Günter Grass fez ontem à noite sua primeira aparição pública desde que confessou ter integrado a Waffen-SS, tropa de elite de Hitler, aos 17 anos de idade. No famoso teatro Berliner Ensemble, diante de uma platéia respeitosa e propensa aos aplausos, Grass leu trechos de suas memórias, “Descascando a cebola”, mas evitou as páginas 126 e 127 – as que tratam de seu breve passado nazista.
O relato de uma noite consagradora para o autor é feito por Luke Harding no blog inglês “Culture Vulture”. Para Harding, a controvérsia sobre a confissão tardia de Grass, que domina as primeiras páginas dos cadernos culturais alemães há três semanas (veja nota de 15 de agosto, aqui embaixo), atingiu finalmente a fase do consenso, e ele é favorável ao escritor: o de que teria sido melhor se Grass houvesse revelado seu segredo antes, mas isso não afeta sua “credibilidade moral”. As caixas registradoras confirmam: “Descascando a cebola” está em primeiro lugar na lista dos livros mais vendidos na Alemanha.
22 Comentários
Ótimo. Aos livros, minha gente, aos livros!
Vale tudo. Mas tudo mesmo.
ma
Eu também o perdôo.
Todo governo é um pouco facista……
Ontem assisti uma palestra sobre literatura alemã na UFRJ. Perguntado sobre o episódio, o palestrante esclareceu:
ele foi “convocado” em 1944 quando tinha 16 anos…não foi voluntário.
O problema é que depois houve uma mudança (voluntária) para os quadros da SS…aí é que mora o problema.
Bem, como acredito que vou ter os meus erros perrdoados, porque não dar uma chance a Grass, especialmente depois do que ele fez nos anos de militância pela Alemanha?? Ele fez com conhecimento de causa, participar do terror talvez tenha sido o combustível para que ele se tornasse tão incansável contra o embotamento da consciência alemã…
inumeras pessoas sao acusadas de maneira generalizada de terem “colaborado” com o nazismo…nao eh bem assim…
tirando gente que estava em primeiro escalao do comando, uma grande parte simplesmente foi obrigada a “colaborar”…o nazismo era totalitario, ou voce estava com ele ou estava contra…nao havia meio termo…
eh muito complicado julgar a participacao de uma pessoa na epoca, apenas julgando os fatos, sem levar em conta os caminhos que levaram alguem a “apoiar” ou “simpatizar” com o nazismo….
como em toda merda de guerra, muitos soldados que sao obrigados a participar nao as apoiam…
Fácil falar agora e condenar o rapaz por ter feito aquilo que pouquíssima gente se negaria a fazer. Gente, imaginem-se em 1940, em pleno totalitarismo, delações premiadas, vigilância, lavagem cerebral e violência. O que alguém sensato faria?
Nada consta nos anais de ambos os lados que Grass houvesse tido participação efetiva em extermínios, experiências ou sabotagens, espionagem.
Parem de julgar o homem pelo o que ele teve que fazer e observem seu caráter, assim como observem o outro lado: não julguem sem antes conhecer a história, e depois de conhecê-la, não julguem. A história é contada – e não relatada – pelos vencedores, os quais omitem e mentem como qualquer humano.
Um estado totalitário só é formado com a predisposição social. O agente da “ordem” é senhor da sua consciência, mas o contexto social enfatiza uma determinada percepção da realidade (em que se discute atualmente o papel da mídia), portanto as ações podem ser compreendidas em seu contexto, mas falar em perdoar ou não parece muita pretensão. O fato é que na juventude a radicalidade e a violência são muito atraentes. Descabe julgamento moral de uma pessoa para atos da adolescência, ao que consta, com dizem os cristãos: “arrependido dos pecados”. Julgamento penal sim, independente da posição social (prescreveu ou não eventual crime de guerra?), pois este é um dos suportes da vida coletiva.
Perdoamos nossos milicos E CIVIS torturadores de 64-74?
Perdoamos nossos “guerrilheiros”?
Não fomos tão pretensiosos; apenas foram anistiados (e indenizados) do ponto de vista jurídico e político e hoje ainda justificam suas ações com o “contexto”. e nós brasileiros, ainda pouco falamos e produzimos (livros, filmes, lembranças, desabafos) sobre este período (ou pouco divulgamos). Achei uma boa dica o relançamento de: 1964 – a conquista do estado – ação política, poder e golpe de classe
René Armand Dreifuss; Vozes; 899 págs.;R$ 95,00
Blá blá blá, contexto social, histórico, psicológico, moral… mas e daí?… Parece que quando fazemos algum julgamento quase nunca levamos em conta essas coisas.
E fico a perguntar por que muitos estadounidenses não são julgados por crime de guerra no Vietnã. E os colonizadores? Portugueses, ingleses, franceses… heróis? melhores que nazistas?
Propagandas, propagandas, propagandas.
Divagando…
caros amigos, ainda mais estando o cidadao envolvido sob a otica militar…na otica militar “manda quem pode e obedece quem tem juizo”…e ponto final…
o caminho que sobra para os descontentes eh apenas o da desercao e suas consequencias…a desercao de soldados israelenses nesse ultimo conflito foi recorde, me parece…isso pelo que vazou na imprensa, pq eh obvio que o numero correto, que deve ser muito maior do que o divulgado, provavelmente jamais saberemos…
soldados judeus desertores que buscaram asilo no Canada, fizeram desabafos sobre o conflito…assim como eles, haviam muitos outros que nao queriam lutar por achar a causa nao justa…
e assim como os atuais soldados judeus, muitos soldados alemaes nao concordavam com a pratica nazista, porem, fariam eles o que?
inumeras pessoas tiveram que “colaborar” com o nazismo sob pressao, fosse pra proteger a si proprio ou sua familia…
E aí, ele conseguiu o que queria: colocar seu livro na boca do povo.
