O ano que está terminando foi feliz para quem ama livros propriamente ditos – de papel e tinta, cola e costura – e tem grandes buracos na estante que gostaria de preencher. O que significa dizer que também foi generoso com aqueles que tiverem disposição e fundos para investir num presentaço natalino que o personagem mencionado acima não esquecerá jamais. O grande acontecimento do fim do ano é o início do relançamento, pelo selo Biblioteca Azul da editora Globo, da famosa edição do gigantesco painel ficcional “A comédia humana”, de Honoré de Balzac, organizada pelo crítico húngaro-brasileiro Paulo Rónai. Em capa dura, com mais de 800 páginas em média, os quatro primeiros de dezessete volumes chegaram este mês às livrarias ao custo de R$ 74,90 cada um. Acompanha-os o volume mais magro (248 páginas, R$ 39,90) “Balzac e a comédia humana”, coleção de ensaios do próprio Rónai que traz em cada linha aquela combinação rara de erudição, legibilidade e gentileza que era sua marca e que faz dele o melhor cicerone que um leitor poderia desejar ao se aventurar pelo universo (poucas vezes a palavra foi tão apropriada a um conjunto de ficções) criado pelo escritor francês ao longo de…
httpv://www.youtube.com/watch?v=h1DDndY0FLI Mmh, yes. Inspirada pelo famoso monólogo de Molly Bloom que encerra “Ulisses”, o romance de James Joyce, essa bela e hipnótica canção de Kate Bush (faixa-título do álbum The sensual world, de 1989) é forte candidata ao posto de realização mais alta da fusão de pop e literatura que é a razão de ser desta seção. Referências literárias nunca faltaram na obra personalíssima da cantora e compositora inglesa, que conheceu seu primeiro sucesso em 1978 com Wuthering Heights (“O morro dos ventos uivantes”). Mas aqui temos uma espécie de culminância. “…e aí ele me perguntou se eu sim diria sim minha flor da montanha e primeiro eu passei os braços em volta dele sim e puxei ele pra baixo pra perto de mim pra ele poder sentir os meus peitos só perfume sim…”, diz Molly (na tradução de Caetano Galindo). A versão de Kate: “Ele disse que eu era uma flor da montanha, sim/ Mas agora eu tenho poderes sobre um corpo de mulher, sim/ Saindo da página para dentro do mundo sensual”. E mais à frente: “Eu disse, hmmm, sim”. O gemido antes do sim marca a passagem da letra para a sensação. Aprimorar Joyce é difícil, mas…
“Ficção completa”, de Bruno Schulz: O escritor polonês (1892-1942) ficou marcado pela sombra de Franz Kafka, que como ele era um judeu europeu desenraizado. A ligação entre os dois foi estimulada pelo próprio Schulz, que chegou a assinar uma tradução de “O processo” que não fez, mas tem valor dúbio. A verdade é que sua literatura de estonteante originalidade não deve nada a ninguém. O principal indício da diferença entre os dois escritores está no modo como tratam a linguagem. Em Kafka ela mantém uma superfície lisa, homogênea e próxima do tédio dos relatórios, enquanto a narrativa enlouquece por baixo. Em Schulz o enlouquecimento poético da prosa é o próprio espetáculo. Os dois são alucinógenos, mas Kafka é uma substância injetável e Schulz, uma bebida de estalar a língua e lamber os beiços (leia mais). . “O espírito da prosa”, de Cristovão Tezza: Livro corajoso e único no cenário brasileiro, em que um escritor de sucesso reflete sobre sua formação, expõe dúvidas e fraquezas e defende teoricamente suas escolhas estéticas no quadro histórico da prosa de ficção. Tezza faz uma defesa enfática de algo que grande parte de nossa inteligência literária tem gostado de tratar como defunto, muitas vezes com…
