Alguém pode protestar dizendo que é ridículo decidir qual livro comprar com base num mero adjetivo. Eu concordo inteiramente. Mas deixe-me enfatizar que, se eu compro apenas livros que foram chamados de “assombrosos”, não compro todos os “livros assombrosos”.
(?) Se há momentos em que eu temo que minha obsessão com a palavra “assombroso” me impeça de comprar um grande livro? Claro que sim. Mas a verdade é que, se ninguém descreve um livro como assombroso, ele provavelmente não é assombroso, e, se não é assombroso, quem precisa dele?
Em artigo no “New York Times” (em inglês, mediante cadastro gratuito), o escritor Joe Queenan afirma ter encontrado um modo de lidar com o excesso de títulos postos no mercado e com o terreno pantanoso – sim, também lá – da crítica e da imprensa literária: há anos só compra livros que pelo menos um resenhista tenha brindado com o adjetivo “assombroso” (astonishing).
Talvez não custe acrescentar que o texto é um exercício de ironia.
19 Comentários
Por aqui nem todos os livros são “assombrosos”, mas os seus preços, sempre.
Muito bom. Ainda bem que as editoras brasileiras não adotaram o costume das americanas de colocar duas ou mais páginas internas com elogios da imprensa (isso nas edições baratas, raras por aqui).
Se por acaso eu fosse publicado nos E.E.U.U., adoraria que estivesse estampado na capa “a mindbender of a read, Village Voice”, como em Neuromancer de W. Gibson. É até difícil de traduzir, talvez “uma leitura que pira o cabeção” (brincadeira).
Mas o superlativo dos superlativos acho que está na capa do livro Trainspotting: “O melhor livro já escrito por um homem ou uma mulher… merece vender mais cópias que a Bíblia, Rebel Inc”.
Porquê nenhum brasileiro escreve coisas assim…?
“One of Tylers’s best… she has never been stronger.” – New York Times
“Funny, poignand, compassionate and true.” Publisher Weekly
Na contracapa de “The Accidental Tourist”
E daí?
Sempre achei meio absurdas estas frases.
Striking/astonishing/dazzling/ são idéias aafins e nada dizem a respeito de um livro.
Cruz! O negócio enviou e eu nem tive tempo de escrever o resto.
Alguém já disse que gostou do Turista Acidental. Faltou 1/3 para eu acabar.
Aquela mulher era chata demais. Mas quem sou eu para julgar mulher. Isto é para vocês que gostam do gênero.
Eu apenas sou amiga.
eu traduziria como “arrebatador” (“assombroso” passa uma idéia de filme de terror) =)
Versão brasileira se a moda pega:
Tabela de Preços para Contracapas:
obra-prima – $R 25.000
assombro de escritura – $R 10.000
o melhor do gênero – $R 20.000
escrita deslumbrante – $R 12.000
enredo de tirar o fôlego – $R 20.000
você não irá conseguir parar
de ler – $R 17.000
extraordinário, admirável vai bem…
Concordo, Clarice, embora ainda considere ‘assombroso’ uma tradução mais precisa. Se for para poetizar um pouquinho, eu iria de ‘estonteante’. Mas ‘arrebatador’ não, Carmela. Isto eu guardaria para usar se o original fosse ravishing, entrancing, rapturous ou alguma outra coisa por aí – todas, aliás, palavras resenheiras também. Abraços.
Também passo por esse assombro de perder um grande livro por causa de certas coisas que eu leio a respeito do livro… dá até para desconfiar de tantos adjetivos…
Fábio e Clarice, dos comentários de vocês pode-se ter a idéia de criar “elogios de impacto” para clássicos tupiniquins, tais como:
Grande Sertão:Veredas : “Nada é o que parece com Rosa. Você será surpreendido!!!!!”.
Iracema: “História pungente de paixão e guerra nas exóticas paisagens nordestinas!!!!!”.
Vidas Secas: “Impossível não se emocionar com Baleia!!!!!”
Memórias do Cárcere: “Melhor que Papillion e Estação Carandiru juntos!!!!!”
Memórias Póstumas…: “Deliciosamente sarcástico da primeira à última página.”
Ler contracapas é uma boa diversão. Aliás, nem precisa; a gente já sabe o que vai encontrar.
Às vezes, contracapas como essas (Amazing! astonishing!) acabam depondo contra bons livros. Um bom elogio, quando feito assim, acaba pegando muito mal…
Parece aqueles slogans que apareciam nos trailers de filmes dos anos 40, ou naqueles filmes de terror antigos…
Boas sugestões, Polli! Mas sinceramente espero que o costume não pegue por aqui.
Muito bom, Polli.
Um abraço.
“estonteante” é ótimo. Arrebatador não soa meio século 19? Paixões arrebatadoras, tive uma crise de arrebatamento. Hoje em dia é crise de pânico mesmo.
E, Gregório Dantas, depõe contra sim. Mas acho que americano está acostumado com isto. A gente até se dá ao trabalho de ler a orelha para pegar informações do livro, e, do autor, se não conhecemos e com a preço do livro, lê até um capítulo em pé mesmo.
Americano adora 1) advérbio (muitos nem traduzo rsrsrs 2) adjetivos: amazing, striking…
O “amazing” está em alta conta atualmente como vocês devem ter reparado.
Mas não acredito que o Bush tenha nada a ver com isto.
Para ele teria de ser de “appalling” para cima.
Polli, rsrsrsr
Adorei.
Guarda. Se a moda pega você já tem aí uns $R 50,000.
Ficou meio truncado. Mas o que tem acontecido com o Saint-Clair que não é mais o primeiro a comentar?
Isn’t amazing?
“Astonishing” é o título de uma das mais aclamadas fases da equipe X-men nos quadrinhos. Escrita por Joss Whedon e desenhada por John Cassaday… aqui no Braisl veio como “Os Fabulosos X-men”…
Há um post lá no Jogatina que fala sobre traduções em games…
Quem já foi lá?
Abraços…
Minha estratégia é um pouco diferente, mas também funciona: só compro livros já consagrados… que já viraram clássicos, por assim dizer, mas não necessáriamente de 200 anos de idade, claro. Livros contemporâneos, pego emprestado de alguém em cujo gosto confio e que tenha gostado muito (ênfase no muito). Assim evito ter que abrir mão de comprar feijão por causa de livros menos bons. Não é perfeito, mas funciona.
Para a informação de Mr Ghost (o Writer, não o Space). Cada super-herói ou supertime da Marvel tem um adjetivo. Os X-men têm dois, sendo o mais tradicional (cada adjetivo corresponde a um título mensal) The Uncanny X-Men. Mas você ainda ode ter:
– The Incredible Hulk
– The Amazing Spider-Man
– The Fantastic Four (neste caso adjetivo=nome)
– Doctor Strange (idem)
mas o melhor de todos os adjetivos pertence (creio) aos estúdios Disney:
– The supercalifragilisticspialidous Mary Poppins!