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Philip Roth: ‘O animal agonizante’
Primeira mão / 04/06/2006

É uma coincidência que “O animal agonizante” (Companhia das Letras, tradução de Paulo Henriques Britto, 128 páginas, R$ 29), lançado pelo setentão Philip Roth em 2001, saia nos próximos dias no Brasil, poucas semanas depois do lançamento nos EUA de seu novo romance, Everyman. Os dois livros, ambos novelas ou romances curtos (formato que representa uma novidade na carreira do prolífico autor), têm outro parentesco: mergulham de cabeça na consciência da morte. Pode-se encarar Everyman, que comentarei neste espaço em breve, como a seqüência natural – triste mas natural – de “O animal agonizante”. Neste, tão erótico quanto qualquer outro de Roth, o homem velho aproveita o que lhe resta de vida dividindo os lençóis com Consuela Castillo, uma deliciosa aluna de 24 anos que é dona dos seios mais belos que ele já viu, enquanto reflete sobre o fim inevitável: Você pode imaginar o que é a velhice? É claro que não. Eu não podia. Nunca consegui. Não fazia idéia do que era. Não tinha nem mesmo uma imagem falsa – não tinha imagem nenhuma. E ninguém quer outra coisa. Ninguém quer encarar a velhice antes de ser obrigado a encará-la. Como é que tudo vai terminar? Em relação…

Handke, Milosevic, ‘Asas do desejo’
Posts / 03/06/2006

A vida do escritor austríaco Peter Handke piorou muito desde que ele compareceu ao funeral de Slobodan Milosevic, em março, e fez um emocionado discurso de adeus ao ex-ditador sérvio, o último grande genocida de um século rico nesse gênero. A primeira conseqüência sofrida por Handke foi o cancelamento da temporada de uma peça de sua autoria em Paris, pela direção da Comédie Française. A segunda virá na semana que vem, quando – a agência France-Presse dá isso como certo – o conselho municipal da cidade alemã de Dusseldorf vai se reunir para lhe tomar o prêmio literário Heinrich Heine. A honraria foi atribuída a Handke, mas ainda não entregue. Um dos grandes escritores de língua alemã da atualidade, Peter Handke é pouco lido no Brasil. Alguns de seus principais livros, “A ausência” e “A repetição”, foram lançados pela Rocco, mas andam fora de circulação; ainda disponível em livrarias virtuais, só encontrei “História de uma infância” (Companhia das Letras). Influenciado pela experiência radical (e freqüentemente ilegível) do noveau roman, mas capaz de levar a lentidão da narrativa a novos níveis de ressonância poética, Handke ficou mais conhecido por aqui pela longa parceria com o cineasta Wim Wenders, traduzida em filmes…

Cinema e literatura: e no Brasil?
Posts / 02/06/2006

A enquete do “Guardian” sobre os melhores filmes inspirados em obras literárias (veja nota abaixo) chegou a uma lista discutível, como todas são, mas provocou boas discussões aqui na redação sobre como seria trazer esse debate para o Brasil. Resultado: essa lista aí da direita, na qual você está convidado a votar. (A votação se encerrou no dia 14 de junho. Veja o resultado na nota And the Oscar goes to…, ali em cima.)

Os melhores filmes da literatura
Posts / 02/06/2006

Listas, listas, listas. Quem resiste a elas? A última vem de uma consulta aos leitores feita pelo jornal inglês “The Guardian” e entra na boa discussão sobre o que faz uma obra literária funcionar – ou não funcionar – quando transposta para o cinema. O jornal quis saber quais são os melhores filmes da história adaptados da literatura. Vale a pena visitar a lista completa (em inglês), que tem 50 filmes. Vão aqui os cinco primeiros e seus diretores, com o nome do escritor entre parênteses: 1. “O sol é para todos”, de Robert Mulligan (Harper Lee) 2. “Um estranho no ninho”, de Milos Forman (Ken Kesey) 3. “Blade Runner”, de Ridley Scott (Philip K. Dick) 4. “O poderoso chefão”, de Francis Ford Coppola (Mario Puzo) 5. “Vestígios do dia”, de James Ivory (Kazuo Ishiguro).