A dar fé ao viajante inglês William Boyd Sennett, que em 1819 teria tido diante dos olhos as memórias posteriormente perdidas do então recém-falecido bispo Antônio Simão das Neves (e não vejo por que não lhe dar mais fé do que à arenga anticlericalista e factualmente vaga que no fim daquele século publicaria em São Paulo o anarquista Vicenzo Cucco, outra fonte habitualmente consultada pelos estudiosos da história de Simão), a dar fé a Sennet, como eu ia dizendo, no rigoroso inverno mineiro de 1777 o então jovem padre baiano viu-se com a alma “toda em farrapos”, numa crise de fé que teria como fulcro o amor (se platônico ou carnal, nunca se pôde comprovar) por dona Maricota, esposa de um comerciante de pedras preciosas de Vila Rica chamado Olegário, o que bem poderia configurar incidente banal ou ao menos não muito destoante das provações sensuais enfrentadas por tantos homens de batina ao longo dos séculos, porém (ai, porém), naquele instante demoníaco o futuro bispo se pôs a febrilmente deitar palavras ao papel em surto logorreico de todo semelhante a um transe de possessão, ao qual não faltavam olhos revirados, gemidos de dor excruciante e uma espuminha a borbulhar nas…
Cheguei ao romance Damage (“Perdas e danos”), com o qual a irlandesa Josephine Hart debutou na literatura em 1991, por meio de sua adaptação cinematográfica. O filme dirigido por Louis Malle e estrelado por Jeremy Irons e Juliette Binoche me parece até hoje – tratei de revê-lo recentemente – uma obra rara em sua combinação de simplicidade narrativa com capacidade de cavucar o fundo do poço. É difícil tirar da cabeça certas cenas do explosivo triângulo amoroso que tem no vértice a bela Anna Barton, figura misteriosa e sombria, e nos cantos da base seu jovem noivo Martyn, jornalista e gente boa, e o pai dele, Stephen Fleming, importante político inglês e narrador da história. Lançado no Brasil pela editora Record com tradução de Ana Deiró, o livro deixa claro que Malle, longe de extrair leite de matéria rochosa (como acontece algumas vezes no trânsito tumultuado entre literatura e cinema), apenas foi feliz ao transpor para a tela a atmosfera perturbadora criada pela autora. A linguagem do romance é simples a ponto de ser convencional, mas o que Hart consegue dizer com ela tem uma força notável. Nem só de alta literatura vive a seção “Que cena!” A cena abaixo,…
Curioso pela migração de gênero e público, comecei a ler “Morte súbita”, o primeiro “romance adulto” de J.K. Rowling, a criadora de Harry Potter. Pouco mais de meia hora depois tinha parado de ler “Morte súbita”, o primeiro “romance adulto” de J.K. Rowling, a criadora de Harry Potter. A leitura teve morte súbita – e vale registrar que eu tinha optado pelo original, The casual vacancy, o que inocenta do crime a tradução brasileira recém-lançada pela Nova Fronteira – por doses cavalares de academicismo e clichê na trama e na linguagem. Não, claro que isto não é uma resenha. Só quem lê uma obra inteira, e com ponderação, pode se atrever a resenhá-la. Mas é um toque: a vida é curta para tanto livro, e “Barba ensopada de sangue” está aí mesmo. * Todos sabemos que juízos estéticos baseados em ideias como “belo” e “sublime” pertencem ao passado. Mas o que significa a predominância contemporânea de categorias como “fofo” e “interessante”? O recém-lançado livro Our aesthetic categories (Nossas categorias estéticas), da poeta e crítica literária Sianne Ngai, acha que significa muito. Resenha da Slate, em inglês, aqui. * A entrevista dada à “Folha de S. Paulo” pelo crítico Rodrigo Gurgel,…
O blog vizinho “Veja Meus Livros” está recebendo até o próximo dia 9 inscrições para um concurso de microcontos no formato Twitter, em parceria com a editora Globo. Os vencedores receberão como prêmio uma pequena montanha de livros. O desafio é resumir, em até 140 caracteres, a saga de Sherazade, a contadora de histórias das “Mil e uma noites”. Tarefa dura: na verbosidade obrigatória da moça que noite após noite entretinha o sultão com suas narrativas para não morrer, 140 caracteres dariam conta de uns poucos segundos. Estarei entre os jurados. O microconto ultrassintético continua sendo, a meu ver, o maior desafio de quem pretende usar o Twitter para fazer ficção. É estranho que tenha sido um gênero definitivamente menor – com trocadilho, claro – no primeiro festival de ficção do Twitter, que durou cinco dias e terminou ontem. Há mais Sherazades do que Daltons no mundo. O Twitter Fiction Festival teve um grande e indiscutível mérito: reunir gente de todo o planeta em torno da hashtag #twitterfiction. O clima – exagerado, como é comum nesses casos – era de urgência e fervor. “A literatura nunca mais será a mesma depois disso”, chegou a dizer alguém. O que é cômico,…
