Quando finalmente cheguei a Parati, era fim de tarde de sexta-feira e o trem já ia lá na frente, puxado por uma locomotiva desembestada chamada Will Self, com seu rastro fumegante de gozações agressivas com tudo e com todos, no geral e no particular – da própria literatura ao mediador de sua mesa, Arthur Dapieve, a quem terminou propondo galhofeiramente que tivessem um caso e fugissem para a Amazônia, onde se dedicariam ao esporte nacional de “derrubar árvores”.
Meu amigo Dapi disse ter ficado à vontade com isso – a experiência de contracenar com Marcelo Madureira na TV deixa qualquer um preparado para gozações pesadas – mas a Flip pareceu se dividir diante do anarquismo meta-arrogante da persona maluca que Self criou para si (dizem que é afável na “vida real”). De acordo com uma pesquisa informal que conduzi, o espetáculo selfish divertiu e revoltou o público em partes mais ou menos iguais.
Fiquei com a impressão de ter sido esta a minha maior perda na quinta edição do evento. Sou admirador das sátiras de Will Self – brilhantes nos melhores casos e pelo menos curiosas nos menos felizes – desde que esbarrei com seu livro de estréia em Londres há quinze anos e decidi comprá-lo com base apenas no título excelente, The quantity theory of insanity (“A teoria quantitativa da insanidade”). Ainda é meu Self preferido, mas permanece inédito no Brasil, onde sua literatura, na verdade, nunca pegou. A Geração Editorial tentou por algum tempo e agora é a vez da Objetiva/Alfaguara, que pôs nas prateleiras os romances “Grandes símios” e “Como vivem os mortos”. O recente The Book of Dave é o próximo da fila, mas, como vem ocorrendo também em outros países, ainda não encontrou um tradutor suficientemente masô para enfrentar o desafio de recriar a língua futurista inventada pelo autor. Consta que o tradutor francês desistiu depois de um colapso nervoso.
A conferir: será que o misto de hilaridade e ódio despertado por Will Self na Flip vai finalmente inscrevê-lo na agenda dos leitores brasileiros ou será, pelo contrário, seu beijo da morte?
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Peguei o bonde andando, pois é – tanto que não me senti à vontade para sair disparando posts em cima do laço. E não podia ter embarcado numa região mais distante do anarquismo niilista de Self. Para mim, a Flip começou com a mesa em que a sul-africana Nadine Gordimer, que já ganhou o Prêmio Nobel, e o israelense Amós Oz, que se houver um pingo de justiça neste mundo ainda o ganhará, mostraram um entrosamento digno de Pelé e Coutinho para protagonizar a mesa que foi considerada por quase todo mundo a melhor, a mais densa, a mais emocionante e a mais “literária” desta Flip. Dentro do pouco que vi, concordo.
Oz leu um trecho de suas memórias, falando do dilema enfrentado por sua família numa Jerusalém ainda ocupada pelos britânicos, no início dos anos 40, entre comprar queijo dos colonos judeus ou de seus vizinhos árabes – dúvida insolúvel em que um argumento a favor de um lado sempre engendrava um contra-argumento igualmente válido, ad infinitum, como num quarto de espelhos. Foi um espanto. Esse pequeno texto de humor político é nada menos que uma peça de gênio. O conflito israelense-palestino cresceu exponencialmente desde a infância do autor, mas de alguma forma já estava tudo ali, em embrião, no prosaico dilema do queijo.
“Durante muitos anos eu achei que tragédia e comédia fossem dois planetas distantes”, disse Oz. “Hoje eu sei que são duas janelas através das quais se descortina a mesma paisagem.”
Saí da Tenda dos Autores feliz, reconciliado – momentaneamente pelo menos – com a idéia de que a ficção ainda pode, sim, ter o peso cultural e a relevância histórica que tinha no tempo de Tolstói. E intrigado com o fato de ainda haver quem descarte a Flip como um passatempo de socialites e deslumbrados, traição mercantilista ao verdadeiro espírito da literatura. Como se fosse o queijo do vizinho numa terra dividida.