Saramago: leitura para poucos, polêmica para todos
Posts / 01/06/2006

“Ler sempre foi e sempre será algo para uma minoria”, disse José Saramago ontem à noite, criticando o Plano Nacional de Leitura, um ambicioso projeto que os ministérios da Cultura e da Educação de Portugal apresentam hoje. Programa governamental de incentivo à leitura, para o autor de “Memorial do convento”, é algo que “não é válido, é inútil”. Notícia da Reuters aqui. A ministra da Cultura, Isabel Pires de Lima, reagiu assim que se recuperou do susto com a declaração politicamente incorreta da maior glória das letras lusitanas: “Não vejo como ações que tentam promover e democratizar a leitura sejam vistas como secundárias”. Tocaram, Saramago e a ministra, num debate interminável. É corajoso dizer o que disse o escritor, certamente com enorme dose de razão: programas de “incentivo à leitura” são ótimos para burocratas e rendem encomendas de grandes tiragens a editoras, mas costumam cair no vazio de um sistema educacional – e de um modelo de sociedade, sejamos francos – que simplesmente não valorizam isso. Por outro lado, se o fato – inegável – de que ler sempre foi para poucos conduzir ao imobilismo, será que esses poucos não serão cada vez menos? Isso me fez lembrar de uma…

Depois de Nélida, Auster
Posts / 31/05/2006

O americano Paul Auster ganhou o prêmio espanhol de âmbito internacional Príncipe de Asturias das Letras, no valor de 50 mil euros (quase R$ 150 mil), que ano passado ficou com Nélida Piñon. Chegaram com Auster à final o também americano Philip Roth e o israelense Amos Oz. Notícia completa do site da Fundação Príncipe de Asturias aqui. Tomara que o prêmio ajude a dar fôlego novo ao escritor do Brooklyn. Não estou entre os que gostam de esnobá-lo – uma espécie de esporte intelectual da moda nos últimos anos – porque conservo vivo na memória o prazer que tive em minha fase “austeriana”, quando enfileirei avidamente títulos como “Trilogia de Nova York”, “Leviatã”, “Palácio da Lua” e “A invenção da solidão”. Mas reconheço que nos últimos anos o lado mais chato e autocomplacente do autor, que nunca esteve inteiramente ausente de sua obra, vem levando a melhor. Talvez significativamente, a notícia do prêmio encontrou Auster em Portugal, às voltas não com literatura mas com a filmagem de seu segundo longa-metragem como diretor, chamado The inner life of Martin Frost. O primeiro filme, “Lulu na ponte”, lembra seus piores livros: pose demais para pouca substância.

O escritor e o terrorista
Posts / 31/05/2006

Acho que me senti capaz de compreender a animosidade e o ódio que um fiel do Islã pode ter pelo nosso sistema. Ninguém está tentando ver as coisas por esse ponto de vista. Suponho que eu esteja arriscando o pescoço de várias maneiras, mas talvez seja para isso que existem escritores. Às vezes eu penso: “Por que fiz isso?”. Estou cavucando um assunto que pode ser muito doloroso para algumas pessoas. Mas quando essas sombras me cruzavam a mente, eu dizia: “Eles não podem exigir um retrato mais simpático e, em certo sentido, mais amoroso de um terrorista”. John Updike, 74 anos, um dos principais escritores americanos vivos, fala de seu novo romance, que sai por lá na semana que vem, em entrevista a Charles McGrath no “New York Times” de hoje (cadastro gratuito). O nome do livro é Terrorist. A polêmica, como se vê, é garantida – uma polêmica mais política do que literária, certamente, e no meio da confusão pouca gente deve reparar que o ritmo de thriller é uma novidade surpreendente na carreira do autor. “Terrorista” conta a história de um rapaz de 18 anos, Ahmad, filho de uma americana riponga e de um estudante egípcio de…

