O bate-boca entre Paul Auster (à esq.) e o fogoso primeiro-ministro da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, tem um certo tom farsesco, mas é uma bem-vinda prova de que os escritores, se já não gozam do cartaz de antigamente, ainda podem atuar como consciência crítica dos poderosos – talvez sobretudo em temas como direitos humanos em geral e liberdade de expressão em particular. Aqui (em inglês), uma boa nota da “Time” digital sobre o caso.
Para resumir: numa entrevista à imprensa turca, Auster disse ter cancelado uma visita ao país porque seu governo mantém dezenas de jornalistas presos por crime de opinião. Erdogan se queimou e recorreu à ironia num discurso aos membros de seu partido, de inclinação muçulmana: “Oh, nós realmente dependemos do senhor!”, disse, como se se dirigisse ao escritor do Brooklyn. “Quem liga se o senhor vem ou não? A Turquia vai perder prestígio?”
Em seguida, botou Israel no meio e a conversa degenerou, mas de uma coisa a reação de Erdogan deu bandeira: a mordida do intelectual novaiorquino que escreve ficção – uma criatura sem dentes, como nos acostumamos a pensar – doeu.
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ERRO DE EDIÇÃO: Não é a primeira vez que acontece. Sete, a crônica dominical que publiquei ontem em minha outra coluna, Sobre Palavras, estava muito bem lá até que, relendo-a hoje, lamentei não tê-la publicado aqui, como um Sobrescrito:
Não faz sentido a palavra, se bem me lembro do sonho. É só um certo arrepio: o eco do seu silêncio no avesso do sussurrado sinônimo do seu oco.
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EGO DE EDIÇÃO: Pode ser visto aqui o vídeo de minha conversa no IMS-RJ com um Verissimo sobre o outro – com Luis Fernando sobre Erico, meu primeiro mentor literário, e em especial sobre seu romance “Incidente em Antares”. LFV dá um show de loquacidade, o que já vale o ingresso.
4 Comentários
P.Q.P!!!(desculpe,mas não aguentei),porque colocar Israel no meio de qualquer assunto? Isso é PARANOIA!!! CHEGA!!!
A semelhança de todos os tiranos, e dos candidatos a tal, é absoluta. Esta ironia do premier turco é a mesma encontrada na boca de Hitler, Stalin, Mao, Chaves ou dos irmãos Castro, isso para ficar só entre os mais notórios. Todos muito rápidos em desprezar, punir, destruir para calar os que não pactuam com os seus desmandos. As únicas vozes que aceitam são as que aplaudem seus desvarios de ódio e destruição, aliás, como são as que mais se ouve na mídia nacional, infelizmente.
Bom… vi que tem muçulmano, islamismo, de um lado. Logo, coloco-me do lado oposto.
O escritor anônimo « Blog da Companhia das Letras