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Antes de Nadine e Oz, o mexicano Guillermo Arriaga, que só vi de passagem no telão da Tenda da Matriz, parece ter se sagrado o campeão de suspiros femininos da festa. O que é estranho. O roteirista do abominável “Babel” me pareceu muito menos espontâneo e desarmado do que seu companheiro de mesa, o americano Dennis Lehane. Enfileirou uma série claramente ensaiada de frases de efeito (sobre a mulher menstruada carregar dentro de si o paradoxo da vida e da morte, além de outras bobagens “sensíveis”). Mais tarde, conversando com Marçal Aquino, o mediador do encontro, ouvi dele uma tese respeitável sobre o sucesso de Arriaga com as moçoilas: “Hoje em dia basta o menor sopro de virilidade para o cara se destacar”.
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No sábado, a psicanalista Maria Rita Kehl passou o tempo todo tentando deitar no divã o romance de amor “O passado”. Felizmente, seu autor, o articuladíssimo argentino Alan Pauls, soube manter a conversa nos trilhos da literatura. A vontade de ler o catatau de 500 páginas lançado pela Cosac Naify – que vem sendo elogiado por todo mundo que o atravessa – ganhou ainda o impulso do belo e climático trailer do filme inédito de Hector Babenco baseado na obra, que foi exibido antes da mesa.
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Nessa minha passagem abreviada por Parati, me despedi das mesas no sábado à noite e em grande estilo: vendo e ouvindo o sul-africano/australiano J.M. Coetzee – que, aprendi lá, pronuncia-se Coutsía, vê se pode – ler longos trechos de seu próximo livro, Diary of a bad year. Numa nota aí embaixo, chamada “O melhor da Flip – de graça”, eu tinha sugerido que a antecipação de um excerto do mesmo livro pela “New York Review of Books” tirava parte da graça daquilo que o Nobel de 2003 apresentaria em Parati. Estava enganado.
Sim, houve quem saísse irritado com o formato da apresentação, inédito na história da Flip: sozinho no palco, em pé diante de uma tribuna de madeira escura e vestido como um agente funerário, Coetzee limitou-se a falar durante um ou dois minutos do livro, nada além do suficiente para contextualizar aquilo que leria em seguida – em sua maior parte, trechos diferentes e melhores do que os antecipados pela “NYRB”. Terminada a leitura, virou as costas e deixou o palco. Nenhuma pergunta, nenhuma resposta. Nenhum sorriso.
Quem considerou aquilo um insulto à honra pátria, quase uma versão literária do “Welcome to the Congo” daquele idiota americano – sim, houve gente nesse caso –, deixou de levar em conta algumas coisas a meu ver fundamentais. Primeiro: fora anunciado exaustivamente que a apresentação seria assim. Segundo: o formato que para nós parece o cúmulo da antipatia tem tradição em países de língua inglesa; quem se lembra da cena de “Capote” em que um Truman de terno preto – como o de Coetzee, aliás – lê seu ainda inédito “A sangue frio” de cabo a rabo num teatro? E terceiro: que importância teria saber se Coetzee costuma escrever antes ou depois de escovar os dentes de manhã, se usa esferográfica, Olivetti ou computador, de onde “tira suas idéias” ou qualquer dessas bobagens flipescas – que relevância teria isso diante da prosa de acachapante qualidade que ele apresentou com dicção perfeita e uma sobriedade sob medida, que apenas quem não conhece a contenção de suas frases, provavelmente as mais secas e energéticas da literatura contemporânea, poderia confundir com falta de talento dramático?
Pela segunda noite consecutiva saí da Tenda dos Autores feliz, embora, dessa vez, bem mais apressado. Havia aproximadamente cento e setenta pessoas por metro quadrado em Parati no sábado, o que agravava o drama dos restaurantes permanentemente lotados a tal ponto que jantar depois da meia-noite já começava a parecer uma perspectiva razoável.
Felizmente, um casal de amigos tinha achado a apresentação de Coetzee uma chatice e saído no meio. Fazia algum tempo que estavam acomodados numa mesinha do belo restaurante tailandês da cidade, à qual, gentis, me cederam um canto. Se eles não tivessem implicado com Coetzee, eu, que almoçara muito mal, teria provavelmente desmaido de fome e rachado a cabeça naquele calçamento hostil antes que as filas terminassem de se dissipar.
Ainda bem que esse negócio de literatura é subjetivo às pampas.
47 Comentários
O Self parece ser simpático. Vejam no Youtube a entrevista que ele deu para o British Council. Bom retorno, Sérgio.
Coetiziiiiii usou de sua nobelíssima literatura para ser arrogante. Sua voz, no entanto, deu outra dimensão à sua escrita.