httpv://www.youtube.com/watch?v=PQuT-Xfyk3o&oref=http%3A%2F%2Fwww.youtube.com%2Fresults%3Fsearch_query%3Dstoya%26oq%3Dstoya%26gs_l%3Dyoutube.3..0l10.3908.4696.0.5075.5.5.0.0.0.0.185.808.0j5.5.0…0.0…1ac.1.03FhMEe5akA&ytsession=00n_MXRMSWasxcYzoH-FyV8L2M1nl5pTmnR4Dp4JEeKovalu5xg38FrpoIowBnwBsSzKiRBphaTTC-SqB5gRMSX_-aP3WNu9OijbD2_F63IUdRdO_81yixYX6Wmk-vyuGXPQnvRGhOkzsllGJ1yo6wCc60LY9ddz4f51ihtq6acEqDXZGo5zwRbKEYc0kOLUbgoRsiQcMQp_nhqQAnmRnoe0vTZTb9IWU-Ij5l9sFotXaUpNl_vz39eoSQOPSC4SEE3inr27INj9HTHJQU2D802Rtcm7BUHFaOVyjIirDPc Hoje o Pop Literário de Sexta é proibido para menores. Menores de 12, 14, isso depende dos critérios de cada um. De toda forma, o alerta é importante, embora o vídeo acima não mostre nada além de uma bela mulher lendo um livro para a câmera. Ocorre que, como na própria literatura, o que se passa no subsolo da imagem – e do texto – vai além do que os olhos veem. Nesse lugar oculto está o coração, digamos assim, do projeto Hysterical Literature, série cult de vídeos dirigida por Clayton Cubitt num preto e branco estiloso, câmera parada, cada episódio mostrando apenas uma mulher que interage com um livro e gosta tanto da leitura, mas tanto, que chega ao orgasmo. De verdade: o que ocorre embaixo da mesa (e que é contado aqui) garante que seja assim. O vídeo acima abriu a série e é estrelado por Stoya, atriz pornô que virou musa dos jovens intelectuais americanos por ser, além de linda, autora de um tumblr bem escrito, inteligente, culto e engraçado sobre sua vida profissional. E que também pode ser vista no vídeo abaixo, este com censura livre, contracenando com Paul Dano para o trailer de um…
Não, Roth não abandonou sua arte, não enterrou sua varinha como Próspero. Foi a arte que lavou suas mãos diante desse escritor irremediavelmente trivial e constrangedor. Tomando de empréstimo o título do primeiro livro Roth, a coletânea de contos ‘Adeus, Columbus’: Adeus, Philip! E, olhe, a porta da rua é a serventia da casa. O artigo publicado pelo crítico americano Lee Siegel no “Estadão” de domingo, chamando de “absurdo sem tamanho” a comoção em torno da aposentadoria de Philip Roth, afoga um ou dois argumentos interessantes num caldeirão tão cheio de ódio e amargura que a coisa acaba por entornar inteira em seu colo. Siegel, vale lembrar, é um notório defensor da tese de que o romance está morto. Descobrir que o público ainda se importa tanto com o que um romancista faz ou deixa de fazer deve ser mesmo muito frustrante. * Ano passado, poucos dias depois de se tornar o maior fenômeno de popularidade instantânea da história da Flip, o escritor português Valter Hugo Mãe me disse, numa longa conversa que se transformou nesta reportagem: “Muitas coisas na vida são momentos. Eu não me admirava nada de vir aqui no próximo ano e saber que ninguém mais se…
Quando Jonathan Franzen fez elogios efusivos a Chico Buarque e Bernardo Carvalho em sua passagem pela Flip deste ano, muita gente acreditou numa estratégia diplomática para ganhar a simpatia dos nativos. Tudo indica que não era isso ou não apenas isso. Franzen acaba de bradar ao mundo, em tom enfático, sua admiração pelos dois ficcionistas brasileiros. Um dos quarenta escritores ouvidos pelo jornal inglês “The Guardian” para preparar sua prestigiosa lista de “melhores livros do ano” (sim, se você não tinha reparado na decoração de Natal dos shopping centers, agora já sabe que 2012 está chegando ao fim), o autor de “Liberdade” indicou Chico e Bernardo, seus colegas no catálogo da Companhia das Letras. E mais ninguém. Budapest e Nine nights não foram lançados em inglês em 2012, o próprio Franzen se apressa em explicar, embora não diga que o primeiro saiu por lá em 2005 e o segundo, em 2007. Foi este ano que os leu, e para ele isso basta. Vinda do escritor de língua inglesa mais festejado por público e crítica em sua geração (tem 53 anos), é difícil imaginar chancela mais importante para a literatura brasileira no momento em que ela começa a fazer um esforço…
