Por Maria Carolina Maia
Coube aos brasileiros Angeli e Laerte a inserção de quadrinhos na programação da Flip, que nos anos anteriores recebeu os icônicos Robert Crumb e Gilbert Shelton (2010), de América e Freak Brothers, e Joe Sacco, do jornalístico Palestina (2011). Mas, ou por serem figuras bem conhecidas do público ou porque a mediação do jornalista Claudiney Ferreira deixou a desejar, o encontro de Laerte e Angeli não foi nenhuma surpresa para a plateia que encheu a tenda dos autores, junto ao centro histórico de Paraty. Exceto pela crítica de Angeli à comédia de tipo stand-up, que ele taxou de apelativa, para quem está habituado a ver entrevistas com os dois cartunistas a mesa-bônus na programação da festa, realizada a partir das 21h30 deste sábado, teve sabor de reprise. Os cartunistas falaram de seus velhos personagens, da necessidade que sentem de renovação do trabalho e de si mesmos – os mesmos personagens de sempre.
Com um belo vestido colorido, Laerte contou mais uma vez como se percebeu transgênero. Foi a partir da publicação de uma tirinha com o personagem Hugo, que aparece travestido e dizendo, “Às vezes, um cara tem de se montar, ué”. “Eu me descobri transgênero. Eu tenho uma identidade feminina. Mas esse não é um assunto acabado”, disse o cartunista, que admitiu se guiar pela imagem de feminilidade que estampa as capas de revista e voltou a defender o uso do banheiro feminino por homens que se identificam com o gênero. “Na Argentina, que está avançada nesse campo de direitos iguais, está se disseminando a prática de banheiros bigênero.”
Laerte falou de Hugo depois de Angeli explicar, pela enésima vez, por que matou ou abandonou personagens como a Rê Bordosa e o punk Bob Cuspe – Laerte disse que Hugo é o único de seus personagens antigos que permanece sobre a sua prancheta. “É muito gostoso criar um personagem e vê-lo encorpar. Mas meu projeto nunca foi ser o Schultz, do Peanuts, ficar 50 anos fazendo a mesma coisa. Não quero ser enquadrado. Eu gosto de renovação”, disse Angeli. “Além disso, os personagens que eu criei nos anos 1980 eram ligados a coisas que eu vivia na época, o rock, o movimento punk, e hoje não fazem mais sentido para mim, eu não sinto mais a necessidade de pertencer a um grupo.”
O momento mais divertido da noite se deu nesta parte, quando alguém da plateia perguntou ao cartunista da zona norte de São Paulo se a junkie Rê Bordosa era o seu tipo ideal de mulher. “Não, não, não. Ela e o Bob Cuspe não são pessoas com quem eu gostaria de ter amizade – uma mulher bêbada num bar, babando, um cara escarrando em você. São pessoas que eu acho curiosas, mas não gostaria de ter como amigas, não.”
3 Comentários
Acho que ele pode se vestir como quiser,mas nao usar o banheiro de mulheres.A liberdade dele termina quando começa a das frequentadoras dos banheiros femininos.
decadente, os dois. sempre foram…ha quem goste.
alias, aqui em banania, aos montes.eu ?abjeto!
…meus ouvidos e olhos nao sao e nem nunca serao esgoto para a ‘arte’ destes tipos.
no brasil , viceja e floresce a cultura do estrume.
Laerte é patético!