Perdeste a mesa com o jovem Ismal beah.
Uma pergunta não quer calar: até quando o Iphan irá permitir a derrubada dos interiores dos velhos casarões coloniais para que neles se estabeleçam horrendos “lounges” e “cafés” paulistanos?
Dois: Até quando o Iphan irá permitir que um evento leve mais de 20 mil pessoas numa cidade histórica, grande patrimônio, e que não cabe 5 mil?!
Não está na hora da Flip deixar o centro histórico de Paraty e procurar lugares menos ameaçadores para a nossa própria história?
Apenas uma indagação…
Seja bem vindo, Sérgio! Muito bom seu painel da FLIP. Inteligente, generoso, bem-humorado. Nada como um olhar – ainda que momentaneamente – reconciliado com a ficção para animar a gente! Você teve notícias do Jim Dodge? Foi mesmo atropelado pelo Will Self? Não sobrou mesmo nenhum espaço para o pai da Fup dizer algo interessante?
Um abraço!
Sérgio, eu que li Coetzee por suas referências elogiosas ao escritor – inteiramente procedentes – penso um pouco diferente. Li e amei e não vi e odiei. Se o artista é recluso e não gosta do contato humano com os leitores, não precisava vir. De minha parte continuaria e continuarei a ler seus livros. Você descreveu muito bem sua prosa, “seca e energética”. Mas a leitura pelo autor me pareceu, neste caso inteiramente dispensável.
Olá, Sergio, seja bem-vindo, que tudo esteja bem, e merci pelos ótimos comentários sobre a Flip, cujo parágrafo inicial merece o destaque dos “melhores começos” de romances, de que você gosta tanto:
“Quando finalmente cheguei a Parati, era fim de tarde de sexta-feira e o trem já ia lá na frente, puxado por uma locomotiva desembestada chamada Will Self, com seu rastro fumegante de gozações agressivas com tudo e com todos”. Isso dá um belo conto. Quanto aos comentários sobre o Coetzee, que eu não li (ainda), achei a atitude antipática, embora não me interesse a hora em que ele escreve nem escova seus dentes.
Meu caro Sérgio Rodrigues, belo relato, do qual me permito discordar com relação ao Coetzee, embora a falha pareça ser mais da FLIP por não negociar melhor os detalhes da participação dele.
Em Roma, faça feito os romanos; pouco importa se em países tipo Reino Unido e Alemanha a leitura de trechos selecionados pelo autor é uma prática comum. No Brasil não é, e vocês estão no Brasil, então ele que faça um esforço de ser um pouquinho mais acessível ou, mais uma vez, não vá (a menos, repito, que esse formato tenha sido previamente aceito pelos organizadores).
Acho, por outro lado, que a apresentação do Coetzee (que, segundo o Marcelo Tas, participou tb da mesa-redonda final com a Nadine Gordimer et al) serviu talvez para moderar um pouco o frenesi desse tipo de festival e fazer com que as pessoas se concentrem e prestem atenção nas palavras e nos textos, que seriam, em tese, os grandes protagonistas da FLIP. No mais, detectei excessos de deslumbramento em nossos jornalistas, uma platéia embevecida e ainda inconsciente de seu provincianismo e pouca literatura de alto nível, para ser sincero. Não gosto de Amos Oz (ativista disfarçado de escritor), não considero o que o Wil Self faz literatura e, a despeito de Bookers e do Nobel, não me entusiasmo pela prosa excessivamente solene do Coetzee. Assim, a grande estrela da FLIP para mim terá sido a sempre bela Thalma de Freitas à frente da Orquestra Imperial.
Will…
Valeuuuuu Sérgio por teus apontamentos! Divertido, informativo.
Pelo menos este ano os escritores aquartelados em Parati não escreveram nenhum manifesto a favor dos terroristas.
Bom resumo, Sérgio. Pena que – acho – você não viu o Luiz Felipe Alencastro, que achei dos melhores momentos na Flip.
Aliás: ontem li “Dóris e Bóris”, do Luiz Vilela, e achei um elogio seu lá no meio da apresentação. Bom gosto!
Abçs!
oi… tà sem sem graça a web sem o nominimo… não me conformo. Mas que bom que posso passar por aqui e te deixar um abraço… volto sempre 😉
Sua síntese da Flip, apesar do pouco que o prezado amigo pode acompanhar, está muito bem feita, objetiva e esclarecedora.
Muito obrigado.