Obra-prima cinqüentona: presentes
Posts / 30/05/2006

Nosso livro realiza um impulso difuso nos romances em geral, que em grandes obras do século 20 se torna uma espécie de marca fundamental: a vocação para a totalidade. Toda vez que pensamos nele, devemos pensar também no ‘Ulisses’, de Joyce; no ‘Em Busca do Tempo Perdido’, de Proust; no ‘Berlim Alexanderplatz’, de Alfred Döblin; no ‘Doutor Fausto’, de Thomas Mann; no ‘Quer Pasticciaccio Brutto de Via Merulana’, de Carlo Emilio Gadda; em algum romance de Faulkner; no ‘Século das Luzes’, de Alejo Carpentier, e em poucos outros mais. São obras que tentam dar uma súmula da experiência humana. O trecho acima é tirado do longo artigo que o crítico Davi Arrigucci Jr. escreveu para o magistral caderno especial Grande Sertão: Veredas – 50 anos, publicado sábado passado pelo “Estadão”. Quem puder ter acesso à versão de papel não deve titubear: só lá podem ser lidos os textos de Antonio Candido (escrito em 1956 e avaliando com precisão, em cima do laço, a grandeza da obra), Walnice Nogueira Galvão, Willi Bolle e Mario Sergio Conti, entre outros (ou na versão digital do jornal, para quem for assinante). Aperitivo: com acesso livre no site, além do artigo de Arrigucci, estão os…

Cristine Costa: os bastidores da escrita

O romancista Milton Hatoum, autor dos ótimos “Dois irmãos” e “Cinzas do Norte”, abre amanhã, terça-feira, às 18h30, no Centro Cultural Banco do Brasil do Rio de Janeiro, um ciclo de debates chamado Laboratório do Escritor, dedicado a discutir os bastidores da criação literária. Concebido pelas jornalistas Cristiane Costa e Valéria Lamego, que atuarão como entrevistadoras, o evento apresentará um autor por mês. Depois de Hatoum vão passar pelo CCBB, nesta ordem, Luiz Alfredo Garcia-Roza, Silviano Santiago, Luiz Vilela, João Ubaldo Ribeiro e Lygia Bojunga. A entrada é franca, com distribuição de senhas. Abaixo, Cristiane, autora de “Pena de aluguel – Escritores jornalistas no Brasil” (Companhia das Letras), explica a idéia. Por que pôr escritores para falar do seu processo de criação se os bastidores de um livro, com todo aquele escreve-rasga-reescreve, costumam ser um ambiente meio tedioso? – Em quase toda palestra de escritor a que já assisti, as pessoas acabam perguntando sobre esses assuntos, como uma idéia surge, como um personagem é desenvolvido. A curiosidade é muito grande, mas em geral isso acaba perdido no meio de outros temas e discussões. E achamos que, no final das contas, talvez seja o que mais interessa aos fãs de um…

Lista da Flip está fechada – confira
Posts / 29/05/2006

A lista dos autores que estarão em Parati de 9 a 13 de agosto está fechada. Ainda não há data marcada para a divulgação oficial, mas os últimos nomes, além daqueles que já estavam confirmados (Jonathan Safran Foer, Nicole Krauss, Benjamin Zephaniah, Uzodinma Iweala, Mourid Barghouti e Maria Valéria Rezende), andam vazando por todos os lados. Nem sempre as informações batem. Sábado, a “Folha de S.Paulo” divulgou uma lista (só para assinantes do jornal ou do UOL) com acertos e erros. Os principais acertos: Adélia Prado, o argentino Ricardo Piglia e os americanos Lilian Ross, jornalista, e Edmund White, ficcionista e crítico. Os maiores erros: não confirmar a presença da americana Toni Morrison, único Nobel e principal estrela da festa, que “O Globo” havia noticiado com um tiro na mosca (nota abaixo); e confirmar equivocadamente o nigeriano Chinua Achebe, que de fato foi convidado para compor uma mesa de literatura africana com o também nobelizado Wole Soyinka – mas nenhum dos dois fechou. Ausente das especulações até o momento, também virá a Parati o francês Olivier Rolin, que terá seu romance “Tigre de papel” lançado em breve pela Cosac Naify. Já o supercrítico americano Harold Bloom esteve muito perto de…

