Clique para visitar a página do escritor.
Que cena! O horror carnavalesco de João do Rio
Antologia / 11/02/2013

A cena abaixo pertence a O bebê de tarlatana rosa, de João do Rio, que talvez seja o mais célebre conto de carnaval da literatura brasileira (para outros exemplos do gênero, clique aqui). O fato de ser também um dos mais célebres contos de horror da literatura brasileira só torna tudo mais interessante. Publicada em 2010 no livro “João do Rio – Uma antologia” e republicada em “Os cem melhores contos brasileiros do século” (Objetiva), com organização de Italo Moriconi, a história começa de forma leve com o narrador anunciando a um grupo de amigos que vai contar uma “história de máscaras”. Curiosos, estes o estimulam e tomam conhecimento do fascínio crescente que ele sentiu em certo carnaval por uma moça vestida de rosa – um bebê “gordinho e apetecível”, como ele diz, cuja única máscara era um nariz postiço. Esbarrou com ela algumas vezes até se encontrarem ambos numa rua deserta do Rio, após um baile, alta madrugada, e ele resolver agir. Aviso: a cena abaixo estraga a surpresa do conto. Quem desejar lê-lo inteiro pode clicar aqui. O bebê sorriu sem dizer palavra. Estás esperando alguém? Fez um gesto com a cabeça que não. Enlacei-o. – Vens comigo?…

O literário como fetiche
Pelo mundo / 08/02/2013

O sempre interessante blog Explore, editado por Maria Popova (do não menos interessante Brain Pickings), voltado para estímulos diversos à criatividade, trouxe outro dia uma lista que me deixou pensativo. Trata-se de uma relação de “últimas palavras” de romances famosos. Atenção, não estamos falando aqui de frases de encerramento, algo que certamente pode ser objeto de estudo de quem escreve – se não for instrutiva, a investigação será no mínimo divertida, na mesma linha da seção “Começos inesquecíveis”, que por muitos anos foi uma das atrações mais visitadas deste blog. Não: trata-se realmente da última palavra, no singular, de cada romance. Foram listados 55 títulos. Ali aprendemos que “Cem anos de solidão”, de Gabriel García Márquez, e “O morro dos ventos uivantes”, de Emily Brontë, terminam com o mesmo vocábulo: “terra”. Descobrimos também que “Madame Bovary”, de Gustave Flaubert, deixa cair o pano da narrativa sobre o termo “honra”, o que é sem dúvida curioso. Mas significará alguma coisa saber que “Alice no país das maravilhas”, de Lewis Carroll, se encerra com a palavra “dias”, enquanto “O som e a fúria”, de William Faulkner, prefere se despedir com “lugar”? A lista me pareceu não só uma inutilidade ululante, mas o…

Sobe o QI literário da imprensa brasileira
Vida literária / 04/02/2013

Eis que de repente (de repente, será?) sobe o quociente de inteligência literária da imprensa brasileira. A coluna do escritor gaúcho Michel Laub (de “Diário da queda”) na “Folha de S.Paulo”, sobre temas culturais e comportamentais variados, não é notícia nova, mas um texto refinado e anticlichê como este “Existe amor no FB” parece demonstrar que ele vai acertando cada vez mais a mão. Como tem acertado de saída, em sua aparente determinação de agarrar pelos chifres os temas literários diante de um público de massa, o também gaúcho Daniel Galera (de “Barba ensopada de sangue”) na coluna que estreou na última segunda-feira no Segundo Caderno do jornal “O Globo”. O texto de hoje trata do polêmico – especialmente no Brasil – uso de marcas registradas em textos de ficção. O quadro ganha novo reforço a partir do mês que vem, quando estreia no jornal curitibano “Rascunho” a coluna do crítico carioca João Cezar de Castro Rocha (de “Crítica literária: em busca do tempo perdido” e “Exercícios críticos: leituras do contemporâneo”). Professor da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), Castro Rocha é um acadêmico que não teme – pelo contrário, busca – o front da imprensa e que tem…