É, eu não fui à Flip e confundi, por desconhecimento, a contenção das frases do Cotzee com falta de talento dramático. Passei os dias da Flip aqui em casa, lendo o romance A dança dos desejos, Opus 13, do Esdras do Nascimento, completamente extasiado. Confirmei o que já havia dito aqui (quer dizer, na encarnação anterior do TodoProsa lá no NoMínimo): Esdras do Nascimento é um dos maiores romancistas brasileiros vivos. De quebra, além de ler seu último romance, ainda tive a chance de assistir sua entrevista à Globo News e descobrir que além de magnífico escritor ele é um cara inteligentíssimo, bem-humorado, sem estrelismos (adoraria vê-lo lendo por uma hora lá em cima do púlpito da Flip!), sutil e generoso. Ah, sim: e também simpático.
Como se vê, a minha off-Flip foi bem produtiva. Confirmei o que já desconfiava: há literatura de verdade também fora de Paraty – aos menos, para mim.
P.s.: Se a postura de Mr. Cotzee é pra lá de comum nos países anglo-saxões, talvez fosse mais barato ele ter gravado um dvd e mandado para os organizadores da Flip, que na hora marcada o exibiriam na Tenda ou seja lá onde fosse (dada a importância importantíssima do autor, em praça pública talvez). Faria o mesmo efeito, visto que sua presença não foi “interativa” com o público que o admira. Alguém tinha que ter sutilmente avisado – afinal o homem foi divinizado com um Nobel, aquele premiozinho político pra caramba – ao Mr. Cotzee que no Brasil o buraco é mais embaixo, e que as platéias brasileiras adoram trocar fluidos literários. Coitado, talvez ele se sentisse um tanto quanto enojado com o nosso primitivismo. Deus e Liz Calder sabem o que fazem!
Sempre achei os filmes do Iñarritu com roteiros do Arriaga superestimados; e como agora já foi taxado de “abominável”, reitero qie “Babel” era mais uma barra forçada de desgraças à mexicana disfarçadas de
“efeito borboleta” (naõ aguento mais filmes que “ilustram” essa teoria. E agora com a frase mencionada do Arriaga na Flip, fica claro que o mau-gosto piegas e boboca é o cerne de suas “idéias” cheias de barulho e fúria significano quase nada. Falando em “ilustração”, Maria Rita Khel costuma ser esperta mas mania dos coleguinhas psi de privilegiar a leitura psicanalítica sobre a obra de arte pode ser uma faca de um gume só quando deveria ser de dois, ou seja, a psicanálise pode iluminar uma leitura, mas a leitura da grande ficção também ilumina o pensamento psicanalítco. Os exemplos óbvios estão no velho Freud que apreendeu parte do que tinha a dizer lendo (apenas para citar alguns dentre muitos outros) Goethe, Hoffmann, Ibsen, Dostoiévski, Shakespeare e Sófocles de quem pediu emprestado o Édipo-Rei para falar do desenvolvimento psicossexual do ser humano. Não há privilégio
da psicanálise sobre a literatura. Há uma troca, em mão-dupla. Aprende-se muito mais sobre a alma humana lendo Dostoiévski do que lendo Lacan.
Já ouviram falar do RetarDaio?
http://sacaneandooretardaio.blogspot.com/
“Quem considerou aquilo um insulto à honra pátria, quase uma versão literária do “Welcome to the Congo” daquele idiota americano – sim, houve gente nesse caso –, deixou de levar em conta algumas coisas a meu ver fundamentais. Primeiro: fora anunciado exaustivamente que a apresentação seria assim. Segundo: o formato que para nós parece o cúmulo da antipatia tem tradição em países de língua inglesa; quem se lembra da cena de “Capote” em que um Truman de terno preto – como o de Coetzee, aliás – lê seu ainda inédito “A sangue frio” de cabo a rabo num teatro? E terceiro: que importância teria saber se Coetzee costuma escrever antes ou depois de escovar os dentes de manhã, se usa esferográfica, Olivetti ou computador, de onde “tira suas idéias” ou qualquer dessas bobagens flipescas – que relevância teria isso diante da prosa de acachapante qualidade que ele apresentou com dicção perfeita e uma sobriedade sob medida, que apenas quem não conhece a contenção de suas frases, provavelmente as mais secas e energéticas da literatura contemporânea, poderia confundir com falta de talento dramático?”