Além de Jennifer Egan ter publicado uma obra-prima usando o formato dos 140 caracteres como tijolinho numa construção ambiciosa, concursos e festivais de micronarrativas no Twitter já houve vários – inclusive duas edições aqui no Todoprosa – mas desta vez a coisa é oficial. O próprio Twitter vai promover na semana que vem, de 28 de novembro a 2 de dezembro, um festival de ficção que tem o objetivo pouco modesto de “ampliar as fronteiras do que é possível dizer no Twitter”. Serão destacados nos cinco dias do Twitter Fiction Festival projetos de serialização escolhidos por um júri em que figuram escritores como Teju Cole – ele próprio autor de uma interessante série de tweets baseada em notícias tiradas de jornais de antigamente – e Ben Marcus, além de editores. Ficou tarde para tentar uma vaga entre os eleitos oficiais do Twitter, infelizmente: as inscrições se encerraram no último dia 15. Mesmo assim, ainda é possível participar da brincadeira, bastando tuitar entre 28/11 e 2/12 um ou mais microcontos com a tag #twitterfiction. Em tempo: tudo será basicamente anglófono, supõe-se, embora isso não seja dito explicitamente e nada impeça um autor javanês de pular no bonde. Mas algo me diz…
É praticamente impossível aprimorar a lista de dez conselhos a jovens escritores que a escritora inglesa Zadie Smith (foto), autora de “Dentes brancos” e “Sobre a beleza” – e do recente NW, ainda inédito por aqui – escreveu para o “Guardian” em 2010 (via Brain Pickings). Não há um único item dedicado ao que escrever tem de mais essencial e misterioso, aquilo que levou Somerset Maugham a dizer: “Existem três regras para escrever ficção. Infelizmente, ninguém sabe quais são elas”. Sábia, ZS se cala sobre os tesouros que cada um terá que descobrir por si mesmo, sem mapa e na mais completa escuridão – missão difícil mas não impossível, caso o caçador tenha vivido o tipo de infância mencionado no item 1 e goze do mínimo de talento citado no 3. Deixando de lado o indizível, esses conselhos cobrem de forma admiravelmente lúcida e sucinta os principais aspectos práticos que cercam a atividade, inclusive as muitas armadilhas ao longo do caminho. Mereciam ser gravados na pedra. 1. Ainda na infância, assegure-se de ler um monte de livros. Passe mais tempo fazendo isso do que qualquer outra coisa. 2. Quando adulto, tente ler seu próprio trabalho como um estranho o leria,…
E assim como o casamento entre Kafka e os pós-graduados parece ter certo grau de necessidade, o casamento entre Kafka e a internet tem o ar disfuncional e pesadelar de uma união arranjada entre duas partes que se ignoram. O próprio Kafka sentia uma repulsa visceral à vida doméstica a dois, desviando o olhar dos trajes de dormir de seus pais dobrados sobre a cama; mas quão pior do que isso será o que temos aqui, o aburguesamento do nada? Acabamos por ser os conselheiros matrimoniais, sentados do outro lado do vidro que nos permite ver sem sermos vistos, observando a replicação incessante e assexuada de blog após ensaio após atualização, uma ordem simbólica dando lugar à seguinte enquanto a longa sombra de Kafka filtra-se sinistramente pelo vidro da tela que você está encarando no momento. Em sua “Carta ao meu pai”, Kafka escreveu: “Casar, começar uma família, aceitar todas as crianças que vierem e ajudá-las nesse mundo inseguro é o melhor que um homem pode fazer”. E assim descobre-se que esses temas espúrios são seus únicos temas. E se os precursores de Kafka são Zenão, Lewis Carroll, Lord Dunsany, então seus sucessores são estes: os cookies não comestíveis que…
Mal havia assentado a notícia de que Philip Roth (foto) parou de escrever, o húngaro Imre Kertész anunciou que também estava pendurando as chuteiras. Isso acrescentou um prêmio Nobel a um eterno candidato ao prêmio Nobel na lista dos desistentes da literatura e criou um campo fértil para piadas – nervosas, porque o tema toca em angústias mais profundas do que gostaríamos de admitir – entre escritores das minhas relações. Quem mais faria bem à própria obra se mostrasse a mesma clarividência e a mesma coragem de reconhecer que já disse tudo o que tinha a dizer, que o que resta agora é só um vício, um hábito besta e não muito diferente daquele que Alexander Portnoy exercita à exaustão num dos livros mais famosos de Roth? “Não vamos citar nomes”, disse o mais experiente e sábio da rodinha. O que não impediu, claro, que nomes fossem citados, de gente consagrada a um ou dois jovens autores da “Granta”. Estávamos entre amigos. A graça da maledicência descompromissada repousava no acordo tácito de que ninguém se viraria para o outro para dizer: “Você, por exemplo”. No máximo, num arroubo mais ousado de humor autodepreciativo (que também provocaria constrangimento), um de nós…
