O subtítulo da reportagem de Leon Neyfakh para “The New York Observer” (via Gawker) torna a leitura simplesmente obrigatória: “Carregar ‘2666’ de Bolaño é como dirigir um Porsche conversível”.
Como? Onde? Que paraíso é esse em que a prova de um romance charmoso que ainda não foi lançado (lá, claro) tem o mesmo poder de atração sobre o sexo oposto que os maiores símbolos de status jamais fabricados pelo engenho humano?
Segundo a reportagem, o metrô de Nova York. Um lugar tão coalhado de belos jovens livrescos de ambos os sexos que um livraço inédito discretamente exibido vale mais que uma rebuscada dança do acasalamento.
Bom, acaba que a história não é bem assim. O texto é muito divertido e sai testando sua hipótese com homens e mulheres, todos ligados à indústria editorial ou ao jornalismo cultural – quem mais teria acesso a provas tipográficas que valem por um carrão? O resultado é o retrato de um mundo de sonhos para ratos de livraria: quem disser que a literatura não tem nada a ver com sedução (como demonstra a pesquisadora) está mentindo.
Excitante, mas alienígena. Não adianta tentar repetir o truque entre Botafogo e Central.
De qualquer forma, a hipótese do repórter fica longe de ser cabalmente provada no fim:
Enquanto isso, Ali Heifetz, editora assistente da Norton, disse que, embora nunca tenha sido levada a abordar alguém com base na prova que a pessoa estava lendo, não descarta a idéia. “Se e quando eu visse um cara bonito lendo uma prova no metrô”, ela disse, “ele me pareceria mais atraente do que o mesmo cara sem ler uma prova.”
Até aí, tudo bem.
“Mas menos atraente do que o mesmo cara carregando um estojo de guitarra”, acrescentou ela.
Pô, ainda esse papo de guitarra? Só faltou falar em saxofone. Coisa mais antiga…
28 Comentários
Adorei, Sérgio. Morei em Nova York e adorava ficar xeretando a leitura alheia. E se a pesquisa fosse comigo, os candidatos literatos teriam muuuuito mais chance do que os músicos! 🙂
Reconfortante saber disso, Isabel. Nem tudo está perdido. Um abraço!
Que livro vc está lendo, Isabel?
Boa tentativa, Reinaldo: o Todoprosa virar ponto de encontro seria um desdobramento lógico deste post. Falta você responder, Isabel. (E aqui entraria uma carinha sorridente, se eu levasse jeito para emoticon.)
Tô conhecendo o blog hoje. Gostei e voltarei a visitar.
Quanto à leitura, é um mundo á parte. Possibilidades de ter outras vidas. Também “bisbilhoto” livros em mãos alheias, é um vício,rs.
Vida longa ao blog!
se todos lessem mais livros ao invés de verem mais televisão talvez não existisse tantos alienados…
Muito legal o post!
Adoro um bom livro… MAS GRAÇAS A DEUS COMPREI MINHA GUITARRA!!! rsrsrsrsrs
Abs,
Muito bom!!!!! Literatura e sedução tudo a ver…
Taí uma coisa que eu nunca experimentei. Nunca vi ninguém num ônibus lendo algo que me fizesse começar a conversar com ela. E, com quase 100% de certeza, posso afirmar que o único lugar onde um 2666 em português causasse frisson fosse na Flip. Provavelmente, nem numa faculdade de Letras brasileira, o volume iria chamar atenção.
Acredito que para toda a situação existe uma oportunidade. Vai de cada um abrir seus horizontes, e estamos esquecendo que no Brasil o hábito de leitura é pífio então não é de se estranhar que não ocorra esse tipo de iniciativa de consquista baseada em alguém que goste de ler.
E para a galera que se liga em música, antes de tudo ela é uma forma de literatura, mesmo na partitura, então basicamente acaba se gostando mesmo é de uma crônica em forma de melodia e música depois, mas antes ela é literatura.
