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Barbie e Ken vão à livraria

22/10/2006

Entre na sua livraria de sempre. Uma bancada estará provavelmente inundada de tons pastéis, letras bordadas e títulos que falam de compras, sapatos e mamães apetitosas: é o canto das meninas. Outra mesa exibe cores agressivas e capas que mostram helicópteros, soldados, lasers e caveiras – o canto dos garotos.

Fico exausta só de olhar para isso – será que os hábitos de leitura de homens e mulheres cabem em clichezinhos tão banais? Por que, oh, por que qualquer mulher moderna compraria um livro com uma capa lilás?

O blog de literatura que Ceri Radford mantém no site do jornal inglês “Daily Telegraph” vale uma visita. O olhar da moça tem freqüentemente uma candura que faz falta nesse mercado povoado de gente calejada que finge que já leu tudo, que nada mais é motivo de espanto. Ceri preserva uma qualidade fundamental em qualquer repórter, a capacidade de estranhar.

Embora pareça, nessa nota ela não está falando de literatura infantil ou infanto-juvenil. Está falando de certos tipos popularíssimos – mais febrilmente consumidos lá do que aqui, é verdade – de ficção para adultos.

As raízes dos clichês que deprimem a blogueira são profundas: a nota me fez lembrar que, criança, eu já reparava no muro de Berlim encravado na banca de jornal, com romances Sabrina numa prateleira, ficção barata de guerra e faroeste na outra.

Se o início da divisão dos leitores em dois ambientes, o rosa e o azul, se perde no passado mais remoto que se consiga conceber, acho que tem culpa em sua apoteose de hoje no mercado anglo-americano uma crítica acadêmica supostamente séria e profunda que, de trinta anos para cá, passou a adotar questões de gênero e sexualidade como critérios fundamentais da apreciação literária.

Sem querer, a crítica pode ter dado à divisão do mundo entre Barbies e Kens o verniz intelectual que lhe faltava.

10 Comentários

  • rita 23/10/2006em10:43

    Na mosca!!!

  • Saint-Clair Stockler 23/10/2006em12:31

    Ah, mas eu acho que só fica sujeito a essa divisão quem quer: com 14 anos eu já lia Borges e Voltaire (e, de vez em quando, porque também gosto, um Sidney Sheldon ou Harold Robbins) sem me preocupar muito com as tais divisões “rosa” e “azul” ou mesmo entre “baixa” e “alta” literatura. Se alguém se deixa vitimizar por isto, é muito ingênuo.

  • joao gomes 23/10/2006em16:46

    pois é minimalismo leva o homem ao animalismo… e/ou… …animismo.

    mas nem tudo esta perdido.

  • Clarice 23/10/2006em17:13

    Confesso que só lia a “alta” literatura. Mas consegui este ano ler 6 autores da lista de bst-sellers. Foi uma libertação.

  • anrafel 23/10/2006em18:38

    Essas técnicas de marketing que visam facilitar a venda de livros são tolas e reducionistas. Livro não é sabonete. Infelizmente, a vida hoje parece não andar se não tiver um publicitário/marketeiro por perto.

    O importante é ler. O funil do critério de qualidade será mais largo quanto maior o tempo disponível para a leitura. Fui um voraz consumidor dos bolsilivro da Editora Monterrey, com preponderância dos policiais FBI. Não me arrependo e acho que não perdi tempo. Com pouca idade não dá mesmo para aproveitar a argúcia psicológica de Machado de Assis ou as experiências formais de Guimarães Rosa. Tudo vem a seu tempo e o bom leitor nunca pára de crescer.

  • Clarice 23/10/2006em19:16

    (…)”a vida hoje parece não andar se não tiver um publicitário/marketeiro por perto.”(…)
    anrafel,
    uffa! Em tudo, em tudo. Até na medicina. Esta história de nova tabela para nível de glicose é coisa inventada por laboratório para vender mais remédio. É!!! Estão criando doenças para ganhar mais dinheiro. Medicina está na mão da Indústria Farmacêutica. A OMS não liga, lucra. A FDA idem… políticos, chefes de estado… Já tem até relatório a este respeito completíssimo feito pelo Parlamento Britânico. Mas quem vai querer parar de lucrar?
    Desculpe Sérgio mudar de assunto mas saúde é um bem que a gente esquece a importância. Uma dor de cabeça… a gente não consegue ler. E não trabalha mais… rsrs

  • joao gomes 24/10/2006em09:07

    …pois é o filme “o jardineiro fiel”, acho que toca neste ponto. (tinha um outro filme que nao me lembro o nome onde produtores fazem uma guerra de mentira e tentam passar na TV como sendo de verdade. coisa de cinema americano e que com a Ascensao de G.W. Bush II soa como profetico.) Com os marketeiros de plantao nao existe mais o mal, nao existe mais problemas. …seus problemas acabaram nao diz a poderosa Organizacao Tabajara International ??

  • Clarice 24/10/2006em15:44

    joao gomes,
    “O Jardineiro Fiel” trata disso sim. Bush pai ganhou muita grana pois já fez parte do quadro de diretoria do laboratório do Prozac. Assim como o papai Kennedy que gez fortuna com a lei seca.

  • joao gomes 24/10/2006em17:18

    …e pensando melhor acho que a Tabajara é o alter ego da Globo. alias, aquele globo bichado que aparece no programa é , talvez, um alerta para o telespectadores que no futuro, assim sera seus cer…

  • Clarice 25/10/2006em11:27

    “acho que a Tabajara é o alter ego da Globo.” rsrsrsrs…
    joao gomes, joao gomes,
    mais uma para a coleção.