Não há dúvida de que o leitor internacional é sempre um leitor inseguro e preocupado, como um histérico deitado num sofá. Quer dizer, não sei nada da língua em que esse conto chamado “Animais” foi escrito. E também não sei exatamente onde fica Porto Alegre – que é onde o conto de Michel Laub começa. O que eu digo é que isso faz um leitor ficar ansioso. Tenho que supor que fique no Brasil. E, no entanto, acho que é possível de alguma forma grosseira, em vez de ligar para esses problemas éticos, simplesmente prestar atenção no que está ali. (…) Porque a beleza dessa história – e essa beleza sobrevive a quaisquer ansiedades com as quais sua tradutora, Margaret Jull Costa, tenha se preocupado para produzir essa peça tão cuidadosa e bem organizada de prosa em inglês, da mesma forma que sobrevive agora às ansiedades de seu leitor internacional – é seu movimento ágil. Há algo de cômico e perturbador na breve resenha do conto “Animais”, de Michel Laub (foto), publicada pelo escritor inglês Adam Thirlwell no site da “Granta”, a propósito do lançamento internacional da edição da revista dedicada ao Brasil. Com as credenciais de quem foi selecionado…
Essa mania de matar o pai, inclusive como simples simbologia freudiana, me parece uma estupidez, a menos que o pai seja um delinquente. Em relação aos grandes do ‘boom’ não podemos sentir nada além de gratidão: foram eles que nos abriram as portas do mundo e dos leitores. Nos livraram do complexo de idiotas ou de subdesenvolvidos. Nos mostraram caminhos literários completamente novos, e não para seguirmos no mesmo rumo, mas para buscarmos saídas novas em qualquer encruzilhada. A declaração do escritor colombiano Héctor Abad Faciolince resume o tom reverente – ou, digamos, de irreverência contra a irreverência – que marca a longa série de artigos comemorativos dos 50 anos do chamado boom da literatura latino-americana (na verdade, hispano-americana) publicados pelo jornal espanhol “El País”. O ano de 1962 virou marco por ter concentrado o lançamento de uma série de livros identificados com o movimento, entre eles “A morte de Artemio Cruz” (foto), de Carlos Fuentes. * Semana passada, participei da gravação da conversa com o editor franco-americano André Schiffrin para o programa “Roda Viva”, da TV Cultura, como um dos entrevistadores convidados. Aos 77 anos, Schiffrin tem história. Filho do homem que criou a Bibliotèque de la Pléiade, foi…
O que acontece quando uma boa escritora feminista como a inglesa Julie Burchill, ex-menina-prodígio do “New Musical Express”, ataca o estranho fenômeno editorial desencadeado pelo sucesso de “Cinquenta tons de cinza”? Aqui (em inglês), escrevendo no “Observer” sobre Bared to you – lançado no Brasil pela editora Paralela como “Toda sua” – de Sylvia Day, uma imitação descarada que também tem vendido feito pão quente por lá, ela nos dá a resposta. Acontecem risadas, risadas restauradoras da nossa fé na inteligência do homem – e da mulher, claro. Principalmente da mulher. Sempre achei a ideia de obscenidades “ao gosto feminino” especialmente patética, como papel higiênico com crinolina. Mesmo antes de ler qualquer coisa do gênero, minha opinião era que esse tipo de “pornografia da mamãe”, como é conhecido de forma bastante revoltante, demonstrava um lado sádico e não masoquista da mulher moderna. Parecia ser só mais uma forma de atormentar os homens, surgida quando estávamos prontas para algo um pouco mais forte do que anúncios televisivos que os retratam como débeis-mentais incapazes de encontrar o próprio traseiro usando as duas mãos, um GPS e um são-bernardo. Escuta aqui, homenzinho – você não é um bilionário jovem e lindo que pode…