Finalmente o bigodinho lamentável escreveu alguma coisa que preste! Milagre!
Amós é bom demais! Coetzee idem.
Sabe, gente, fico dividido nessa questão do Coetzee. Li Desonra, indicado pelo Sérgio, e achei excelente. Sérgio, aliás, eu vi que se pronuncia Coutsía num artigo do Bernardo Carvalho, outro dia, na Folha. Ia te escrever para dizê-lo, mas resolvi deixar você viver sua surpresa lá na FLIP, que sabia que você iria. Bom, quanto à participação dele na FLIP, como disse, estou dividido. Adoro escritores não-estrelas. Adoro gente acessível, que desmistifica seu trabalho, que fala com simplicidade, que troca idéias, que é simpático: o mundo tá precisando de simplicidade e simpatia. Por outro lado, tudo hoje é banalizado, não existe ritual para nada, e o mundo, igualmente, tá precisando de rituais. Nós precisamos de um pouco de rituais para que as coisas tenham mais peso, mais significância. E está aí minha divisão: o Coetzee não foi simpático, mas foi ritualístico, o que eu não considero tão ruim assim. Acho necessário um pouco de “sagrado” quando se trata de arte. Pelo que consta, ele também não foi desrespeitoso com o Brasil ou sua gente, foi apenas solene. Talvez o avesso de Marcelinos Freires ou Carpinejares, que aliás acho escritores muito bons, mas sintetizam o contrário do Coetzee (vão a todos os lugares, falar dos temas mais díspares possíveis: marketing literário). Então, sinceramente… Não sei! (boa conclusão!!!!)
Aliás, a respeito do Guillermo Arriaga (eu tava pensando que fosse só eu que considerei ele rasinho…): nos trechos que vi da entrevista dele ao Roda Viva, ontem, me pareceu isso mesmo: clichês. “Tratar da morte é um modo de explicar a vida”, etc. Não consegui vislumbrar também nada de mais, nada de tão original. Mas talvez o Aquino esteja certo mesmo. Depois quando se fala em “literatura de mulherzinha” (expressão machista, obviamente) as mulheres reclamam. Abraço!
Saint-Clair: a partir de sua ótima dica, estou assistindo a entrevista do Esdras do Nascimento no site Globo Vídeos. Muito obrigado. “Pinço” um “causo” contado pelo piauiense a respeito de seu amigo Osman Lins. Certa vez, teriam perguntado a Osman sobre seu método de trabalho, se ele costumava ter um número qq de páginas produzidas diariamente. Osman responderia: “Às vezes, eu passo 4 horas trabalhando, escrevo apenas 3 ou 4 linhas e posso ficar muito feliz com isso. Há dias em que eu produzo 40 páginas e fico muito infeliz. Porque o que importa não é que o texto avance. O que importa é que eu avance como escritor e avance espiritualmente.”
Caros companheiros de janela, embora na verdade eu veja muitos aqui desdenhando da FLIP, me acreditem, o negócio é bom à beça. Além de ter tido a graça de respirar, por 5 dias inteiros, o mesmo ar que estes bambas da literatura, tive tb a honra de entregar ao Todoprosa, em (primeiríssimas) mãos, um exemplar do meu novo romance. Tomara que renda uma notinha, hehe.
Hierosgamos, Diário de uma Sedução:
à venda – http://www.livrariacultura.com.br
ao vídeo – http://br.youtube.com/watch?v=B9guj9UF1aA
E para quem quiser provar a minha versão do queijo branco de Amós OZ e outras heresias de Paraty: http://www.noga.blog.br
Valeu Sergio, obrigado… estava esperando por isso.
Um escriba disse aqui se aprende muito mais da alma humana lendo Dostoievsky do que Lacan. É verdade, até porque o Lacan não estava interessado na alma de ninguém. Por falar nisso já tem tradução do seminário O Sintoma, onde ele faz psicanálise a partir da escrita do Joyce. Mas é pra quem tem estofo, o livro é chato pra caramba.
Noga, minha filha, você não consegue dar um peido sem fazer uma propagandinha de algum livro seu, hein? Já está ficando constrangedor… É “videoclipe” feito por não sei quem, é Hierorgasmos não sei das quantas… Caramba! Se fosse uma vez ou outra, ainda ía, mas não há um só dos seus comentários (sobre qualquer assunto) que não venha com uma autopropaganda acoplada! Acho que até em nota de falecimento você daria um jeito de dar uma propagandeada! Jesus Christ! Ooops, sorry, você é judia: pelas gravatas do Rabi Sobel!