Perdoar alguém é algo muito cristão (Horror! Horror!), mas para mim não há nada de tão terrível assim no fato de um jovem de 17 anos, que provavelmente não tinha nada na cabeça, assim como todos os jovens de 17 anos no mundo, tivesse integrado a SS – afinal, se adultos “moralmente responsáveis” (entre eles muitos, muitíssimos intelectuais) aderiram entusiasticamente aos delírios nazistas, por que iria eu crucificar justamente o Grass?
Ora o camarada tinha 17 anos, o país estava em guerra, o quê vocês queriam? Que ele colocasse uma camiseta branca e fosse fazer passeata na orla carioca?
Se o alguém consegue votar no luLLA cinco vezes qualquer um merece perdão, até o Osama.
A questão não é ele ter sido membro das SS. Mesmo que voluntário…
O problema é ele ter se arvorado em palmatória do mundo, denunciando e perseguindo, durante décadas, ex-membros do partido nazista e das próprias SS. Como se ele próprio não fosse um deles.
Como já disse o — esse sim, respeitável — historiador alemão, Joachin Fest, o problema é essa canalhice continuamente praticada pelo Günter Grass.
Um monte de gente teve sua vida arrasada pelas denúncias de Grass, em sua tese de que o “ajuste de contas” com o nazismo teria que ser o mais radical possível. E, no entanto, montes de gente cujas vidas ele arrasou, haviam tido com o nazismo relações iguais ou menores que as dele.
Se lhe fosse aplicado o tratamento que ele sempre advogou para ex-membros do partido nazista, das SA e das SS, Grass agora estaria em maus lençóis.
É um canalha de talento. Mas um canalha, como bem observa Fest.
Se esse lance dele não é apenas mais uma jogada pra vender livros; se ele tem um mínimo de consciência, ele tem muito do que se arrepender.
Não pelo que fez durante, e sim pelo que fez após o nazismo.
De novo, tempestade em copo dágua. Há uma regra de condescendência inegável aos infantes e aos idosos. E o Gugu merece (não o Liberato, claro) mas o Grass.
Tá bom, Herr Grass não tinha cacife moral para ser portavoz da desnazificação radical….Mas isso quer diser que a desnazificação não foi uma boa coisa em si mesma?
Alguns comentários acima falaram da imaturidade de um jovem de 17 anos ter optado pela SS nazista. Levado, provavelmente, pelo clima político-social do momento. Quaisquer que tenham sido as suas motivações, nenhuma delas previa a barbárie do nazismo. Como inúmeros ex-jovens (quase meninos) combatentes com quem lidei mais tarde, nenhum deles era ideologicamente nazista. Apenas rapazotes convocados para defender a pátria. O filme alemão “Die Brücke”, uma obra-prima, descreve a situação muito bem.
Tudo leva a crer que essa opção tenha resultado em experiências constrangedoras, que violentaram sua escala de valores, ainda puras por força mesmo de sua juventude.
Tornou-se, por isso, um dos maiores
escritores alemães de após-guerra.
Há todas as circunstâncias atenuantes, mas não é bem assim.
Como tem gente pressurosa a amenizar fatos pesados. Em grande parte para apaziguar sua própria consciência, enredada em outras cumplicidades.
Fico com a memória de Sophie Scholl e dos resistentes.
Acredito que todos nós temos os nossos pecados. Acredito que, com apenas 16/17 anos, fazemos coisas na visão de uma ótica que, anos depois, já não nos parece correta. E isso é o cumum do dia-a-dia da humanidade. Apenas o soldado de passo certo no batalhão de passo errado é que não vê assim, pois além de ser uma topeira para si próprio, é um falsário o tempo todo, defendendo de cueca (ou de calcinha) o moralismo doentio do nosso tempo. Na minha vida, que já é longa, tirei de letra esta observação. Poucos homens envelhecem compreendendo a Vida, seus atos e as conseqüências deles. Para nós, é fácil apontar o dedo contra o outro, dizendo-o um sicário, um agente de Satanás e por aí. É fácil, com a bunda bem sentada na poltrona confortável das nossas queridinhas casas. Quem passou pelos horrores da guerra, principalmente a última grande guerra, é que tem a palavra. Na mídia, como sempre, a observação é a do vencedor. Não defendo nem gregos nem troianos, mas é enfadonho ver a opinião geral massificar uma confissão, quando notoriamente ninguém dentre os blogueiros daqui, tenho certeza, teria coragem de confessar suas quedas nos braços de Lúcifer e, mais certeza tenho, do gostinho que sentiu pelo prazer do proibido. Pode ser que nossos pecadinhos sejam “menores”, como sair com a mulher (homem) do melhor amigo (amiga), sem que ninguém fique sabendo e continuar sarcasticamente “bom e fiel”. Pode ser. É julgar pela aparência, com um fiel adulterado. Para mim, o tal escritor foi corajoso, pois podia fazer como fazemos, guardar para sempre até que a tumba nos leve para os confins do esquecimento.
Excelente comentário do Zequinha. Num primeiro momento achei a coisa banal, mesmo aqui no Nomínimo, mas ele foi desonesto todo este tempo. Agindo como se não tivesse participação e apontando o dedo para culpados com se puro fôsse.
Um canalha!
Abs.
Melhor:
“..ComO se puro fosse!”
Sorry!