagem, não é matar a possibilidade dela ser mais útil? Pergunta de leigo em questões filológicas e linguisticas.
Montana: imagino que, em tese, possa haver casos de superespecialização, sim. Mas convém lembrar que a precisão é geralmente uma virtude, como me parece ser o caso aqui.
O dificil é encontrar um criança de verdade.A maioria já esta na fase de “Eu já sei de tudo,vi tudo e provei tudo”.Nós os adultos nos sentimos idosos em competir por assim dizer com adultos tão jovens.
Nazarethe,
Você tem razão. Ainda mais que o mundo todo nos trata assim. Hoje somos os “velhos adultos” e perdemos muito espaço nos últimos anos. Melhor dizendo: os jovens coroas. Soa melhor, não?
Hora vejam… a Nazarethe Fonseca… a Grande Nazarethe Fonseca… UAU!
Sérgio:
Dá uma olhada nessa interessante notícia:
http://www.geek.com.br/modules/noticias/ver.php?id=19600&sec=3
Vou comprar um software desses e depois pegar a vara de pescar. Queimar as pestanas no editor de texto pra quê?
Senhores, detesto ser obrigado a dizer isso, mas a história do Parker saiu primeiro no Todoprosa, aqui. Mas o software do cara não passa nem perto de escrever, obviamente, só reúne e “organiza” informações coletadas na web. Isso vai demorar, Tibor, lamento. Quem sabe seu bisneto.
Meu bisneto? Pra ser sincero, lamento por ele…
Em latim, adolescente é o particípio presente do verbo adolescere; adulto é o particípio passado do mesmo verbo.
Como se vê, desde tempos mui antigos o adolescente e o adulto são duas faces da mesma moeda…
Bem lembrado, Alberto. Embora talvez seja mais produtivo, em vez de dois lados da mesma moeda, pensar em dois estágios opostos num salto evolutivo, como formando e formado, casadouro e casado etc. O que basta, creio, para garantir o caráter subversivo de uma síntese como adultescente.
Caro Sérgio
Fiz hoje uma prova para um cargo administrativo da Universidade Federal de Juiz de Fora. A prova de português foi baseada no texto “Active Ultra Plus” (JB, 2001 – S. Rodrigues). Imagino ser de sua autoria. Caso afirmativo, pergunto se é possível você me enviar o texto por e-mail. Grata pela atenção.
Helô: o texto é meu. Saiu primeiro em minha coluna da época na revista Domingo e mais tarde em meu livro “What língua is esta?”. Seguiu para você por email. Um abraço.
Retrato da globalização e suas consequências. E a língua, sempre dinâmica, obedecendo às novas realidades, muito interessante.
Abraço da colega blogueira!
me diz uma coisa ser adultecente é não arcam com seu compromisso pois vi muitos nerds que nunca ficaram , com uma menina na adolescência hoje vivem na balada e mora em mansão com muitos brinquedos tecnológico e e arcam com seus compromisso pagamento de conta e trabalha muito e fazem coisas de adolescente