Há espaço para todos…para quem gosta de alguém que saiba cozinhar ou lecionar até para os básicos que gostam de instrumentos ou para alguém que gosta de ler, vai do momento e de ter mente mais aberta para toda e qualquer oportunidade, afinal o coro que mais se ouve é o de que o que vale mesmo é ser feliz.
Me sentia atraìda por um cara mis velho que costumava ler no onibus… quando puxei conversa , descobri que era interessante mais tìmido demais. Uma unica vez me deu um beijo no rosto .Costumava dizer que as mulheres se apaixonam por caras errados, embora tenham amigos certos.
Oi, Reinaldo. Estou lendo Os Insones, do Tony Bellotto. Caso típico da literatura de entretenimento de que falava o post abaixo… 😉 (valeu o emoticon, Sérgio?)
Concordo plenamente que Literatura e sedução andam lado a lado (pelo menos no meu caso!).
Não existe (quase) nada mais excitante do que um homem lendo uma poesia! 🙂
Agora eu també estou curioso.
Que Livro você está lendo isabel?….
Parabéns, Sergio.
Muito boa o post.
Vida Longa ao Blog.
Abraços Literários a todos
Guitarra? Não poderia ser cello? Maldita cultura pop. 😀
A literatura realmente fascina na semana passada eu estava lendo na barca e fui paquerada só por causa do livro.rsrs
Há alguns dias, fiz o trajeto São José dos Campos-Guaratinguetá (minha cidade natal) lendo no ônibus o meu recém-adquirido A Vida Breve, do uruguaio Juan Carlos Onetti, e não causei impressão alguma. Nem o fato de o livro ser relativamente grosso (cerca de 400 páginas) chamou a atenção de minha companheira de poltrona.
cabalmente?
isso é português ou espanhol?
Eu, se estivesse lendo, e chamasse a atenção pelo fato, nunca ficaria sabendo disso, a não ser que a dita cuja me tocasse no braço. Caso apenas me cuidasse, olhar incandescente e tudo, não ia adiantar. Eu não perceberia: estava lendo.
já li livro de todos os tipos em frente de muita gente e posso te garantir que nunca consegui nada com as garotas! a única garota que a minha leitura consegui mexer, foi a minha mãe, e olha só, ela mandou fechar o livro e me mandou estudar para crescer na vida! que situação dificil é ser leitor no Brasil!
Dona de casa, Todoprosa também é cultura: cabal, adjetivo de dois gêneros, palavra registrada em português desde o século 17. Vem de cabo, a parte final, substantivo que nesta acepção é mais usado hoje nas locuções “ao cabo de” e “dar cabo de”. Cabal quer dizer completo, absoluto, definitivo. Portanto, na forma de advérbio empregada aqui, “de modo pleno, acabado”. Um abraço.
Fabão Santiago, arrasou!
Cezar Santos, Todoprosa também é cultura: o aumentativo de Fábio é Fábiozão, não Fabão.
Um abraço.
Humm. Eu convido pra ler alguma coisa comigo, em casa.
(Todo mundo driblando você, Sérgio; conforme-se)
Não entendi, Shirlei. Fico burro às vezes. Dá pra explicar?
Falou, Rafaelão ou Rafaelzão…escolha aí.
paulo polzonoff jr » Blog Archive » O charme dos intelectuais
Sou nova por aqui, mas não resistí em dizer ao Bruno e ao Fábio que, lendo os comentários deles, tive a impressão de que quem ler em lugares públicos(como ônibus) faz isso pra chamar a atenção das pessoas, E NÃO É. Pelo menos pra mim, trata-se de aproveitar cada oportunidade de saciar essa sede que a leitura provoca…E olha, se as pessoas que estavam próximas de vocês nem sequer deram uma “espiadela” no tesouro que tinham nas mãos, ou vocês estavam muito absortos na história ou elas não eram pessoas tão interessantes assim. Comigo funciona desse jeito.
Como diz o Paulo (eu adorei!!):
“Abraços Literários!!!”