Para fechar o capítulo do megalançamento brasileiro do selo espanhol Alfaguara (veja as duas últimas notas, sobre os livros de Mario Vargas Llosa e Cormac McCarthy), o Todoprosa destaca outros dois títulos no pacote de meia dúzia que está chegando às livrarias neste fim de semana: “Travessia de verão” (tradução de Fernanda Abreu, 143 páginas, R$ 31,90), o primeiro romance escrito por Truman Capote, e “Grandes símios” (tradução de José Rubens Siqueira, 406 páginas, R$ 59,90), do inglês Will Self.
Trata-se de dois livros menores do que seus autores – mas os autores são tão interessantes que isso não é grave. “Travessia de verão” tem uma história curiosa: os cadernos escolares com o manuscrito foram entregues à casa de leilão Sotheby’s em 2004 pelo herdeiro do proprietário de um apartamento em que Capote (1924-1984) morara nos anos 40. O livro foi publicado ano passado nos EUA com a autorização do Truman Capote Literary Trust, embora o autor de “Bonequinha de luxo” – com o qual “Travessia de verão” tem parentesco – e da obra-prima “A sangue frio” nunca tenha demonstrado o menor interesse em lançá-lo em vida. Como documento dos primeiros passos de um grande escritor, é material valioso.
“Grandes símios” é a história alucinada que um autor símio – num mundo dominado pelos macacos, mas muito semelhante ao nosso – escreve quando resolve cometer a ousadia de imaginar um protagonista humano. Um “Planeta dos macacos” metido a besta? Não exatamente. Um dos melhores e certamente o mais original escritor inglês dos últimos anos, Self é um satirista de primeira. “Grandes símios” deixa no leitor a sensação de ter um ponto de partida frágil demais para sustentar suas 400 páginas, mas os momentos hilariantes, argutos e doentios – trinômio que é a cara do autor – não são poucos. E quem sabe agora, avalizado por um selo como o Alfaguara, Will Self consiga ter no Brasil a repercussão que merece – e que seus dois livros lançados aqui pela Geração Editorial, a excelente dupla de novelas “Cock & Bull” e o tenebroso romance “Minha idéia de diversão”, não conseguiram.
Completam o pacote uma tradução de “Um retrato do artista quando jovem” (267 páginas, R$ 39,90), de James Joyce, com a grife de Bernardina da Silveira Pinheiro, que ano passado publicou sua versão de Ulisses pela Objetiva; e “Quando fui outro” (223 páginas, R$ 29,90), seleção de cartas e poemas de diversos heterônimos de Fernando Pessoa feita pelo escritor brasileiro Luiz Ruffato.
No mês que vem saem outros cinco títulos: “Palácio de espelho”, do indiano Amitav Ghosh, “Conclave”, do italiano Roberto Pazzi, “A boa terra”, da americana nobelizada Pearl S. Buck, “Conhecimento do Inferno”, do português António Lobo Antunes, e “Quase memória”, de Carlos Heitor Cony – o primeiro escritor brasileiro a ser publicado pela Alfaguara.
8 Comentários
Oh, céus! Oh céus (ou, em outra versão, Ô meu Pai! – como dizem os personagens de Lygya Fagundes Telles) : muitos, muitos, muitos lançamentos maravilhosos. Adoro Pearl S. Buck, que é brilhante (Nobel merecidíssimo). E Lobo Antunes (que precisa ganhar o Nobel urgente) então… Esse selo é foda!
Alguém tem que publicar “As Naus”, do Lobo Antunes!
Ano passado, a própria Objetiva mandou para as livrarias Como vivem os mortos, do Will Self. Um romance original, que passou batido.
Talvez influenciado pelos começos inesquecíveis, peguei Will Self e me atraquei com os Símios. Não consegui passar da primeira página. Talvez estivesse influenciado pela leitura do Viva o Povo Brasileiro. Não sei.
Deixei para depois, peguei um outro “Confissões de um burguês” do Sandor Marai. Todas as suas obras são magníficas. E justo esse, o começo também não é tão divino como sempre é. Acabei por deixar tudo de lado e pegar um filme. Mais tarde, quem sabe.
Existem livros assim mesmo, eu sei, seu sei, mas ontem foi um dia fatídico, após um bom e lindo português do João.
Você e seus começos e o João e os seus meios ficaram imbatíveis diante de uma tradução.
Por que ‘Minha idéia de diversão’ é “tenebroso”?
Porque é trevoso, Demetrius. Horripilante. Você leu?
Caro Sérgio,
ainda não chequei, mas creio que a tradução do “Retrato do Artista” lançado há tempos pela Siciliano já era de Bernardina.
Abraço
Tem toda razão, Clélio. Era da Bernardina sim. Obrigado e um abraço.