Edgar Allan Poe no dia do ‘nevermore’
Posts / 29/05/2006

O gênio americano Edgar Allan Poe inventou praticamente sozinho a literatura de mistério e um bom pedaço da ficção científica, além de ter se tornado pai e mãe do gênero policial ao criar um detetive voltado para a pura dedução, Dupin, que torna Sherlock Holmes pouco mais que um discípulo esforçado. Tudo bem, mas será que isso nos autoriza a imaginar que Poe concebeu o estranho enredo de sua própria morte, de modo a deixar um último mistério – insolúvel – para a posteridade? Ou essa idéia não passa de romantismo, fruto da inclinação que nós, leitores, temos por borrar as fronteiras entre vida e obra dos autores que admiramos? O fato é que Poe foi visto gozando de boa saúde em Baltimore, em 1849, até sumir de circulação. Passou cinco dias desaparecido, e sobre o que fez nesse tempo nada se conseguiu apurar. Quando finalmente o descobriram num hotelzinho-taberna chamado Ryan’s, estava de cama, em estado lastimável, e morreu logo depois. Tinha 40 anos. Charles Baudelaire, seu fã, nunca duvidou de suicídio. Será? A história está no livro The Poe’s shadow (“A sombra de Poe”), de Matthew Pearl, que acaba de sair na Inglaterra, e do qual o Telegraph…

Roberto Pompeu de Toledo: ‘Leda’
Primeira mão / 28/05/2006

O jornalista Roberto Pompeu de Toledo, colunista que há anos toma conta da última página da revista “Veja”, é dono de um dos textos mais literários – no bom sentido – da imprensa brasileira. Era talvez inevitável que acabasse experimentando o romance, como faz agora com “Leda “ (Objetiva, 160 páginas, R$ 27,90). O livro, que conta a estranha relação entre um escritor famoso e seu biógrafo, tem um subtítulo saboroso: “Relato romanesco em 13 capítulos e epílogo, contendo uma versão condensada de ‘A Busca Vã da Imperfeição’”. A seguir, o trecho que abre o romance: Chapéu… Sim, havia um chapéu, de fino feltro negro, elegante chapéu de proteger da friagem e do sol mas também de impor respeito, e os olhares em volta eram de admiração e reverência, quando não enamorados e suspirosos, ou… Não, não tão elegante, na verdade um chapéu pobre e roto, chapéu-coco à Carlitos, divertido, com que se brincava e ria, pondo e tirando, pondo e tirando, mas… eis que da última vez que pousa na cabeça ele começa a apertar, assim machuca, assim não é bom, tenta-se tirá-lo, e agora ele não sai… tenta-se de novo, puxa-se daqui e dali, experimenta-se um golpe mais…

Paulo Coelho esquenta a Sibéria
Posts / 27/05/2006

Nós já sabíamos que (Paulo) Coelho é popular. Suas histórias de busca espiritual venderam tanto no mundo inteiro que os números que costumam ser citados nos jornais (70, 80, 90 milhões?) fazem pouca diferença. Sua tradução é facilitada pelo uso rudimentar, ao modo das parábolas, que Coelho faz da linguagem. Mas mesmo ele e seus editores e divulgadores parecem ter sido apanhados de surpresa pelo entusiasmo despertado nas estepes. John Mullan escreveu no Guardian (em inglês, acesso livre), sem disfarçar o queixo caído, sobre a inacreditável recepção que as mais remotas cidadezinhas da Sibéria estão proporcionando ao escritor brasileiro, cercado por uma multidão sempre que desce de seus dois vagões particulares no expresso Transiberiano – modo de viajar que Mullan compara ao de um “monarca do século XIX”. A imagem procede: Paulo Coelho viaja com uma equipe numerosa que inclui dois chefs internacionais, embora só se refira à aventura como “peregrinação”. Sei não, mas a imprensa brasileira parece ter engolido uma mosca gigante.

