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Ainda a Turquia

10/07/2006

Uma reportagem do jornal inglês “The Guardian” (acesso livre, em inglês) traz novas informações e contextualiza a situação de precária liberdade de expressão que tem atazanado a vida de escritores e jornalistas turcos – veja a nota “A Turquia ataca outra vez”, ali embaixo. A propósito da reabertura do processo contra uma romancista popular no país, Elif Shafak, por “ofender a turquidade” (na falta de palavra melhor), o jornal informa que mais de 60 pessoas foram processadas sob alegações semelhantes de um ano para cá, desde que se introduziu na lei um certo “artigo 301”.

A maioria dos processos acaba girando em torno da questão do massacre – há quem prefira chamar de genocídio – dos armênios pelas tropas turcas durante a Primeira Guerra Mundial, que o país nega oficialmente. No caso de Elif Shafak, bastou que a palavra “genocídio” fosse pronunciada por um de seus personagens, aliás armênio, para que a autora fosse acusada. Algo como prender Flaubert pela morte de Emma Bovary.

O jornal registra ainda uma interessante tese de Sarah Whyatt, diretora do PEN Internacional que acompanha o caso: mais do que um vício autoritário que a Turquia precisará abandonar em sua campanha para ingressar na União Européia, a recente onda de perseguições seria um trabalho orquestrado por grupos de extrema direita inconformados com essa candidatura, a fim de inviabilizá-la. Parece estar dando certo.

3 Comentários

  • MaGioZal 11/07/2006em04:49

    Está claro: por mais que seja interressante para os EUA e para a elite da União Européia que querem fazer a apaziguação do chamado “Mundo Ocidental” com a chamada “Comunidade Islânmica”, a Turquia NÃO é uma democracia e como tal não estaria habilitada a entrar na União Européia.

    Se você na Inglaterra falar que Winston Churchill foi um imbecil, nada acontecerá legalmente a você. Mas se você ousar discutir algum ponto a respeito do “sagrado” paxá Mustafá Kemal na Turquia, a polícia te mete na cadeia, na qual você pode ficar por anos, da mesma maneira que acontece na China se você tentar falar mal de Deng Xiaoping.

    Sem contar que a Turquia ainda por cima ocupa militarmente há mais de 30 anos um país que já é membro da União Européia, o Chipre.

  • Fala Sério 12/07/2006em16:53

    Realmente, a impressão que fica cada vez mais forte é que o mundo islâmico realmente não compreende o conceito de “Democracia”. Sabe-se lá por que motivo, a tolerância islâmica da nossa Idade Média virou um fóssil hisórico. Até a América Latina, de tradição autoritária tão antiga e tão arraigada, lida melhor com a democracia do que eles… não que lide muito bem, por supuesto

  • Alfred E. Neumann 13/07/2006em09:51

    O conceito de “democracia” parece ser algo sacrossanto para certos intelectuais ocidentais. Na verdade, querer que todos os países do mundo enquadrem-se no conceito de democracia francês ou norte-americano é apenas um exemplo do mais ditatorial etnocentrismo. Não se esqueçam que a revolução iraniana que derrubou Phlevi foi na melhor das acepções uma revolução popular que instaurou o governo (“cracia”) que o povo (“deimos”) queria. No Irã há eleições periódicas e isso não melhora nem um pouco as liberdades individuais. Por quê? Porque é uma democracia! Porque o povo iraniano não quer as liberdades ocidentais! Ser democrata é ser capaz de entender que um determinado povo pode não querer aceitar a sua visão particular de liberdade. É compreender que o que para um americano é liberdade, para um turco pode ser heresia ou libertinagem.
    Em tempo: Não sou xiita. Não conseguiria viver num desses países. Mas nem por isso acho que se deva ou se possa enfiar-lhes “democracia” goela abaixo.