O dia em que Patti Smith encontrou Virginia Woolf
Pop de sexta / 01/02/2013

httpv://www.youtube.com/watch?v=0UzS0dwuuHg No Pop Literário de hoje, Patti Smith, também conhecida como “madrinha do punk”, lê um pequeno trecho do romance “As ondas”, de Virginia Woolf – e improvisa mais do que lê – ao som do piano e do violão tocados por seus filhos Jesse e Jackson numa performance de 2008. O clima amadorístico-familiar da apresentação da cantora-compositora-poeta-fotógrafa-ativista consegue, de alguma forma periclitante, combinar com a pretendida homenagem à grande escritora inglesa cujo suicídio, em 28 de março de 1941, fazia aniversário naquele dia em que se inaugurava uma retrospectiva de fotografias e desenhos de Patti em Paris. Vale lembrar que depois disso ela se revelou uma prosadora de talento com a autobiografia “Só garotos”, que saiu aqui pela Companhia das Letras no fim de 2010. Consta que tem ainda um romance policial no forno. (Via Open Culture, onde se pode ouvir também a única gravação remanescente da voz de Virginia Woolf, lendo o trecho de um ensaio de sua autoria para um programa da BBC em 1937.)

As lições da senhora Ros, a ‘pior escritora do mundo’
Pelo mundo , Vida literária / 30/01/2013

É possível que a romancista e poeta Amanda McKittrick Ros (foto), uma professora nascida em 1860 na Irlanda do Norte, não tenha sido a pior escritora do mundo. Com certeza foi a escritora ruim que mais sucesso fez justamente pela ruindade de sua literatura. Esbarro em sua história fascinante no ebook Epic fail (Fracasso épico), de Mark O’Connell, que teve um trecho (em inglês) reproduzido há poucos dias na revista eletrônica Slate. O surrealismo involuntário da prosa absurdamente artificiosa de Ros já foi apontado por sua legião de admiradores-detratores – com hífen porque são as mesmas pessoas, a admiração sendo no caso uma forma de gozação. A novidade do enfoque de O’Connell é lançar a hipótese de que Ros também tenha inventado sem querer o pós-modernismo ou pelo menos um de seus traços mais marcantes, a elevação irônica da ruindade galopante a uma forma de arte. Não se trata de fenômeno isolado. Ros está para as letras como Ed Wood está para o cinema e Pedro Carolino, autor do hilariante “Novo guia da conversação em portuguez e inglez” (Casa da Palavra), para os estudos linguísticos. Mestre insuperável da purple prose, como os anglófonos chamam o estilo empolado típico da subliteratura,…

Sylvia Plath como ‘chick lit’ e outros links

“A redoma de vidro” (The bell jar), o único romance da poeta americana Sylvia Plath, foi lançado sob o pseudônimo de Victoria Lucas em 1963, poucos dias antes de sua morte. Está completando meio século, portanto, e para comemorar a data o editor teve a ideia de relançá-lo embalado na inacreditável capa chick lit aí ao lado. Como se Sylvia Plath e Sophie Kinsella não fossem antípodas, mas irmãs literárias. Tempos realmente estranhos: um dia vamos rir disso tudo? * Em compensação, como os tempos estranhos são os mesmos em que a informação flui com liberdade inédita, o áudio do famoso discurso de paraninfo feito por David Foster Wallace em 2005, chamado “Isto é água” (e lançado recentemente no Brasil na coletânea de ensaios “Ficando longe do fato de já estar meio que longe de tudo”), pode ser ouvido na íntegra, em duas partes, aqui. * Para mim, a oficina foi essencial para, digamos, começar a escrever. Porque, na Oficina, uma das maiores revelações foi a de que o apelo sensorial é um dos maiores méritos que um texto pode ter. Dito assim – e de repente eu me leio –, parece uma platitude, uma banalidade, uma ociosidade. Mas, dentro…