Mundo cão
Posts / 26/05/2006

Eu sei que livros (assim como filmes) sobre cachorros sempre tiveram um cantinho seguro no mercado, mas a lista de mais vendidos do “New York Times” (mediante cadastro gratuito) sugere que a cinofilia literária está atingindo uma espécie de apoteose. Em primeiro lugar na lista de não-ficção está Marley & Me, do jornalista John Grogan, que conta a história da atribulada – mas no fim das contas inspiradora e terna, é claro – convivência de sua família com Marley, um labrador neurótico e hiperativo. Na terceira posição da lista de auto(?)-ajuda surge Cesar’s way (“O jeito de Cesar”), em que o apresentador de um programa televisivo de sucesso chamado Dog whisperer (“Sussurrador canino”, aquele que sussurra com cachorros), Cesar Millan, dá lições sobre a psicologia dos totós. Talvez não seja exagero imaginar que a tendência chegará ao ponto de invadir a ficção e nos brindar com novelinhas bitch lit estreladas por poodles cor-de-rosa. Eu seria leitor garantido de um romance policial ultraviolento sobre um serial killer da raça pitbull.

Nem os luandinistas entenderam
Posts / 25/05/2006

Resumindo a fúria dos luandinistas militantes que deixaram comentários na nota ali embaixo, sobre a recusa do Prêmio Camões pelo grande escritor angolano: também não entenderam nada, coitados. Não deviam se amofinar tanto. Ninguém entendeu. Curioso é pensarem que o direito – cristalino, sem dúvida – que Luandino Vieira tem de esnobar um prêmio de prestígio anula o do resto da humanidade de achar que, sem uma explicação razoável, a extravagância fica com cheiro de desfeita, e só. Não digo que seja sua intenção, digo que parece. Uma boa explicação seria, no mínimo, sinal de respeito a José Saramago, Jorge Amado, Pepetela, Miguel Torga, João Cabral de Melo Neto e Sophia de Mello Breyner Andresen, entre outros autores que já ganharam – e aceitaram, onde já se viu – o principal prêmio da literatura em língua portuguesa. Ah, sim: servia uma explicação “pessoal, íntima”, como a que Jean-Paul Sartre apresentou ao recusar o Nobel de Literatura de 1964: “Um escritor deve se recusar a ser transformado em instituição”.

Tirem as crianças da sala: Kurt Vonnegut está na área
Posts / 25/05/2006

Eis aqui uma lição de texto criativo. Primeira regra: Não usem ponto-e-vírgulas. São travestis hermafroditas que não representam absolutamente nada. Tudo o que fazem é mostrar que você esteve na universidade. Percebo que alguns de vocês têm problemas para decidir se estou brincando ou não. Por isso, a partir de agora, vou lhes dizer quando estiver brincando. Por exemplo, ingressem na Guarda Nacional ou nos Fuzileiros Navais e ensinem a democracia. Estou brincando. Estamos para ser atacados pela al-Qaeda. Acenem bandeiras, se as tiverem. Isto sempre parece afugentá-los. Estou brincando. Se querem realmente magoar seus pais e não têm coragem de se tornar gays, o mínimo que podem fazer é entrar para as artes. Não estou brincando. O livro “Um homem sem pátria” (Record, tradução de Roberto Muggiati, 160 páginas, R$ 34,90), coletânea de artigos e crônicas lançada nos EUA ano passado, mostra que o humor extravagante e o verbo afiado de Kurt Vonnegut continuam sendo páreo para Philip Marlowe – mas este era um personagem fictício. E olha que o homem está com 84 anos. Autor de pelo menos uma obra-prima incontornável da ficção americana no século XX, “Matadouro 5” (hoje mais fácil de encontrar por aqui numa edição…

Por que Luandino disse não ao Camões?
Posts / 24/05/2006

O escritor angolano José Luandino Vieira, 71 anos, recusou o Prêmio Camões, o maior da língua portuguesa, no valor de 100 mil euros (quase R$ 300 mil), informou hoje o Ministério da Cultura de Portugal. Luandino alegou “razões pessoais, íntimas”, o que é esquisito. Se a recusa fosse uma atitude política contra a ex-metrópole, seria uma coisa – e não surpreenderia ninguém que conhece a obra ou a vida do angolano, que foi preso pelo regime salazarista e passou oito anos num campo de concentração. Nesse caso, o gesto viria acompanhado de um belo discurso. Mas enjeitar uma grana dessas na moita, alegando razões íntimas, em vez de, digamos, aceitar o prêmio e doá-lo a alguma instituição séria de seu país miserável, é mais difícil de entender.