Reproduzo abaixo a mensagem que acabo de receber de Fernando Monteiro, escritor pernambucano citado semana passada aqui no Todoprosa, na nota “É claro que nossos netos vão rir”, por conta da apresentação interneticamente tosca de um folhetim de sua autoria no site do jornal paranaense “Rascunho”. A mensagem repete em linhas gerais os argumentos de um dos editores do jornal, Luís Henrique Pellanda, já publicados aqui: o trabalho em questão foi concebido para publicação em papel, o site é só um subproduto disso – traduzindo, ninguém está ligando para o que vai ao ar no “Rascunho” digital e eu não deveria ligar também. O que, na minha opinião, é confissão de culpa e não atenuante. De novidade, a mensagem do autor do folhetim traz uma crítica genérica e um tanto difusa ao próprio meio eletrônico e aos “debates” (aspas de Monteiro) que ele propicia. Pois é em benefício do debate (sem aspas) que a mensagem de Fernando Monteiro vai aqui na íntegra, sem edição, o que dificilmente ocorreria no espaço contado da imprensa de papel. E também porque, no fim das contas, suas palavras ajudam a entender por que seu folhetim, mesmo tendo caído na rede, se recusa tão obstinadamente a ser tratado como peixe.
Prezado Sérgio Rodrigues:
somente hoje um “internauta” que costuma conferir os “posts” de NOMINIMO chamou a minha atenção para o que, digamos, foi debatido, no seu TODOPROSA, em torno do romance (O Inglês do Cemitério dos Ingleses) que o jornal RASCUNHO, de Curitiba, vem publicando, em capítulos, desde meados do ano passado. E tal “debate”, para mim, apenas veio corroborar a impressão de que o tornar-se uma verdadeira Babel de vozes desencontradas (e apressadas) pode ser mesmo uma das virtualidades da Internet – na qual se fala de tudo, muitas vezes de forma intempestiva e equivocada.
No caso do nosso romance, ficou parecendo que o texto foi escrito para ser lido num micro e não numa velha folha impressa, onde os olhos podem descansar, e que pode ser riscada, sublinhada, dobrada para entrar no bolso ralado de uma calça jeans e também rasgada para se tocar fogo e acender uma fogueira de São João, dessas que vão se apagando, de ano para ano, nos arrabaldes.
Talvez a própria literatura seja (ou tenha se tornado, muito recentemente) também uma pira de fogo, cada vez mais morta, longe da página que não precisa de “se acessar” da maneira como se faz com os babélicos blogs da Web pupulante de vozes como a ilha de “Lost”.
Seja como for, escrevi “O Inglês do Cemitério dos Ingleses” em PAPEL (ainda), e para ser lido no mesmo – talvez usado, cedo ou tarde, por algum mendigo, na sua higiene (?). O que estava, aliás, de certo modo previsto, ao começarmos a publicação (em julho de 2005), SEM capítulo nenhum arquivado “online” até que alguns leitores, com o passar dos meses, solicitaram justamente isso: a chance de ler os capítulos perdidos, por um ou outro motivo.
Foi simplesmente isso que levou Rogério Pereira e Luis Henrique Pellanda – editores do RASCUNHO – a “linkar” (é esse o feio verbo?) as partes publicadas, pudendas ou não…
Por essa boa intenção, estiveram ambos pagando caro, no TODOPROSA -juntamente com o autor do livro -, como se fossemos “colegiais” (segundo um dos “debatedores”) etc.
Por essas e outras, é que a Internet parece herdeira de Chacrinha: veio mais para confundir, parece, do que para explicar.
No “Velho Guerreiro”, isso poderia ser uma qualidade. No NOMINIMO, todo prosa, isso se tornou, neste caso, um defeito de informação equivocada – me permita lamentar, com todo respeito e admiração.
Grato pela divulgação,
Fernando Monteiro
4 Comentários
está solucionada a questão: foi um mal-entendido, se bem entendo. uma falta de informação, uma meia-verdade, e a re-re-reconstatação de que, neste meio, apenas ‘objetos’ de baixa intensidade, fácil assimilação e curto desenvolvimento produzem resultados eficientes (?).
a propósito, o “colegiais” foi por minha conta. e não fosse o autor da obra ‘lançada à fogueira’ apresentar, furibundo, o ‘detalhe’ que muda (um pouco mas nem tanto) a figura do caso, sustentaria minha posição sem titubear: a visualização das páginas com o texto e sua estruturação de busca no site só seriam piores se estivessem em chinês.
de resto, não investi contra seu conteúdo: que me pareceu, no pouco que pude ler, honesto e esforçado como a seleção de Gana.
O Monteiro está com razão:
foi criada uma suposta necessidade de utilização de textos na internet, que o Monteiro achou que não se aplicava à sua obra. Ponto para ele.
Mas o Rodrigues escreveu que a internet sendo toda multimídia deveriam os autores incrementar seus textos com esses recursos. Ponto para o Rodrigues.
Mas o que importa é que nós, leitores da internet, possamos escolher os textos e lê-los de acordo com nossos gostos. Merecemos ponto?
mas, Marcos:
e se as possibilidades ainda não estiverem todas testadas, desenvolvidas, se a internet ainda for – e não é ? – um caldeirão de potencialidades mal digeridas, peneiradas… como avaliar se merecemos ponto? se a nossa participação ainda escreve o sucesso ou fracasso da iniciativa?
não é cedo demais para encerrarmos a questão? em verdade, não faz dez anos que existe internet. não como a conhecemos, hoje. é tudo muito novo, muito mal pensado, titubeante. só o fato de escrever num teclado, observando uma tela pequena e plana (bidimensional)… me parece irresistivelmente anacrônico.
é tudo achismo – aceito. vejamos o que virá.
aliás, pra terminar: bem que o Monteiro, ao invés de se ofender com as “apressadas especulações” sobre sua obra (que realmente aconteceram, não nego), poderia aproveitar para investir mais na nova mídia, e reverter a má impressão causada. já saiu na frente: ganhou uma pesquisa de opinião de graça.
F. Monteiro, que me desculpe, mas a exposição de motivos não justifica o fato de que a apresentação do trabalho (estrutura, forma) continua aquém das expectativas de material a ser colocado a disposição na web. Os recursos de hipermídia existem e, no caso de divulgação de um trabalho, numa revista literária, penso, nao deve prescindir dos mesmos recursos.