Google e o Cérebro
Pop de sexta / 25/01/2013

httpv://www.youtube.com/watch?v=1vxIveocxjM Hoje o Pop de Sexta abre mão da leveza para falar de um documentário sério que estreou esta semana no Festival de Sundance e vem ganhando críticas positivas. Google and the World Brain, de Ben Lewis, narra com uma multiplicidade de pontos de vista a complicada história do projeto de escanear todos os livros do mundo, lançado pelo Google em 2002, e da resistência que ele vem enfrentando. O trailer acima começa com H.G. Wells discursando para a câmera: “Não há hoje nenhum obstáculo prático de qualquer tipo à criação de um índice oficial de todo o conhecimento, ideias e realizações humanas, ou seja, à criação de uma memória completa e planetária para toda a humanidade”. No caso, hoje era 1937, quando o famoso escritor inglês de ficção científica lançou seu ensaio World brain, que explica o título do documentário. Wells acertou quanto à ausência de obstáculos tecnológicos, mas o fato é que eles se multiplicam no campo jurídico – para não mencionar o ideológico. O historiador Robert Darnton, nome de maior peso intelectual na frente de oposição à ambição do Google, aparece no documentário dizendo mais ou menos o que disse em Paraty na Flip 2010: “Estão criando…

Os blurbs e os blurbs de John Updike
Pelo mundo / 23/01/2013

Blurb não tem, que eu saiba, uma tradução concisa em português. É aquele texto curtinho elogioso ao autor, em geral composto de uma ou duas frases e às vezes de uma única palavra, que aparece na capa ou na contracapa de um livro. Usado com alguma parcimônia no Brasil, é praticamente obrigatório no mercado americano. Quase sempre é extraído de uma resenha publicada, mas também existem os de encomenda. Blurb que se preza traz uma assinatura prestigiosa de escritor ou crítico colada na traseira, embora o elogio também possa ser referendado só pelo nome da publicação nos casos – não muito raros – em que este dê mais peso à louvação que o do crítico meio obscuro. Como se vê, trata-se de um gênero que tem mais a ver com promoção e marketing do que com literatura ou crítica literária. O próprio nome é pejorativo desde a origem e consta que foi popularizado nos primeiros anos do século 20 por um humorista, Frank Gelett Burgess. Sua credibilidade é baixa por uma razão simples: é possível recortar um blurb bastante decente de praticamente qualquer resenha. Mesmo que seja negativa, e ressalvados casos extremos de demolição da obra, uma apreciação crítica séria…

Atenção, letrados do Brasil: está lá fora um Coelho
Vida literária / 21/01/2013

Em artigo publicado no caderno Ilustríssima de ontem, Fernando Antonio Pinheiro, professor de sociologia da Universidade de São Paulo, retoma com convicção uma pauta de sucesso emergente entre certos acadêmicos: a tentativa de trazer Paulo Coelho (foto) para o “domínio culto da literatura”, do qual “o escritor mais lido no mundo” teria sido excluído numa operação em que “a desqualificação [é] ostentada como troféu pelas camadas letradas”. Pinheiro recorre a um famoso ensaio do poeta José Paulo Paes sobre a incipiência da literatura de entretenimento no Brasil para dizer que Coelho é vítima de uma visão estreita e arbitrária do que cabe no campo literário, uma “definição literária do literário, típica do sistema brasileiro, que nega assento ao artesão competente no âmbito do entretenimento”. O artigo começa com a aplicação de cascudos. Escritores que têm uma fração ínfima do sucesso comercial do autor de “O alquimista”, mas são considerados “sérios”, Milton Hatoum e Marçal Aquino teriam tratado Coelho como invisível ao falar da pouca repercussão internacional da literatura brasileira num debate de 2010. Isso, afirma o articulista, seria “bastante representativo dos contornos que ganharam aqui [no Brasil] as relações entre literatura e mercado”. Escreve Pinheiro que… …os debatedores [Hatoum e…