Uma pena que esse tipo de acontecimento só ocorra de tempos em tempos, não é mesmo?
“And now we open the floor to fawning praise and obvious questions”
“E terceiro: que importância teria saber se Coetzee costuma escrever antes ou depois de escovar os dentes de manhã, se usa esferográfica, Olivetti ou computador, de onde “tira suas idéias” ou qualquer dessas bobagens flipescas – que relevância teria isso…”
Exatamente o que eu queria dizer quando foi anunciada a participação do Coetzee (li numa time que se pronunciava cotssuí =/ ) na Flip. Vontade de jogar conversa fora não define a qualidade do escritor, e tudo que me interessa nessas criaturas são seus livros, e não seus hábitos alimentares.
Não vão ler porque fulano é arrogante? Azar o de vocês.
“o mundo precisa de simplicidade e simpatia” para que? Para ficar circulando por Paraty, pelos sofás do Jô e da Hebe?
Esse mundo precisa é de vergonha e solidariedade.
A literatura não veio para trazer simpatia ou simplicidade. A literatura veio para o diálogo, para a ruptura, para o Apocalipse das idéias pre-concebidas de pré-formatadas. E não creio que em uma Festa Literária seja o lugar por excelência para que isso ocorra.
mas no recanto solitário de um leitor que se encontra com o autor; numa mesa de restaurante ou café em que o livro é um ponto de fuga de nossa realidade de reticências e incongruências do cotidiano.
Esse encontro é uma realização intangível, imaterial mediada pelo livro. (para que não haja equívoco interpretativo).
Em termos de platéia deslumbrada, nada pode comparar-se àqueles bate-papos com o autor que o CCBB promove… A platéia é de uma submissão abaixo de canina, parece a platéia que vai assistir ao programa do Jô Soares.
Magnificat (nossa, que humildade no apelido…), que eu saiba Todoprosa é um blog de literatura, para falar de literatura, e sem sair do assunto digo o que me dá vontade e claro, assino embaixo, melhor que um certo inimigo anônimo que me persegue seja em que blog for, e sempre com a mesma ladainha apesar dos apelidos variadíssimos, aí em cima, ainda por cima, com um toque especial de anti-semitismo. ainda bem que na FLIP a literatura hebraica andou por cima, e como, e com que qualidade, e é disso que estou falando: da FLIP, de autores, de literatura e de realização profissional depois de muita batalha. se alguém se sentiu ofendido, lamento.
Carlos Fuentes evitou conhecer pessoalmente Borges. Temia se decepcionar constatando que el maestro, como todo ser humano, tb teria lá as suas idiosincrasias. No fundo, todo escritor é personagem de si mesmo.
Os Brasileiros são um povo profundamente carente, a julgar pelas manifestações aqui postadas contra a performance do Coetzee. Precisam “trocar fluidos literários” com o autor; precisam que o autor “desmistifique a sua obra”. Ora, ora! São vocês que estão mistificando a obra do Coetzee, ele é apenas um escritor e não tem que corresponder aos anseios de carinho e afeto que a Brazucada sente toda vez que uma celebridadezinha qualquer se propõe a falar em público. Coetzee fez o trabalho dele (aliás um trabalho idiota de ler para pessoas ouvirem), que mais vocês querem, seus desamparados? Ele não tem de “descer” do pedestal algum, foram vocês que o colocaram lá, agora comportem-se como adultos e saibam apreciar uma obra sem necessitar ipso facto de abraços e beijinhos do autor.
Quanto ao Roda-viva, na Rede Minas, na Tv Cultura, nas TVEs etc. haverá a apresentação de entrevistas com outros participantes da FLIP 2007: na madrugada de hoje para amanhã é com Mia Couto; amanhã Amós Oz; quinta Nadine Gordimer; sexta Robert Fisk & Lawrence Wright. Pelo que entendi, o horário é 0h30min.
Ah, sim, sem querer ser injusto e superficial, afinal jamais li um livro seu ou assisti a um filme roteirizado por ele, apenas ao Roda-viva de ontem, mas achei o Guillermo Arriaga um bosta.
