Aprendo neste artigo da “Slate” (em inglês, acesso gratuito) que o primeiro guia conhecido de auto-ajuda para escritores foi publicado em Londres em 1895 por um jovem chamado Sherwin Cody. Intitulava-se How to write fiction (Como escrever ficção) e dava conselhos como estes:
O público é como uma criança: quer ser tocado emocionalmente ou inconscientemente.
Os homens geralmente pegam um bom tema e o desenvolvem mal, enquanto as mulheres pegam um tema fraco e o desenvolvem bem.
Mas nem tudo eram generalidades tolas. Havia momentos de sensatez diante das incertezas do ofício:
Ninguém deve fazer da escrita de ficção sua única atividade.
E havia também formulações especialmente felizes como esta, que mais tarde ficaria conhecida pelo nome genérico de “não conte, mostre”:
Dizer que sua heroína era orgulhosa e desafiadora não tem nem metade da eficácia de dizer que ela empinou o queixo e bateu o pé.
Se o livro de Cody prova que o mercado dos aspirantes à glória literária, hoje vivendo uma explosão internética, foi descoberto faz tempo, demonstra também que uma certa dose de picaretagem já estava presente nesse mundinho desde o início: publicado sob um pseudônimo (An Old Hand) que sugeria décadas de estrada, How to write fiction dizia na apresentação que seu autor era um “conhecido romancista”. Cody tinha 26 anos e sua bibliografia se restringia a um livrinho de poemas pago do próprio bolso.
5 Comentários
O grande “mistério” da literatura é que o leitor vai gostar de determinado tipo de leitura, dependendo do seu nível de conhecimento literário. Quem escreve pensando de maneira “popular” sempre será mal visto por quem determina a qualidade de uma obra. E quem escreve para conquistar o respeito de uma “cúpula literária”, nunca chegará às mãos de 96% da população. No meio literário, literalmente é impossível agradar gregos e troianos. Porém, uma coisa é verdade, para escrever, o “sujeito” deveria conhecer um pouco (um monte) da história literária do seu país (do mundo), pois o escritor não é um ser isolado e precisa conhecer o que já foi produzido, para, no mínimo, não se iludir achando que está escrevendo a obra-prima da literatura brasileira.
O tempo passa, o tempo voa, o tempo muda, mas como escrever ficção não. Só os escritores de ficção não aprendem. Os de auto-ajuda, há muito.
Uma página do “Grande Sertão: Veredas” de JOÃO GUIMARÃES ROSA vale mais do que cem livros de auto-ajuda.
Possuo vários livros sobre a arte da ficção (escritos por autores de várias partes do mundo, sobretudo americanos e ingleses – mas tenho até escritos por brasileiros, por exemplo Autran Dourado e Raimundo Carrero). Acho-os ótimos. Sempre descubro alguma coisa boa que não sabia ou na qual não tinha ainda pensado. Se não forem encarados como a Bíblia, isto é, a Verdade com vê maiúsculo que não pode ser questionada, não vejo razão para não serem lidos e experimentados…
Escrever para agradar ? Tsc tsc…
Acho que os melhores escritores são os apaixonados pela literatura, pela arte do dizer, pelas possibilidades infinitas do pensamento e da imaginação.