A suspeita é antiga, mas uns dois séculos mais nova do que a obra fenomenal do poeta e dramaturgo inglês William Shakespeare (1564-1616): ele não seria o verdadeiro autor de suas peças e poemas, ou pelo menos de grande parte deles. Algumas lacunas historiográficas e sobretudo o fato de que o jovem Will nunca teve acesso a uma educação clássica de primeira linha, então ao alcance apenas da nobreza, são os principais argumentos invocados pelos céticos.
Como diz o próprio Stephen Greenblatt na introdução do excelente Will in the world: how Shakespeare became Shakespeare, “(sua) obra é tão assombrosa, tão luminosa, que parece ter vindo de um deus e não de um mortal, muito menos um mortal de origem provinciana e educação modesta”. Convém deixar claro que o autor de “Como Shakespeare se tornou Shakespeare” (lançado aqui pela Companhia das Letras, com título que abre mão do trocadilho intraduzível entre Will e “vontade, determinação”) não duvida que Shakespeare tenha sido escrito por Shakespeare. Apenas se dedica a pesquisar, com uma mistura sedutora de informações históricas e insights, como isso foi possível.
Se os céticos nunca foram capazes de provar sua tese, correndo o risco de se aproximar de descabelados teóricos da conspiração, tampouco desistiram dela. Um novo ataque (em inglês) vem agora de um campo inusitado. Não é de um historiador ou crítico literário, mas do eminente astrofísico Peter Sturrock, da Universidade Stanford, na Califórnia, o livro AKA Shakespeare: a scientific approach to the authorship question (“Vulgo Shakespeare: uma abordagem científica da questão da autoria”). Apoiado no fetichismo da palavra “científico”, que mesmeriza muita gente, Sturrock se dedica a aplicar análises estatísticas sobre amostras de texto shakespeariano para concluir – ou induzir a conclusão, uma vez que o livro apresenta um debate entre quatro personagens fictícios que têm opiniões distintas – que o verdadeiro gênio por trás do provinciano de Stratford-upon-Avon chamava-se Edward de Vere, Conde de Oxford, um candidato tradicional ao posto.
Como diria Shakespeare: “Então tá”.
20 Comentários
Embora Stephen Greenblatt sequer mencione a polêmica da autoria em seu livro, foi a leitura de “Will in the World” que pela primeira vez me fez pensar que haveria mais que loucura inglesa nessa dúvida antiga (de três séculos, se não me engano) sobre quem escreveu Shakespeare. Afinal as lacunas da narrativa biográfica são enormes crateras, a escassez de documentos é espantosa, a não existência de manuscritos, uma surpresa e tanto. Um mistério, e não acho que análises estatísticas serão capazes de desvendá-lo. E talvez nem valha a pena esclarecê-lo, pois o que realmente importa é o reconhecimento agradecido de que uma obra assim tão assombrosa tenha sido escrita (não importa por quem).
Ser ou não ser o verdadeiro autor das obras,eis a questão!
Qual o contemporâneo dele – Shakespeare – o citou? Comentou tê-lo conhecido? Ter encontrado com ele? Ter feito visita ou tenha sido visitado por ele. Alguma coisa nessa linha…
Guida: as evidências de que existiu um homem chamado William Shakespeare são mais do que conclusivas. Isso tudo que você cita existe, e mais um pouco. A dúvida paira apenas sobre a autoria.
+++ Há questão, na minha “modesta opinião” é como, uma pessoa simples, sem estudo formal, conseguiria escrever temas tão abrangentes geograficamente abrangendo a Dinamarca, Itália. Abstraindo a questão geografica ( a qual joga com a possibilidade de qum “realmente” escrever ter sido uma espécie de diplomata, à época ) as temáticas envolvidas eram de dominio público: ex., Romeu e Julieta baseia-se em mitos comuns como o cristianismo e o mito do aparecimento do milho; Mercador em Veneza, bota tema batido, que é o “esculachar os Judeus, exploradores de incautos, vendilhões do templo, etc.
++ Perdão pelo “Há questão” ; o correto é ” A questão”
Uma das coisas que já li é que essa ideia de que não foi Shakespeare o o verdadeiro autor vem do fato de que ele não vinha da universidade,como quase todos os dramaturgos de sua época. Mas o que realmente me entristece é que o destino não quis que se desenvolvesse uma disputa por um bom tempo entre Marlowe, autor de Doutor Fausto e Eduardo II, e Shakespeare. Imagino o que essa rivalidade não criaria.
Machado de Assis foi genial tambem, e que eu saiba nao teve uma educacao de gente rica da epoca. Genios nao precisam de educacao formal, sao autodidatas.