Rubem Braga e a borboleta
Vida literária / 18/01/2013

Rubem Braga faz cem anos e recebe as honras merecidas como o maior cronista da literatura brasileira. O título é informal, mas justo. Machado de Assis? Não lhe falta primazia em outros gêneros, acredito que não se incomodasse de olhar o mais carioca dos capixabas de baixo para cima nesse quesito do monumental desfile do Grupo A das letras auriverdes. Mas então estamos falando de um concurso, de uma competição? Talvez seja meio constrangedor admitir, mas é bem disso que estamos falando. O cronista que estaria completando um século se tivesse seguido os passos de Niemeyer – em vez de morrer como um de seus queridos passarinhos em 1990 – é posto como todo mundo sob o duro escrutínio da posteridade. Os jurados somos nós, leitores, críticos, acadêmicos, jornalistas. Seriíssimos, sobrancelhas franzidas, pesamos sua obra, ponderamos os efeitos da passagem do tempo e rabiscamos a nota num papelucho. Chega o dia da apuração e descobrimos, a maioria sem surpresa, que Rubem Braga leva dez, nota dez! A festa na quadra não tem hora para acabar. Machado, nove vírgula nove. Sabino, nove vírgula sete. Etc. É aí que está o problema, aliás insolúvel. A louvação do que deve ser louvado é…

150 preocupações da ciência sobre o futuro da humanidade
Mercado , Pelo mundo / 16/01/2013

Após duas semanas de férias em que não tive preocupação maior que a de renovar o protetor solar depois de cada mergulho na água morna de uma praia do Nordeste, dei um jeito de, em poucas horas, reabastecer até a boca o reservatório de ansiedade: caí de cara na edição 2013 da imperdível enquete (em inglês) que a mesa-redonda eletrônica Edge promove todo início de ano com nomes de destaque do universo científico, tecnológico, artístico, jornalístico e editorial. O tema desta vez parece ter sido talhado para me trazer de volta ao mundo interconectado e profundamente preocupado em que vivemos: “Com o que deveríamos estar preocupados?”. A lista de respostas possíveis para tal pergunta é bem longa, claro, mas isso não é problema para a Edge: mais de 150 intelectuais são convocados a dar sua opinião em ensaios mais ou menos sucintos. No mais curto deles, o cineasta Terry Gilliam gasta duas linhas para dizer que desistiu de se preocupar com qualquer coisa, mas a maioria leva a encomenda a sério e expõe suas angústias sobre o futuro da humanidade em meia dúzia de parágrafos densos. Há especulações preocupadas para todos os gostos. Do provável emburrecimento da espécie à opinião…

ATÉ BREVE
Posts / 02/01/2013

Deixando a todos meus votos de um 2013 feliz e cheio de bons livros, dou uma pequena folga aos leitores. O Todoprosa voltará a ser atualizado no dia 16 de janeiro. Até lá!

A correspondência de Coetzee e Auster e outros links
Pelo mundo / 31/12/2012

A correspondência entre J.M. Coetzee e Paul Auster, que começou em 2008 e que os teria transformado em “grandes amigos”, será lançada em maio sob o título Here and now (Aqui e agora) pela editora Faber. * Não sou um grande fã de cartas de escritores, embora reconheça o valor de algumas correspondências, mas adorei essa que Honoré de Balzac escreveu em 1840 para sua noiva, a condessa polonesa Hanska, no meio de uma de suas famosas crises financeiras: Cheguei ao fim da minha resignação. Penso deixar a França e levar meus ossos ao Brasil numa empresa louca, e que escolho por causa da sua loucura. Não quero mais suportar a existência que levo; basta de trabalhos inúteis. Vou queimar todas as minhas cartas, todos os meus papéis (…). Darei procuração a alguém, deixá-lo-ei explorar minhas obras e irei buscar a fortuna que me falta: ou voltarei rico ou ninguém poderá saber o fim que eu tiver levado. É este um projeto excessivamente fixo, que será posto em execução este inverno, com tenacidade, sem remissão. O projeto não foi posto em execução, nem naquele inverno nem nunca. Foi só por meio de seus personagens, como lembra Paulo Rónai no delicioso…

Destaques 2012 (V): cinco posts
Antologia / 28/12/2012

A internet é aliada da inteligência, mas ama a burrice De um lado, a internet traz a promessa concreta de um novo Iluminismo. Do outro, acena com as sombras de uma nova Idade Média. Qual dos lados vai prevalecer nesse cabo-de-guerra? E quem disse que um deles vai prevalecer? (Leia mais.) Entre Narciso e o suicídio, a literatura balança A literatura é hoje um campo que se questiona de modo histérico, com resultados entre o suicida e o narcísico. O discurso literário parece sentir, de alguma forma, que perdeu o direito à existência. O que quer que o justificasse perante si mesmo não o justifica mais. (Leia mais.) Ser universal é um direito que se conquista Os sinais de desparoquialização do ambiente literário brasileiro estão por toda parte, mas deve-se levar em conta que, numa desconstrução da máxima atribuída a Tolstói, ninguém estará disposto a acreditar na universalidade de uma literatura que não seja reconhecida em sua aldeia. (Veja mais.) Mamilogate, o momento mais ridículo do Facebook Se existe um lado bom no neopuritanismo do Facebook, ele acaba de ser encontrado. O tom de falsa seriedade com que a revista “New Yorker” expôs em seu site o ridículo de quem…

