Entre na sua livraria de sempre. Uma bancada estará provavelmente inundada de tons pastéis, letras bordadas e títulos que falam de compras, sapatos e mamães apetitosas: é o canto das meninas. Outra mesa exibe cores agressivas e capas que mostram helicópteros, soldados, lasers e caveiras – o canto dos garotos.
Fico exausta só de olhar para isso – será que os hábitos de leitura de homens e mulheres cabem em clichezinhos tão banais? Por que, oh, por que qualquer mulher moderna compraria um livro com uma capa lilás?
O blog de literatura que Ceri Radford mantém no site do jornal inglês “Daily Telegraph” vale uma visita. O olhar da moça tem freqüentemente uma candura que faz falta nesse mercado povoado de gente calejada que finge que já leu tudo, que nada mais é motivo de espanto. Ceri preserva uma qualidade fundamental em qualquer repórter, a capacidade de estranhar.
Embora pareça, nessa nota ela não está falando de literatura infantil ou infanto-juvenil. Está falando de certos tipos popularíssimos – mais febrilmente consumidos lá do que aqui, é verdade – de ficção para adultos.
As raízes dos clichês que deprimem a blogueira são profundas: a nota me fez lembrar que, criança, eu já reparava no muro de Berlim encravado na banca de jornal, com romances Sabrina numa prateleira, ficção barata de guerra e faroeste na outra.
Se o início da divisão dos leitores em dois ambientes, o rosa e o azul, se perde no passado mais remoto que se consiga conceber, acho que tem culpa em sua apoteose de hoje no mercado anglo-americano uma crítica acadêmica supostamente séria e profunda que, de trinta anos para cá, passou a adotar questões de gênero e sexualidade como critérios fundamentais da apreciação literária.
Sem querer, a crítica pode ter dado à divisão do mundo entre Barbies e Kens o verniz intelectual que lhe faltava.
10 Comentários
Na mosca!!!
Ah, mas eu acho que só fica sujeito a essa divisão quem quer: com 14 anos eu já lia Borges e Voltaire (e, de vez em quando, porque também gosto, um Sidney Sheldon ou Harold Robbins) sem me preocupar muito com as tais divisões “rosa” e “azul” ou mesmo entre “baixa” e “alta” literatura. Se alguém se deixa vitimizar por isto, é muito ingênuo.
pois é minimalismo leva o homem ao animalismo… e/ou… …animismo.
mas nem tudo esta perdido.
Confesso que só lia a “alta” literatura. Mas consegui este ano ler 6 autores da lista de bst-sellers. Foi uma libertação.
Essas técnicas de marketing que visam facilitar a venda de livros são tolas e reducionistas. Livro não é sabonete. Infelizmente, a vida hoje parece não andar se não tiver um publicitário/marketeiro por perto.
O importante é ler. O funil do critério de qualidade será mais largo quanto maior o tempo disponível para a leitura. Fui um voraz consumidor dos bolsilivro da Editora Monterrey, com preponderância dos policiais FBI. Não me arrependo e acho que não perdi tempo. Com pouca idade não dá mesmo para aproveitar a argúcia psicológica de Machado de Assis ou as experiências formais de Guimarães Rosa. Tudo vem a seu tempo e o bom leitor nunca pára de crescer.
(…)”a vida hoje parece não andar se não tiver um publicitário/marketeiro por perto.”(…)
anrafel,
uffa! Em tudo, em tudo. Até na medicina. Esta história de nova tabela para nível de glicose é coisa inventada por laboratório para vender mais remédio. É!!! Estão criando doenças para ganhar mais dinheiro. Medicina está na mão da Indústria Farmacêutica. A OMS não liga, lucra. A FDA idem… políticos, chefes de estado… Já tem até relatório a este respeito completíssimo feito pelo Parlamento Britânico. Mas quem vai querer parar de lucrar?
Desculpe Sérgio mudar de assunto mas saúde é um bem que a gente esquece a importância. Uma dor de cabeça… a gente não consegue ler. E não trabalha mais… rsrs
…pois é o filme “o jardineiro fiel”, acho que toca neste ponto. (tinha um outro filme que nao me lembro o nome onde produtores fazem uma guerra de mentira e tentam passar na TV como sendo de verdade. coisa de cinema americano e que com a Ascensao de G.W. Bush II soa como profetico.) Com os marketeiros de plantao nao existe mais o mal, nao existe mais problemas. …seus problemas acabaram nao diz a poderosa Organizacao Tabajara International ??
joao gomes,
“O Jardineiro Fiel” trata disso sim. Bush pai ganhou muita grana pois já fez parte do quadro de diretoria do laboratório do Prozac. Assim como o papai Kennedy que gez fortuna com a lei seca.
…e pensando melhor acho que a Tabajara é o alter ego da Globo. alias, aquele globo bichado que aparece no programa é , talvez, um alerta para o telespectadores que no futuro, assim sera seus cer…
“acho que a Tabajara é o alter ego da Globo.” rsrsrsrs…
joao gomes, joao gomes,
mais uma para a coleção.