Mario Vargas Llosa prevê (em inglês, acesso livre) uma fase áurea e “muito estimulante” para a literatura, agora que, em sua opinião, o mundo será inteiramente mudado por uma crise financeira que está “apenas começando”. O escritor peruano defende a tese de que “grandes traumas” estimulam a criatividade dos escritores. Isto é (ele não acrescentou, mas acrescento eu), dos que conseguem sobreviver.
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Acho que não era bem isso que Vargas Llosa tinha em mente, mas, por ocorrer no meio do derretimento mundial da grana, tem provocado controvérsia no mercado editorial americano uma epidemia de adiantamentos milionários (em inglês, acesso livre) para humoristas da televisão. Tina Fey, a imitadora de Sarah Palin, levou 6 milhões de dólares por uma “coletânea de ensaios cômicos”. Sarah Silverman, aquela que “comeu o Matt Damon”, teve que se contentar com 2,5 milhões, mas especula-se que Jerry Seinfeld vai embolsar 7 milhões.
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Leitura recomendada: Fome, de Knut Hamsun. (Mas também pode ser a do Tibor Moricz.)
26 Comentários
Em tempos de crise, os primeiros gastos que as pessoas cortam são os supérfluos: biscoito, jornal e, infelizmente, livros. O futuro será negro para o mercado editorial! Isso na minha humilde e desqualificada opinião….
Onde eu me inscrevo para receber um desses adiantamentos?
Knut Hamsun foi simpatizante do nazismo. Escreveu sobre Adolf Hitler: “Ele era um guerreiro, um guerreiro pela humanidade e um profeta da verdade e da justiça para todas as nações”.
Sim, Fat James, esse lado negro do Knut Hamsun é bem conhecido. Segundo aquela escola ‘Caras’ de crítica literária que considera Hemingway um merda, isso deve bastar para condená-lo ao inferno da não-leitura por toda a eternidade. O que é uma estupidez. Knut Hamsun foi um monumental escritor e ‘Fome’ é um dos livros mais influentes do século XX.
Também li “Fome” e o acho um grande livro. Sem querer seguir a escola Caras, Hamsun e Céline são escritores fabulosos, mas tinham uma visão política equivocada, pra dizer o mínimo…
Equivocada é pouco. Desastrosa, indefensável. Eles estão em farta companhia, aliás. Mas isso é biografia, literatura é outra coisa.
“Escritor nacional ganha tão pouco que comprar livros no Brasil devia ser considerado redistribuição de renda”.
Viu? Mais um pouco e eu posso virar um comediante rico . 🙂
Tá, mais um muito.
A crise estimulou o aumento de consumo de psicotrópicos legalizados… vai ver é assim que os escritores entrarão nessa onda criativa… no divã. Abs!
ps. thanks!
Minha nossa! O link do livro Fome remete a uma resenha que não diz nada com coisa nenhuma!
PS: Graças à seção Começos Inesquecíveis, adquiri o livro O Mistério do Leão Rampante e ganhei a semana. Que leitura tão breve e prazerosa! Obrigado, Sérgio.
E eu aqui precisando de uns míseros R$ 10.000,00 para bancar a publicação de um livro meu…
os outros são MUITO duvidosos….mas jerry seinfeld tem credencial
Pegando carona no comentário de fat james: há poucos dias, recebi o seguinte material como “resposta” a um video do GB Shaw q tenho disponível no meu canal do YouTube:
Nada de que eu já não tivesse ouvido falar. Penso que, para política, biografia e afins, são bastante pertinentes essas discussões sobre Céline e o nazismo, Pound e o fascismo, Jorge Amado e o stalinismo, etc. Mas, no tocante à competência literária, elas acabam gerando um comportamento que considero um tanto irritante, do tipo “Esse Joseph de Maistre era um péssimo escritor, pois defendia a Inquisição” ou “O escritor X é excelente, pois é vegan e financia campanhas contra a caça de baleias”.
Nossa! Que bacana, Sérgio. Muito simpático da sua parte. E surpreendente. Ganhei o dia!