Destaques 2012 (III): cinco despedidas
Vida literária / 24/12/2012

Millôr Fernandes A morte de Millôr Fernandes – frasista, cronista, cartunista, artista plástico, dramaturgo, tradutor, pensador, poeta, filólogo, inventor do frescobol, gênio do humor e do pessimismo anarco-humanista – atacou a cultura brasileira na esquina da inteligência com a alegria. (Leia mais. E mais.) Antonio Tabucchi Dois cancelamentos seguidos nos impediram de ver na Flip o maior aliado da língua portuguesa nascido em um país não lusófono. Em sua novela “Os três últimos dias de Fernando Pessoa”, o poeta português que era o ídolo literário do escritor italiano adia a morte, dizendo: “Sempre há tempo”. Até não haver mais. (Leia mais.) Ivan Lessa Uma das burrices nacionais que levaram Ivan a virar um londrino de bengala e sobretudo foi a nossa mania, cada vez mais saidinha, de achar que a inteligência – inseparável do senso de indignação moral, embora isso muita gente não entenda – pode se subordinar a conveniências políticas sem virar burrice. (Leia mais.) Gore Vidal Vidal venerava as Letras com L maiúsculo a ponto de, mesmo sofrendo com seu declínio – como evidentemente sofria com o declínio americano – não admitir desistência: “Idealmente o escritor só precisa ter como audiência os poucos que o entendem. É cobiça…

Livros ou e-books? Veja o vídeo antes de responder
Pop de sexta / 21/12/2012

httpv://www.youtube.com/watch?v=OAEhjkSgmFc&feature=player_embedded Achei bonitinho e simpático esse vídeo recém-lançado pela editora Intrínseca, em que um jovem casal representa no dia a dia a polêmica livro analógico x livro digital. Seu maior trunfo é não reduzir a questão a um desses duelos maniqueístas em que nossa inteligência adora se afogar, como se a complexidade do mundo pudesse ser compreendida em termos de anjos e demônios, mas em vez disso brincar com o lado bom e o lado ruim de cada suporte. Parece óbvio – e é. Mas não deixa de ser também um sinal de que o atraso tecnológico do mercado editorial brasileiro começa finalmente a ser deixado para trás.

Livro de presente é tiro certo. Se não sair pela culatra
Pelo mundo , Vida literária / 19/12/2012

Será ou não um preconceito pensar que não há exceções à regra segundo a qual nada de bom se pode esperar de quem responde ‘Fernão Capelo Gaivota’ à pergunta ‘Qual é o seu livro preferido?’. A disposição retrospectiva do fim do ano me leva longe: desencavei aqui o comentário que fiz em 2009 sobre um saboroso artigo (trechinho acima) publicado no jornal espanhol “El País” acerca dos riscos de dar livros de presente. Assinado por Leila Guerriero, o texto satiriza com humor afiado a tendência a um certo esnobismo que costuma atacar em maior ou menor grau todo mundo que se considera bom leitor. Trata-se de terreno pantanoso: para alguns, o nome desse esnobismo é simplesmente bom gosto, enquanto para outros é preconceito mesmo. De uma forma ou de outra, multiplicam-se as armadilhas no caminho de quem, inocente e bem intencionado, escolhe um título para dar de presente. Quando acerta na mosca, um livro provavelmente conta mais pontos do que qualquer outro regalo em sua faixa de preço. No entanto, o mesmo exemplar de “Cinquenta tons de cinza” que seria de bom tom dado a cinquenta pessoas pode reduzir seu filme a cinzas nas mãos da quinquagésima primeira. A verdade…