Caro Sérgio
Millor Fernandes fez uma tirada sensacional sobre a querela. Algo assim:
Shakespeare nunca existiu. Foi outro cara genial que escreveu todas aquelas peças e poemas e que, por coincidência, também se chamava Shakespeare.
Esta é uma grande tolice que vem sendo repetida, mas não tem consistência alguma.
Paul Johnson, grande historiador inglês, na sua obra:2006 Creators Harper Collins Publishers (USA) ISBN 0-06-019143-0, refuta este argumento.
W.Shakespeare foi um gênio, e como gênio, desafia o senso comum.
Ta. Se voce, pra ser localizado, precisa trazer dependurado ao pescoco um cincerro qualquer, entao, leia a Biblia. Agora, se estah aa aitura de discutir politica com gente do nivel de um Maquiavel, entao, leia Hamlet.
Duas coisas:
1) As especulações sobre a identidade de Shakespeare são muito curiosas e vão desde Christopher Marlowe a Francis Bacon (!):
http://en.wikipedia.org/wiki/Shakespeare_authorship_question
2) No romance ‘Mansfield Park’, da Jane Austen (capítulo XXXIV), um personagem comenta que “a gente fica conhecendo Shakespeare não se sabe como. É uma parte da constituição inglesa.” Essa opinião me lembra um pouco das excêntricas teorias que dizem que por trás daquelas obras não estaria um indivíduo, mas uma coletividade, um grupo de pessoas que foi registrando as ideias no papel. A primeira vez que li esse trecho achei muito interessante, já que em pouco tempo (o livro é de 1814) a própria Jane se tornaria uma das “rivais” do William nesse aspecto, tanto na popularidade quanto na excelência da escrita.
Mas que chatice! Sempre tem um estraga-prazeres invejoso procurando defeitos nas obras de arte que melhoram a nossa vida!Discutem tudo, como se fossem grandes conhecedores, pensando guiar o povo através do deserto de idéias em que se transformou o mundo!”Para o lago, para o lago, com uma pedra atada aos pés!”
Só mais uma observação: falei da Jane Austen e esqueci de mencionar que ela também já esteve na mira de um desses casos de questionamento de autoria: http://www.guardian.co.uk/books/2010/oct/23/jane-austen-poor-punctuation-kathryn-sutherland
Sérgio Rodrigues, sim existiu um WS. Mas, era o autor teatral (já famoso à época)? Porque o autor das peças não morreu anônimo e ficou famoso depois. Então algum outro famoso da época deve ter encontrado com ele, escrito cartas ou memórias citando-o.
Corrigindo: famosas eram as peças ao tempo em que foram escritas e encenadas. E justamente por isso o autor delas devia ser conhecido entre seus contemporâneos. Thomas More e Erasmo de Roterdam foram amigos. E assim outros tantos famosos de que não me lembro agora. WS deve ter sido amigo ou pelo menos conhecido de alguém não?
Guida, sim, Shakespeare foi famoso em seu tempo como autor de suas peças, as evidências são inúmeras. Segundo conta James Shapiro, talvez a maior autoridade no assunto, as primeiras suspeitas (que ele desmonta como armações) só começaram a circular dois séculos depois de sua morte. Baseavam-se na suposição de um complô muito bem urdido, pelo qual Shakespeare levasse a fama de textos escritos secretamente por outro.
Bem… o 2. grau da época devia ser infinitamente melhor que, digamos, quase todas as faculdades brasileiras atualmente. Então esse ponto da questão não me intriga. Agora, WS não tem personagens principais da sua classe. Álias, como Homero ou Homeros. Hesíodo sim (O trabalho e os dias). Quixote e muitos dos que passaram pela estalagem, Lazarillo e por aí vai. Mas WS não.
KKKK. Mais um coitado procurando notoriedade às custas de Shakespeare. E assim caminham os tolos.O conde de Oxford, Edward de Vere morreu em 1604. Shakespeare escreveu até 1613. Provavelmente Edward de Vere escreveu Henrique VIII, Coriolano a Tempestade e as outras peças além-túmulo. Lá do céu ou do inferno! Risível!
Shakespeare diria “Então tá”?
Seria importante para uma nação em expansao que galgava a hegemonia em tudo, tambem literalmente. Por isso que a Inglaterra com suas trapaças e roubos e a pequenes de reis como da espanha e portugal q foram subjulgados pelas trapaças da conhecida PERFIDA ALBION. E OS MACAQUITOS BRASILEIROS SE AJOELHAM FRENTE A CULTURA ANGLOAMERICANA.