Puxa, Paulo (outro Paulo), também não precisa exagerar na crítica ao caráter do brasileiro, e não é porque se acha um certo autor antipático que se deixa de ser adulto, ou mesmo de gostar da obra dele. Todo autor de uma obra importante acaba sendo também objeto de interesse para o leitor, quando mais não seja porque produziu algo que, se somos tocados, pertence a cada um de nós. Há afeto, sim, (ou admiração, ou respeito, ou o que for)por e para todo aquele capaz de produzir uma arte tocante, forte, eficaz, transgressora etc, etc.
Vera, não há nada de errado em admirar, ou até mesmo suspirar de tesão e amor pelo autor; o que me parece imperdoável é essa carência afetiva, essa ânsia de carinho, esse ímpeto de ternura e contato corporal que o Homo Cordialis Brasiliensis projeta nas celebridades e que quando não reverbera ele taxa de “antipatia” ou mesmo de “grosseria”.
Quanto ao Guillermo Arriaga, assisti à entrevista ontem no Roda Viva (melhor programa da TV brasileira) e, apesar de só agora saber que ele deixa as mulheres excitadas, o que — admita-se — pode ser objeto de muita inveja por parte dos críticos machos, já no meio da entrevista pude concluir que ele é realmente medíocre.
alguém aí já leu veronica stigger????
Meio-off: notícia publicada no Terra:
“Universidade lança ‘reality show literário’ na Internet
Quarta, 11 de julho de 2007, 03h01
A Universidade Nacional Autônoma do México (UNAM) lançará em agosto um “reality show” literário pela Internet, informou hoje o diretor de Literatura da instituição, Sealtiel Alatriste, ao apresentar o concurso.
O escritor disse em entrevista coletiva que depois do sucesso da primeira edição do programa “Caça de letras”, vai convocar 12 escritores estreantes e três com obras publicadas para escrever um romance de umas 70 páginas nas oito semanas da competição na rede.
Alatriste foi à cerimônia de premiação do primeiro “Caça de letras”, vencido pela estreante Fernanda Melchor, por seu desempenho em várias provas escritas. A autora, que assinava com o pseudônimo “Falanja”, ganhou um prêmio de 50 mil pesos (US$ 4,6 mil). Agora ela está negociando com várias editoras a publicação de seu primeiro romance.
O diretor da UNAM comentou que na segunda edição o prêmio será de 100 mil pesos. Poderão competir escritores mexicanos de 20 a 35 anos. Durante oito semanas, informou, os escritores terão um blog no portal http://www.cazadeletras.unam.mx, para escrever seu romance. Além de escrever a obra, os competidores deverão realizar exercícios complementares ao redor da história que tenham escolhido.
“Será um concurso muito mais difícil que a primeira edição”, avisou. Na primeira edição, este ano, o site recebeu 200 mil visitas, superando as expectativas.
EFE
Leia esta notícia no original em:
Terra – Tecnologia
http://tecnologia.terra.com.br/interna/0,,OI1749050-EI4802,00.html”
Paulo (outro Paulo),
Concordo com você… em vários de seu comentários, principalmente com esse fato de colocarem autor em pedestal, pro pedestal vai a obra, isso se ela merecer…
Por favor, me lembrem de NUNCA
Por favor, me lembrem de NUNCA me sentar com vocês numa mesa de bar pra discutir literatura. Prefiro comer a bunda de um cadáver, ele deve ser mais “quente” que vocês. Já pensaram em se mudar pra um iglu na Antártida? Acho que vocês têm TUDO a ver com a paisagem…
Comer a bunda de um cadáver? Cruzes…
Lord Saint-Clair, nao entendi. Esse seu aviso de lembrar de nunca… Voce está se referindo a todos (TODOS MESMO) ???
Puxa! Estava planejando uma viagem ao Rio e agendar uma noite de encontro para compartilharmos de letras e iguarias cariocas. Uma Noite dos Todoprosas…
Oi João!
Não, “todos” não: estava falando apenas para esses pedantes aí de cima, que não entendem que literatura é tesão, paixão e, sim, troca de fluídos literários.
Ufa!
Agora posso correr para as Cias aéreas. (rsrsrs)
Ah, e quando vier, me procura: ao contrário do que possa parecer, não mordo nem dou patadas. Sou uma flor de pessoa, nem parece que tenho 1,85m e quase 130 quilos! O pessoal daqui que me conhece pessoalmente pode atestar a veracidade da minha meiguice 🙂
Ei, nada desse negócio de vocês aí em cima ficarem fingindo de morto, einh!!