Acho engraçado que todo mundo sempre lembre do lado podre de Hamsun, Céline e companhia e nunca mencione a amizade do García Márquez com o Fidel Castro e sua anuência com as crueldades cometidas nos porões de Havana. Não estou defendendo nenhum fascista, pelo contrário. Apenas gostaria, como o Sérgio também, imagino, que fosse possível lembrar desses grandes autores apenas por seus grandes livros.
Aliás, sem querer fazer autopropaganda, mas já fazendo, escrevi um texto na Bravo! tentando mostrar por que Ernst Jünger, historicamente tido como nazista e apoiador de Hitler, não era exatamente isso: http://bravonline.abril.com.br/conteudo/literatura/livrosmateria_398350.shtml
Não sei como escritora, mas como roteirista de TV Tina Fey é absolutamente brilhante. 30 Rock é a melhor série humorística que já assisti e freqüentemente faz com que eu me sinta grata por poder assistí-la.
Sérgio, alguns grandes escritores ou artistas foram grande idiotas em sua biografia. Pessoas muito legais foram péssimos escritores. Houveram todas as combinações possíveis para provar que literatura é uma coisa e biografia é outra. Concordo com vocÊ embora não conheça o Knut Hamsun.
Mais uma vez, parabéns ao Tibor!
Aaaaaaaaaaaaaaah, agora entendi o porquê de ter caído aquele temporal ontem no Rio de Janeiro!
rsrsrsrs
Nossa, acho que todos nós que vimos sempre aqui ficamos emocionados com a menção ao Tibor. E verdes de inveja, claro, como bons escritores de enésima linha e postulantes à rara menção do Todoprosa, rsrs. Valeu, Sérgio. Parabéns, Tibor. Não li ainda o link do Vargas Llosa, mas o engraçado é que eu estava pensando no outro dia não na crise financeira, mas na crise de valores que deveria acompanhá-la (num mundo ideal), o que, de acordo com meu torto e esperançoso raciocínio e seu dom de (me) iludir, levaria a uma neovalorização da boa literatura enquanto forma superior de entretenimento, ufa, em detrimento dessa praga alucinógena de best-sellers banais que invadiu as nossas prateleiras, vai sonhando (de acordo com este post vai ocorrer exatamente o oposto, pena…).
Ok. Vamos separar as duas coisas. Só não é verdade que não se lembre TODOS OS DIAS que Garcia Marquez é amigo de Fidel.
Não sou do tipo que quando convidado a se sentar já vai tirando as botas e deitando, mas faltou um link com a capa do livro, que ficou do caaaaaaraaaaaca.
Desculpa aí, Sérgio, prometo me redimir futuramente.
http://aguarras.com.br/2008/11/05/fome-de-tibor-moricz/
Cliquem na capa para vê-la ampliada.
pois é, mas também acho que a biografia do Vargas Llosa não é tão bacana também, mas sou leitor assíduo dele…
Não costumo postar muito, mas leio bastante o blog, e sendo assim, parabéns pelo sucesso Tibor…. (não consegui abrir o link…)
Obrigado, Andre. O link abre normal aqui pra mim… porque será? 🙁
O italiano Giovanni Papini, autor de Gog e Magog, é outro “maldito” pelos flertes com o nazi-fascismo. No Brasil há vários nomes ilustres que defenderam, à esquerda ou à direita, regimes totalitários. Os modernistas de 22 se dividiram em campos radicalmente opostos.. Sob a égide da “arte moderna” se reuniram (futuros) nazi-fascistas e comunistas.
Mas, historicamente, Vargas Llosa tem certa razão. Grades artistas surgem em momentos de crise (mesmo que morram na miséria e sejam reconhecidos muitos anos depois…).
Eis uma das verdades mais profundas da literatura (muito pouco lembrada ou ostensivamente ignorada): GENTE RUIM TAMBÉM PODE FAZER BOA LITERATURA.
Aliás, não sei se era a isso que o meu amado Gide estava pensando, mas acho que a citação não fica deslocada: “É com bons sentimentos que se faz literatura ruim”.
OLA NAO PERCEBI NADA LOL