O caderno Prosa & Verso do “Globo” publicou uma polêmica reportagem de capa, sob o título “Olha a gente aqui outra vez” (todos os textos estão reproduzidos no blog do caderno), questionando o “alto índice de repetições” de autores nacionais no elenco da Flip este ano. O repórter Miguel Conde fez as contas e descobriu que “dos dez escritores brasileiros que participarão das mesas literárias até o encerramento no dia 8 de agosto, nove estiveram em edições anteriores do evento – a romancista Carola Saavedra é a única estreante do grupo”.
Uma respeitável estreante, pelo menos isso, pode-se argumentar. Entrevistado pelo jornal, o diretor de programação da Flip, Flávio Moura, optou por outro caminho. Declarou que os brasileiros estreantes no evento concentram-se fora das áreas de ficção e poesia, pois a programação tem “um peso maior que de costume na parte de não-ficção, o que se deve à homenagem a Gilberto Freyre”.
Como alguém que tem a deformação profissional de atribuir mais importância à ficção do que a qualquer outra forma de escrita, eu já vinha lamentando que a Flip 2010 não seja uma das mais cintilantes nesse aspecto, e não só no caso dos brasileiros. Menos ainda se tornou depois que o italiano Antonio Tabucchi cancelou sua participação.
Não se trata de um problema sério ou uma prova de desprestígio da literatura. Quem vai dizer que Salman Rushdie, A.B. Yehoshua, Colum McCann, William Boyd e Lionel Shriver formam um time desinteressante de ficcionistas? E o cartunista Robert Crumb, estrela maior da festa, é especialmente bem-vindo num momento em que, com vinte anos de atraso, a tsunami das graphic novels parece ter finalmente chegado ao Brasil – há muitas formas de dialogar com a ficção contemporânea, afinal.
Resta assim a questão da repetição de nomes nacionais. Estaria havendo um esgotamento? A lista dos autores brasileiros que “ainda não foram” à Flip, também disponível no blog do Prosa, mistura tudo: desafetos públicos do evento, como João Ubaldo Ribeiro e Marcelo Mirisola; grandes vendedores de livros que, convidados, disseram não, como Paulo Coelho e Lya Luft; e gente que nunca foi chamada mesmo – estes são tantos que a lista do jornal falha inevitavelmente por omissão, criando sem querer uma nova categoria, a dos autores que não foram lembrados nem pela Flip nem pelo “Globo”.
O tema é controverso e tende ao interminável, o que deve lhe garantir lugar na pauta de conversas flipeiras dentro de poucos dias. De minha parte, preocupa-me mais que a tradicional mesa de quinta-feira dedicada aos escritores brasileiros seja, à primeira vista, pouco coesa do que o fato de os três autores – Reinaldo Moraes, Ronaldo Correia de Brito e Beatriz Bracher – estarem indo a Parati pela segunda vez.
Um comentário
Adoro as frases que sintetizam a ideia geral do texto: “há muitas formas de dialogar com a ficção contemporânea, afinal”. Espiarei a FLIP por aqui. Espero que esteja curtindo por aí 🙂 Abss! Eric